Acessar a cidade e a educação é imprescindível para o posicionamento/reposicionamento da classe trabalhadora como parte da luta emancipatória. Se existe uma cidade negada e construída socialmente desigual existe também uma educação estratificada e alicerçada para manutenção das relações de opressão e exploração.
A democratização da cidade e da educação para a classe trabalhadora apresenta as contradições das relações do capital e trabalho, o que exige uma concepção política-teórica capaz de esmiuçar o entendimento de como se estrutura histórico e socialmente a produção do conhecimento e da urbe.
Ocupar os espaços de reflexões, luta e decisão sobre a produção e construção da acessibilidade à cidade e a defesa da escola pública e da pedagogia histórico-crítica são partes da mesma agenda de ruptura e de tomada de poder.
Ganhar capilaridade na luta pelo direito à cidade e por uma pedagogia transformadora se coloca como essencial para luta de ideias e a reorganização política da classe trabalhadora. Se aprendemos que não existe espaço vazio na política, os espaços de residência e de estudo da classe trabalhadora estão preenchidos de outras narrativas que visam a manutenção da classe dominante.
A disputa de espaços e narrativas devem compor macro e micropoliticamente as nossas frentes de resistência e de conquistas, partindo do princípio, que tanto os problemas da crise urbana, como educacional, não se resolvem a partir da nano política, pelo contrário, é a partir da alteração da estrutura socioeconômica de poder que podemos vislumbrar mudanças para a classe trabalhadora, o que não ocorrerá de forma harmoniosa, mas pelo processo de luta de classes.
Duas narrativas vêm tomando corpo, uma alinhada aos interesses das elites econômicas que nega o direito de decidir sobre a cidade e criminaliza a educação emancipatória e outra vinculada a ideia de uma esquerda liberal ou de concepção anarquista que coloca os espaços micros como centros do seu olhar, não conseguindo enxergar de forma mais ampla a realidade e se prendendo ao discurso “nós estamos fazendo a nossa parte”, como se os problemas estruturais para serem resolvidos bastasse espontaneismo e boa vontade. Esses negam a realidade concreta e as condições objetivas para constituir outra realidade.
Neutralidade e imparcialidade são expressões inexistentes para a compreensão da escola e da cidade, retirar as camadas que acobertam as fraturas de uma engenharia sistêmica que produz desigualdade e alienação, é uma pauta atual, necessária e de recomposição das forças da classe trabalhadora. Afinal, é nas cidades e nas suas margens que estão os campos de batalhas para construir as sobrevivências cotidianas na luta contra o modo de produção capitalista.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
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