“Dando continuidade ao texto anterior, trago esta segunda e última parte de um relato pessoal sobre o desenvolvimento contínuo da minha carreira profissional, que ainda está muito no início. Dado a isso, este texto assim como o anterior terá uma linguagem bastante direta. Neste reflete a minha opinião sobre os pontos que um profissional de desenvolvimento de software deverá considerar em sua carreira. Assim como fiz no texto anterior, trago mais dois nomes muito importantes na minha formação profissional, Felipe Távora e Vandewilly Silva que me ensinaram na prática que ser líder é ser exemplo”.
Espero que o texto anterior tenha deixado claro que a empatia é um ingrediente básico para um bom profissional de TI e que objetivos com metas simples e bem definidas são cruciais para o sucesso de qualquer plano na sua carreira profissional. A frustração também faz parte do dia a dia de um profissional (não só da área de TI, mas também de qualquer outra profissão) e somente com a vivência é possível encontrar um equilíbrio entre as expectativas e as decepções na sua carreira.
Hoje posso dizer sem a necessidade de pesquisar números, que uma grande porcentagem de projetos iniciados aqui no vale do silício falham desastrosamente antes mesmo do lançamento. Aqueles que já tiveram algum tipo de contato com “executivos/investidores” do vale, irão concordar que a principal arma para obter “sucesso” é a especulação (sim, para mim a palavra que melhor descreve o vale do silício é especulação) e nada melhor do que pessoas do setor financeiro para saber especular. O “problema” se dá quando pessoas com este perfil resolvem investir em abrir ‘startups’ com o financeiro sendo o seu principal foco. Em muitos casos o objetivo dessas empresas é iniciar projetos que conflitam com interesses de empresas maiores com o intuito de serem compradas pelas mesmas posteriormente. Um outro viés muito praticado é a venda de idéias ou provas de conceito como produtos finais (são os conhecidos como PoC de prateleira, ou PoC final), com o intuito de captar acionistas para coletar o máximo de dinheiro possível de forma rápida e um tanto arriscada, essas ‘startups’ são conhecidas como “unicórnios”, encantadores mas não existem.
Em meu primeiro texto, falei um pouco sobre estratégias de como escolher as empresas para atuar e de como preparar-se para o mercado, uma outra prática que costumo fazer (que serve tanto para empresas do exterior quanto para empresas brasileiras) é pesquisar a participação da empresa no mercado (Github, revisão de clientes e tecnologias/metodologias aplicadas para o desenvolvimento) tomando como base o website das mesmas. Em muitos casos as empresas que buscam o status de unicórnio investem mais em marketing e vendedores que prometem o impossível do que em desenvolvedores, gerentes de projetos, gerentes de pessoas e arquitetos. Essa é uma realidade muito presente nas empresas do vale, e quando o assunto é trabalhar no exterior, desconfie de empresas que possuem times pequenos com produtos complexos e muitos cargos de chefia (CEO, CTO, VP, VPE …), a ida para um país estrangeiro é algo muito sério e precisa ser feita de forma segura. Infelizmente estamos vivendo uma era atacada por grupos de pessoas que não obtiveram sucesso na vida profissional vendendo um sucesso utópico, e por outro lado, grupos que obtiveram sucesso lhe incentivando a arriscar todos os seus bens valiosos (casas, carros, poupança) em projetos que você acredita que irá funcionar, afinal, quem nunca ouviu aquela frase: “Se você acredita mesmo que o seu projeto tem sucesso, venda o seu carro/casa e aplique”. Essa é uma realidade muito presente nas empresas do vale de forma um tanto escondida para os profissionais que se sentem atraídos pelas campanhas de marketing e acabam compartilhando os riscos de forma indireta.
Dado ao contexto acima, é vital que o planejamento de mudança para outro país a trabalho seja tratado de forma muito criteriosa, para que não venha recheada de riscos cujo as alternativas de soluções sejam desastrosas, afinal, no pior dos casos os investidores irão perder somente uma porção do seu capital de risco, e você terá todos os problemas logísticos, emocionais e profissionais para resolver (dependendo do seu tipo de visto, você deverá voltar para o país de origem caso algo dê errado). É comum vermos essas empresas menores celebrando por terem sido compradas por companhias maiores, afinal isso pode significar sucesso na área financeira, mas cabe à empresa compradora decidir o destino de todo o time de desenvolvimento e gestão, o que em muitos casos podem não acabar como o esperado e muitas pessoas perdem o cargo que estava em crescimento contínuo dado ao “sucesso” da ‘startup’, ou acabam integrando-se a times com uma cultura já formada (cheios de vícios e jogos políticos), de difícil adequação.
Com tudo, é muito importante que o desenvolvedor conheça muito bem as diferenças culturais e intenções das empresas para a qual está pretendendo trabalhar. Empresas que possuem alto risco podem ser interessantes quando há um equilíbrio entre o bônus e o ônus e que ambos estejam claros no momento da contratação. Tenha em mente que na terra em que o dinheiro tem prioridade, não existe coleguismo, gratidão e pedidos de desculpas sinceras, apenas contratos, cumprimento de prazos e contínuo melhoramento de performance em prol do lucro. Aconselho-o a procurar empresas onde os fundadores começaram desenvolvendo o software e foram evoluindo acerca do crescimento do produto em si, pois estes sim sabem as “dores” em desenvolver um real produto e não vivem de falácias, só assim você conseguirá balancear a sua carreira e não se tornará mais um empreendedor de palco falido, frustrado e disseminador de utopias.
Por Yrineu Rodrigues, juazeirense, desenvolvedor de software. Atualmente morando em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri