A Polícia Civil está investigando a colisão que resultou na morte de uma idosa de 62 anos, identificada como Maria Tavares, na zona rural de Caririaçu, no último sábado (4). A motocicleta, que acabou colidindo com um carro, estava sendo conduzida por seu neto de nove anos. Segundo a delegada, o veículo teria sido entregue à criança pela própria vítima.
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Segundo testemunhas, a idosa estava na garupa da moto no momento do acidente, na estrada entre os sítios Lages e Arão, quando colidiu de frente com o carro conduzido por um comerciante.
Maria chegou a ser levada para o Hospital Regional do Cariri (HRC), mas não resistiu aos ferimentos e faleceu no mesmo dia.
Já a criança sofreu uma fratura no fêmur e tem quadro de saúde estável. Ele está internado na unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica do Hospital São Vicente, em Barbalha.
De acordo com a delegada, Wannini Galiza Rizzi, que investiga o caso, o inquérito foi instaurado nesta quarta-feira (8), mas desde o dia do acidente a polícia investiga o caso que, por ter acontecido no último final de semana, ficou a cargo da Delegacia Regional de Juazeiro do Norte, mas foi transferido para a Delegacia de Caririaçu.
Depoimentos
Também nesta quarta, as primeiras testemunhas e o condutor do carro foram ouvidos. A pedido da família da vítima, o boletim de ocorrência também foi retificado com novas informações. “Tem muitas coisas que ainda não podemos divulgar para não atrapalhar as investigações”, ponderou Rizzi. O inquérito tem um prazo de 30 dias para sua conclusão.
Contudo, a delegada confirmou que a criança estava pilotando a moto. “Foi comprovado que quem entregou a moto foi a própria vítima”, antecipou. A moto, porém, não está no nome da idosa e sim de outra pessoa.
“Estamos em diligência para saber o real proprietário. Se comprovar que houve participação [do dono], esse equívoco de deixar a moto nas mãos da criança também poderá ser indiciado.”
Wannini Galiza Rizzi, Delegada
Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, é crime. A pena é de detenção de seis meses a um ano ou multa.
Família diz que condutor estava embriagado; advogado rebate
De acordo com o sobrinho de Maria Tavares, Elvis Gonçalves Brito, ela morava no sítio Lages e tanto seu filho como seu marido sofrem por problemas de saúde e, por isso, estavam em processo de mudança para a sede de Caririaçu. “Eles estavam se mudando para facilitar a locomoção de hospitais. O esposo dela, só no ano passado, passou por sete cirurgias, por isso, precisa de um cuidado mais próximo”, conta.
A versão da família é de que, neste processo de mudança, a idosa não tinha quem lhe ajudasse a transportá-la, já que sua filha, mãe da criança que conduzia a moto, estava cuidando da sua outra neta que tem poucos meses de vida. “A opção que ela deve ter encontrado foi aquela (pedir à criança)”, pontua Elvis. Questionado se a criança já havia pilotado anteriormente, o sobrinho não soube responder.
Ainda de acordo com a família, o condutor do carro estava sob efeitos de álcool e, após o acidente, fugiu do local sem prestar socorro às vítimas, a pedido do irmão do proprietário do veículo.
“Quem chamou o Samu foi o namorado de minha irmã, que passaram no local e presenciaram o acidente. Até então, o motorista estava lá, dando sinais de embriaguez, mas mandaram ele se retirar. Mas nós vamos apresentar as provas”, garante Elvis.
O advogado do comerciante, Roberto Duarte, negou que seu cliente estivesse embriagado no momento do acidente. “A informação não prospera. Infelizmente, estão tentando responsabilizá-lo, mas negamos de forma enfática que isso não procede”, ressaltou. Sua defesa também nega que ele tenha se evadido do local após o acidente. “Só deixou o local quando as vítimas foram socorridas pela ambulância”, completou.
De acordo com o advogado condutor, o acidente aconteceu numa das curvas sinuosas da estrada, que não apresentava boas condições de tráfego. “Estava em péssima qualidade, de piçarra”, descreve. A família de Maria nega: “A estrada não está ruim. Ela é boa, de terra, bem aberta e passa dois carros com facilidade”, rebateu Elvis.
O advogado afirma que a moto conduzida pela criança vinha numa velocidade “bastante considerável” e que ocupava o meio da via. “Não dando tempo de livrar o veículo e, infelizmente, havendo a colisão”, descreve Roberto. Já a família de Maria diz que o automóvel invadiu o sentido contrário, atingindo a avó e seu neto. “Os peritos vão apontar isso”, confia Elvis.
“A gente lamenta muito essa tragédia com um pesar profundo e desejamos que a criança se estabeleça, mas é importante lembrar que é crime entregar veículo automotor para pessoa não-habilitada. Nove anos de idade não tem a condição mínima de conduzir o veículo e dar segurança viária, seja na zona rural ou urbana”, ressaltou Roberto.
Elvis reconhece que a família errou em deixar a criança conduzir a moto, mas acredita que isso aconteceu pelas circunstâncias da mudança. “São pessoas carentes. Não são pessoas ricas. Ela não fez isso por vaidade, não estava passeando, como foi dito. Fez por necessidade, sem pensar nas consequências”, justifica.
“A gente não está fugindo das nossas responsabilidades, nem jurídicas, nem moral. Se tiver que ser punido porque o garoto estava na moto, que seja, mas a outra parte também seja, para que isso não aconteça no futuro com outras pessoas”, pede o sobrinho da idosa.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste