Deixei o poema escorregar entre nossos beijos. Era tarde, o sol esquentava as paredes, enquanto nossas mãos desvendavam a música do corpo. Os jornais mutilavam as notícias. As crianças desfilavam num horizonte esburacado, tingidas de tinta carne.
Nas ruas, tanques e carnaval. A criança corre, menos que as balas, A criança cai, aqui, ali, acolá.
Otan, otan, otan disparam no mundo inteiro!
O beijo estuprou o grito. Plantaram flores de plástico em telões gigantes para disfarçar a morte da realidade.
O próximo estrondo será nosso, as crianças se levantarão com as flores, dançaremos com as borboletas, o poema será escrito com o pão. Andaremos nus e sem esconderijos. As balas serão doces e circularão livremente com os versos.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri