Mesmo com a diversidade de opções de comunicação, principalmente com a chegada da tecnologia digital, o serviço postal, prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), ainda é uma necessidade básica. No entanto, apesar da Constituição Federal assegurar a entrega postal a todos os brasileiros, milhares de cearenses não dispõem do serviço. Em Quixadá, no Sertão Central, os carteiros não batem à porta de pelo menos 1.400 famílias do Residencial Rachel de Queiroz.
O conjunto foi inaugurado há mais de um ano. No entanto, até hoje nenhuma correspondência foi entregue nos imóveis do residencial. “A sensação é como se a gente não existisse no mapa. E para quem resolveu montar o seu pequeno comércio aqui, como eu, o transtorno é ainda maior. Precisamos pedir a parentes e amigos para receberem as encomendas e as mercadorias nos endereços deles”, desabafa o presidente da associação dos moradores, Lucas Kaike Lopes.
Quem também critica a situação de “exclusão social” é a dona de casa Maria Edinete Silva. “Quem recebe uma moradia nova só se sente realmente realizada quando coloca a caixinha dos correios na parede. Eu só não imaginava que a da minha residência ia ser somente um enfeite. Hoje, as minhas correspondências são enviadas para a casa da minha sogra”, lamenta.
No bairro Renascer, onde moram 630 famílias, a população sofre com o mesmo problema. “Aqui os carteiros não entregam as cartas e nem encomendas. Por conta disso, já tive até prejuízos financeiros”, comenta o morador Franklin Martins referindo-se ao pagamento de multas e de juros, decorrentes de atrasos no pagamento de boletos.
Em Iguatu, maior cidade da região Centro-Sul, o número de afetados é ainda maior. Estima-se que seis mil famílias residentes nos bairros Fomento, Altiplano 2, Cajazeiras, João Paulo II e Penha não recebam correspondência via Correios.
Diferente do que ocorre no Residencial Rachel de Queiroz, que é um conjunto habitacional novo, alguns bairros já têm moradores há mais de 10 anos. Mesmo assim, a situação até hoje não foi normalizada. Quem reside nessas áreas em expansão precisa se deslocar até a agência dos Correios, no Centro da cidade, para receber as correspondências.
Em Juazeiro do Norte, no Cariri, segundo a Gerência da Agência dos Correios local, há pelo menos três bairros que, mesmo parcialmente, não recebem entregas domiciliares. O problema afeta cerca de 2.300 famílias dos bairros Campo Alegre, Monsenhor Murilo de Sá Barreto e Betolândia.
Soluções
Para atender às localidades, a ECT explica que elas devem estar em conformidade com todas as prerrogativas da Portaria Interministerial 4.474/2018, dentre as quais, oferecer condições de acesso e de segurança ao empregado postal e dispor de placas identificadoras instaladas pelo órgão municipal constando rua e numeração ordenada.
Em Quixadá, porém, as famílias do Residencial Rachel de Queiroz ainda não contam com endereço postal. A Prefeitura garantiu estar adotando as providências para confecção e instalação das placas de sinalização. Em seguida, a direção dos Correios será cientificada e poderá iniciar o serviço de entrega.
Já no Renascer, habitado há mais de duas décadas, e nos bairros de Iguatu e Juazeiro, a resolução ainda é uma incógnita. Embora constem em muitas ruas placas identificadoras, o serviço postal dos Correios não é regular.
Crescimento
O especialista em urbanização Félix Oliveira e Silva explica que muitas cidades “cresceram perifericamente” e de forma desordenada. Ele avalia que a responsabilidade na ausência da entrega de correspondências não é exclusiva da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Ela seria “compartilhada com os gestores municipais” que protelam a identificação das ruas em novos bairros.
Para se ter uma ideia do crescimento de novas localidades, entre 2017 e 2018, o Ceará ganhou 110 mil novas moradias, um crescimento de 3,7%. Os dados são do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
Por Alex Pimentel/Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste