Ter de uma casa maravilhosamente aconchegante vai muito além da criação de ambientes espaçosos capazes de reunir toda a família. A circulação que fazemos de forma fácil e livremente por entre os ambientes internos e externos são tão importantes quanto o aproveitamento dos espaços. Chamados de acessos ou áreas de circulação, essas áreas são fundamentais para interligar e tornar acessível todas as áreas funcionais de um lar.
A área de circulação quando ao ar livre interliga o pátio à entrada da residência (conectando interior e exterior) adaptando-se ainda às diferenças de níveis (planos ou montanhosos). Quando no interior da edificação, as áreas de circulação conectam os diversos ambientes, portas, escadas, elevadores e outros elementos.
A conexão de ambientes internos com áreas ao ar livre requer o uso de entradas e saídas acessíveis, generosas e acolhedoras sendo suficientemente largas para a passagem de pessoas com bagagens ou equipamentos, por exemplo. Para entrar a porta deve ser manipulada e destrancada sem muitas complicações pelo usuário, já em casos de emergência, a porta de saída dos locais deve ser executada com o mínimo de esforço possível como um simples empurrão.
Ao pensamos em projetar, devemos estar atentos a inúmeros detalhes dentre os quais o devido tratamento das aberturas em uma edificação. As portas são elementos essenciais e que não devem ser encarados apenas como uma decisão estilística mas também funcional. As maçanetas devem ser confortáveis ao toque e intuitivas de operar mesmo estando com o punho fechado, evitando se possível, modelos que necessitam do movimento de agarrar ou torcer. A distância da maçaneta para a borda da porta também é importante considerar e deve ser suficientemente larga para evitar ferimentos nas mãos.
Quando a edificação encontra-se ainda em fase de construção, optar por aberturas mais largas que permitam uma passagem confortável é uma ótima escolha, pois portas mais largas permitem também corredores (áreas de circulação) mais generosas. A modificação após a obra pronta requer um novo planejamento e o realocamento de possíveis interruptores, pisos e teto que podem ser evitados quando ainda em andamento.
Ambientes espaçosos suficientemente para reunir familiares e amigos permitem a circulação livre e segura e ampliam a linha de visão por entre as áreas (os pais podem verificar de outro ambiente as atividades das crianças). Poucas divisões internas permitem a conectividade das áreas sociais, promovem o desaparecimento de passagens sem saídas, modificam os níveis de ruído, além de abrir diferentes oportunidades para o tratamento de ventilação e iluminação.
Residências que possuem espaços pensando na acessibilidade e funcionalidade fazem uso de dispositivos de mobilidade para promover a segurança dos usuários, dispondo de um tratamento de piso, portas e paredes adequados que visam facilitar os deslocamentos e promover a durabilidade das superfícies. A escolha de pisos robustos e nivelados ou com acabamentos antideslizantes e resistentes à reflexos, evitam com que a pessoa escorregue facilmente. A adoção do uso de lambris ou molduras de rodapés altas ajudam a proteger as parede de serem danificadas pelo uso de aparelhos de assistência (andadores, cadeira de rodas).
Referindo-se às sensações e ao conforto causado ao atravessar uma área de circulação, optar pelo alinhamento de portas em um corredor é uma boa opção para encurtar o caminho entre ambientes.
Para que haja segurança nos deslocamento por entre as áreas de circulação, alguns detalhes podem ser implantados dentre os quais: dispor de diversos pontos elétricos livrando-se da dispersão de cabos pelo piso; evitando a existência de falhas na superfície das paredes assim como texturas e protuberâncias que possam apresentar riscos de queda, lesões e de retenção dos aparelhos que auxiliam os usuários durante o translado; ficar atento com o arranjo da mobília e fixar bem os tapetes ao piso, são também dicas que eliminam riscos e obstruções na passagem.
São nas áreas de circulação que também encontram-se localizados sistemas de alarme, incluindo detecção de incêndio e fumaça e alguns outros dispositivos de segurança. Pensando-se na acessibilidade, planejar esses sistemas de segurança e alarmes de modo que estejam acessíveis para usuários de baixa visão (com sinais sonoros, como sinos e campainhas), e / ou perda auditiva ( com sinais visíveis, como luzes piscando) são medidas essenciais e que devem ser adotadas para casos de emergência. Considerar a implantação de sensores de ocupação para que luminarias se acendam enquanto uma pessoa passa por um corredor podem fazer parte do planejamento.
Garantir um design responsivo é eliminar obstáculos para se locomover. Podemos pensar na residência como um conjunto complexo que abriga diversas funcionalidades e ambientes como os órgãos, e que são interligados por um sistema de circulação como os vasos sanguíneos, no qual todos devem estar conectados de forma harmônica para o bom funcionamento. Quando bem planejada, as áreas de circulação acessíveis facilitam os deslocamentos dos ocupantes por entre os ambientes de forma livre e sem riscos de acidentes.
Inspirado em: PIERCE, Deborah / The Accessible Home, 2012
Por Gabriela Gomes. Apaixonada pela Arquitetura e o Urbanismo. Acredita em uma arquitetura participativa como uma ferramenta capaz de provocar mudanças e promover a inclusão social. Por um Urbanismo sustentável e inteligente. Juazeirense, reside atualmente em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri