Democratizar o acesso à cidade na sua complexidade e transversalidade é o termômetro para indicar o grau de apropriação da diversidade e pluralidade cultural pelo conjunto da população. Acessar a cidade, transita para além da urbanização e mobilidade urbana, o que requer a ruptura com a exclusão e a desigualdade social e ao mesmo tempo com os mecanismos de gestão participativa e decisória
A produção de uma cidade economicamente desigual gera uma apropriação desigual da produção cultural, o que necessariamente evidencia as contradições irreconciliáveis do modo de produção capitalista e aponta a luta pela democratização da sociedade como parte do processo de transformação social, econômica e das relações de poder.
Evidentemente que a cultura e o direito à cidade compõem estruturas que se entrelaçam. Porém são traçados caminhos desconexos entre as políticas de acessibilidade a cidade, criando quadrados sociais e desintegrados.
Claro que existe uma cidade invisível, excluída, silenciada, vulnerável e sistematicamente oprimida e explorada, em que a elite econômica insiste em colocar como adereço do seu poder.
Os equipamentos públicos, como escolas, teatros, museus, galerias, praças, auditórios, universidades, centros de assistência social, quadras esportivas, etc, são instrumentos desse processo de democratização da produção simbólica historicamente erguida pela humanidade.
Ao mesmo tempo, temos que nos questionar: Esses equipamentos existem? Quais as condições? Como são os seus processos de circulação e continuidade das suas ocupações? Quais as suas perspectivas políticas e pedagógicas de sociedade? Como inclui a diversidade e a pluralidade estética, literária, artística, filosófica, científica e cultural? Existe uma cultura de pertencimento coletiva desses equipamentos?
A história das sociedades divididas em classes sociais distintas e antagônicas têm demonstrado que predomina hegemonicamente e ideologicamente uma cultura orientada aos interesses da classe dominante para a sua manutenção no poder e ao mesmo destina para a cidade negada uma embriaguez cultural capaz de produzir subnutridos da cultura.
As forças do capital quando evidenciam a cultura enquanto produção artística é para poucos e quando pensam na sua dimensão de reprodução da vida a criam de forma esquartejada espacialmente e socialmente.
O termômetro para medir o usufruto da cultura na sua extensão ampla e que possibilite tornar o erudito uma apropriação popular é marcado pelo direito de acessar e gestar a cidade de forma coletiva.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri