Uma explosão de contaminação. Confirmações uma atrás da outra em um ritmo jamais visto na pandemia. Atribuída à variante ômicron, a velocidade de contágio do coronavírus em janeiro, de fato, no Brasil não tem precedentes. No Ceará, as evidências confirmam o que se percebeu no dia a dia. Em janeiro de 2022, o Estado registrou 162 mil novos casos de Covid. É o mês com mais confirmações em toda a pandemia.
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Para se ter dimensão do que o número representa na dinâmica da pandemia, somando todos os casos registrados de junho a dezembro de 2021 no Ceará foram 114 mil ocorrências. E em apenas um mês de 2022, a triste marca foi alcançada e ultrapassada.
Os dados constam no Integrasus, plataforma da Secretaria Estadual da Saúde, e foram analisados pela reportagem.
Antes de janeiro, o maior volume de contaminações registradas em 24h no Ceará foi na segunda onda, quando no dia 10 de maio o Estado contabilizou 6.300 casos.
Após o dia 17 de janeiro, o Estado tem tido uma redução gradual no registro de novos casos. Contudo, como as informações do Integrasus são oriundas das notificações dos municípios, os dados ainda estão em atualização, sobretudo, os da última semana de janeiro.
Portanto, ainda não é possível tomá-los como tendência confiável na análise sobre a estabilização ou queda nas contaminações.
Mas, as evidências indicam que aparentemente o Estado pode ter atingido o pico da terceira onda. E o que acontecerá agora? Haverá uma redução também acentuada do contágio? Quais os critérios são considerados para definir se a pandemia está estabilizada?
Indicadores evidenciam cenário
A médica de família e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Magda Almeida, reforça que os dados Integrasus registram os casos a partir do início dos sintomas, então, “é um pico inclusive de contaminação”. Ela reitera que a variante ômicron tem uma transmissão maior e mais veloz.
Magda explica que nas situações de epidemia/pandemia três indicadores precoces são monitorados para determinar se a curva está em alta, estabilizada ou em queda.
• Quantidade de casos confirmados;
• Positividade dos exames;
• Quantidade de pessoas com sintomas respiratórios que procuram emergências.
“O que temos visto, nos últimos dias, é uma quantidade de confirmação de casos menor. Uma queda na positividade e uma procura menor por atendimento de síndrome gripal. Eles juntos falam em uma tendência a redução a cada dia”, acrescenta ela.
Outros indicadores, explica Magda, são os chamados indicadores tardios:
• Total de internações
• Solicitações de leitos Covid
• Óbitos
“As internações e as solicitações de leitos aumentam quando a doença já está muito espalhada. O pico de internação vem, geralmente, de 7 a 15 dias depois do pico de casos. Esse indicador não é bom para prever tendências. Ele já diz que tem pessoas contaminadas, adoecidas e até morreram.”
Magda Almeida, médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC
O médico infectologista e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará, Keny Colares, reitera esses indicadores como forma de monitorar a situação da pandemia, e diz “normalmente, as pessoas que se infectam primeiro nas ondas são aquelas que têm mais mobilidade. Depois, aquelas que tem risco maiores, como as de maior idade e comorbidade”.
Ele afirma que, após o recuo do número de novos casos, se “observa que a curva de internações e óbitos continua crescendo”. Um exemplo, segundo o médico, é a situação dos Estados Unidos.
“Eles atingiram o pico no número de casos, mas a curva de óbitos ainda está subindo. Isso porque existe um certo retardo entre uma coisa e outra. É possível que nossa curva de óbitos e internamento continue subindo um pouco para cair mais lá na frente.”
Keny Colares, médico e consultor em infectologia da Escola de Saúde Pública do Ceará
Diferenciais da terceira onda
A velocidade de contágio é um grande diferencial da terceira onda, e a médica Magda Almeida avalia que como não ocorreu redução das atividades econômicas, como nas outras ondas, nesse terceiro momento, “não houve aquele achatamento da curva”.
Ela ressalta que a gravidade foi menor, devido à vacinação, mas “isso não significa que não houve pressão na assistência. O fato de não ter tanta gravidade não significa que não teve outras repercussões”, garante.
É importante destacar, diz ela, que a contaminação massiva na terceira onda fez com que muitos profissionais essenciais, como médicos, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, fossem contaminados e isso “reduz a quantidade de serviços que podem ser ofertados”.
Além disso, Magda lembra que o vírus da Covid, assim como outros vírus respiratórios, é também sazonal. A ocorrência de ondas pode variar também conforme cada variante.
Reforço nos cuidados
O médico infectologista, Keny Colares, também reitera que as pessoas precisam continuar se cuidando. “Se tivermos um pico não quer dizer que as pessoas possam parar de se cuidar. Talvez tenhamos chegado a um máximo de casos, mas para termos uma redução é preciso que as pessoas se cuidem, façam isolamento se estiverem com sintomas. Porque não está muito claro quanto tempo vai passar para que a gente consiga sair dessa onda”.
Keny também enfatiza que o que se tem observado no mundo é que a curva de casos com a ômicron costuma ser muito mais elevada mas também cai muito rápido, portanto, dura menos tempo que as outras fases da pandemia. “É possível que isso aconteça aqui”, afirma.
Por Thatiany Nascimento
Fonte: Diário do Nordeste