Câncer: está aí um tema que ainda assusta muita gente. Não é por menos. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), essa é a segunda doença que mais provoca morte no mundo. No Brasil, a estimativa é que surjam 600 mil novos casos do problema por ano.
Por esse motivo, é comum pessoas questionarem o que funciona de verdade para evitar tumores, e se isso é realmente algo possível. A resposta é sim, pelo menos em algumas situações, e vamos mostrar a seguir o que realmente é capaz de inibir a doença.
Drible os fatores de risco
Para começo de conversa, é importante saber que, mesmo que faça “tudo certo” –ou seja, leve uma vida só com bons hábitos –, qualquer pessoa pode ter câncer um dia. “Isso porque a idade é o principal fator de risco isolado da doença”, explica Ademar Lopes, cirurgião oncológico e vice-presidente do A.C. Camargo Cancer Center.
Porém, de acordo com uma pesquisa realizada por cientistas da USP (Universidade de São Paulo) em parceria com a Universidade Harvard (EUA), cerca de 114 mil casos de câncer no Brasil seriam inibidos com mudanças no estilo de vida que combatem os principais fatores de risco da doença, entre elas estão:
– Não fumar;
– Não se expor excessivamente ao sol;
– Não exagerar no consumo de bebidas alcoólicas e alimentos ultraprocessados;
– Manter-se no peso adequado e evitar a obesidade;
– Ingerir ao menos cinco porções de frutas, legumes e verduras por dia;
– Praticar exercícios regularmente (ao menos 150 minutos por semana).
Segundo Mônica de Assis, médica sanitarista do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), com essas atitudes é possível evitar, por exemplo, o câncer de pele, o câncer de pulmão, o câncer de boca, o câncer de cólon e reto, o câncer de mama e câncer de colo de útero, que são doenças passíveis de prevenção primária –ou seja, que o combate está associado ao estilo de vida.
Exames que ajudam a evitar a doença
Segundo o Inca, a prevenção secundária do câncer consiste em detectar a doença previamente e tratá-la no início ou até antes mesmo de se tornar um tumor –o que na maioria dos casos é determinante para o sucesso do tratamento.
Para isso, os médicos recomendam que exames periódicos sejam feitos na população de maneira geral, como no caso de mulheres entre 25 e 64 anos, que devem realizar o papanicolau anualmente nos dois primeiros exames e, se ambos tiverem resultado negativo, passar a fazer o teste a cada três anos. Essa é a principal forma de identificar lesões no colo do útero causadas pelo HPV (papiloma vírus humano), que podem virar um tumor.
Já o câncer de cólon e reto (no intestino) pode ter sua incidência reduzida com exames para identificação precoce e tratamento dos pólipos, lesões que podem progredir para um câncer.
Sem falar dos já conhecidos exames de PSA e toque retal, que devem ser realizados regularmente pelos homens a partir dos 50 anos para a detecção do câncer de próstata; e a mamografia, que o Inca recomenda que seja feita anualmente pelas mulheres também após os 50 anos, para prevenção do câncer de mama.
Vacinas que previnem tumores
Sim, existe ainda a possibilidade de inibir a doença com imunizações. É o caso do câncer do colo do útero e do câncer de fígado. Para o primeiro, existe no SUS (Sistema Único de Saúde) a vacina contra HPV, que deve ser dada para meninos e meninas com idade entre 9 a 14 anos.
Já o câncer de fígado está associado à infecção pelo vírus da hepatite B, e a vacina é um importante meio de evitar o problema.
E a questão genética?
Segundo o Inca, são raros os casos de cânceres que ocorrem exclusivamente devido a questões hereditárias. No entanto, existem fatores genéticos que podem tornar algumas pessoas mais sensíveis à ação de agentes ambientais (cigarro, obesidade, álcool etc.) que causam câncer.
“Quando há história de câncer na família é possível fazer um aconselhamento genético”, recomenda Lopes. Isso significa ir a uma ou mais consultas com um geneticista ou oncogeneticista para identificar o possível risco de desenvolver tumores. Assim, se necessário, a pessoa pode iniciar um tratamento precoce para evitar a doença ou atenuar consequências mais graves.
Se existe o risco hereditário também é recomendado que os exames de detecção precoce sejam realizados muito mais cedo do que para o restante da população.
Vale ressaltar que, para boa parte dos cânceres, somente 5% a 15% dos casos são hereditários e, geralmente, as mutações no DNA das células que levam ao surgimento de tumores são adquiridas ao longo dos anos, devido a um estilo de vida inadequado.
Câncer é uma questão de falta de sorte?
Há alguns anos, um trabalho científico realizado por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins (EUA) levantou uma discussão se o câncer não seria apenas uma questão de falta de sorte.
No estudo, falou-se sobre a probabilidade de ocorrência de algum erro no momento da divisão celular –fenômeno que ocorre normalmente no nosso organismo ao longo de toda a vida –, gerando uma nova célula defeituosa.
Normalmente, nosso corpo é programado para reconhecer esses erros e destruí-los, mas, se esse mecanismo falhar, podemos ter a replicação dessa célula e a formação de um tumor. Há pessoas que nunca vão desenvolver alguns tipos de câncer apenas por seus bons hábitos, mas há pessoas que vão mesmo com um estilo de vida adequado. Na dúvida, para não contar só com a sorte, a recomendação é evitar se expor aos possíveis causadores.
“Sabemos que alguns vírus e hábitos elevam o risco da doença, mas o fato é que o conhecimento científico não consegue ainda explicar porque a presença de fatores ambientais e mesmo hereditários podem resultar em um câncer em alguns indivíduos e em outros, não” explica Almeida.
Portanto, é fundamental para a prevenção de tumores seguir a máxima de fazer exercícios regularmente, manter-se no peso ideal, realizar um check-up médico periódico, ter uma alimentação saudável, evitar o cigarro ou produtos ligados ao tabaco, maneirar no consumo de álcool e de alimentos ultraprocessados e proteger-se do sol.
Fontes consultadas: Mônica de Assis, médica sanitarista da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva); Liz Almeida, médica epidemiologista e chefe da Divisão de Pesquisa Populacional do Inca; e Ademar Lopes, cirurgião oncológico e vice-presidente do A.C. Camargo Cancer Center
Fonte: UOL