O número de incêndios florestais registrado nos primeiros cinco meses deste ano supera em 164,48% o quantitativo anotado em igual período de 2020. Entre janeiro a maio de 2021, já são 283 queimadas, ante a 107 verificadas no ano passado. Os números são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No comparativo mês a mês, 2021 também supera o ano passado. O maior aumento percentual aconteceu em fevereiro, quando o número passou de 8, em 2020, para 64 focos de incêndio neste ano, um salto de 700%.
• Janeiro de 2020: 94 / Janeiro de 2021: 187 – crescimento de 98%
• Fevereiro de 2020: 8 / Fevereiro de 2021: 64 – crescimento de 700%
• Março de 2020: 2 / Março de 2021: 13 – crescimento 550%
• Abril de 2020: zero / Abril de 2021: 6
• Maio de 2020: 3 / Maio de 2021: 13 – crescimento de 333%
Dos cinco primeiros meses deste ano, apenas janeiro ficou abaixo da média histórica. Todos os demais meses superaram a marca. Fevereiro se aproximou do número mais alto, para o período, já registrado até agora: 76 focos em 2010.
Para especialistas, uma soma de fatores pode explicar o aumento das queimadas. Daniel Fernandes, coordenador executivo da Associação Caatinga, destaca que o incremento “pode estar associado a proibição pelo Estado do Ceará do uso do fogo no segundo semestre de 2020. Normalmente os agricultores começam a preparar a terra no último trimestre do ano e utilizam o fogo nesta ação. Então é provável que após a liberação tenha tido um aumento do uso do fogo em janeiro”.
Outra questão citada por ele é a climática. Quando não há pluviometria regular, como ocorreu neste ano com a quadra chuvosa tendo ficado abaixo da média, surge um ambiente favorável para o aumento dos focos de calor e incêndios florestais.
Média histórica de queimadas por mês, no Ceará:
• Janeiro: 196
• Fevereiro: 24
• Março: 11
• Abril: 5
• Maio: 11
• Junho: 14
• Julho: 41
• Agosto: 134
• Setembro: 315
• Outubro: 1.068
• Novembro: 1.859
• Dezembro: 1.558
Tendência de crescimento
Para o segundo semestre do ano, a tendência é de que as queimadas se potencializem. Segundo o Inpe, o pico de registros, no Ceará, costuma ser em novembro. Já a Funceme estima que, mais de 90% das queimadas no Estado ocorram entre os meses de outubro e dezembro.
Esse avanço a partir de julho decorre das condições naturais somadas às ações humana. “A própria redução ou ausência de chuvas também contribui, pois, torna a vegetação seca, transformando-se em combustível para o fogo. Depois que uma queimada ou incêndio florestal começa, os ventos mais forte deste período também ajudam a alastrar as chamas”, explica agrônomo e ambientalista, Paulo Marciel.
Com o fim da quadra chuvosa, tem início as altas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar. “Soma-se a estes fatores meteorológicos, a ação antrópica. Mais de 90% das queimadas são causadas de forma criminosa, pelo homem”, avaliou o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Nijair Araújo.
“A maior parte das queimadas e incêndios florestais são provocados pela ação humana, seja no preparo do solo para a agricultura, seja em atividades como a caça, quando caçadores deixam fagulhas, pontas de cigarros provocando incêndios”, reforça Daniel.
Paulo Maier, que atua na área ambiental desde a década de 1980, acredita que o percentual de queimadas provocadas pelo homem é ainda maior que 90%. “Infelizmente quase todos são causados pelo homem, diria que próximo a 99%”.
Ele projeta que, ao fim deste ano, os incêndios florestais deverão superar a média histórica devido à manutenção das condições climáticas verificadas nos últimos anos e ausência de políticas que possam coibir a prática criminosa.
Prejuízos ambientais
Paulo Marciel explica que os incêndios afetam a população e o meio ambiente, e elenca uma série de danos causados pelas queimadas. “Para a população próxima, podemos citar a poluição do ar e o risco de acidentes principalmente para quem trafega nas rodovias e trabalhadores rurais. Já as consequências para os solos são uma mineralização excessiva da pouca matéria orgânica existente”.
“Isso implica na perda da fertilidade, menor produtividade e prejuízos na microvida dos solos. As queimadas afetam a vida da fauna e flora, mata e afugenta animais silvestres, destrói o material genético da vegetação nativa e causa impacto climático influindo na desertificação regional.”
Paulo Marciel, ambientalista
Incêndios em 2021 nos estados nordestinos:
• Bahia – 1.473
• Maranhão – 985
• Piauí – 382
• Ceará – 283
• Pernambuco – 197
• Alagoas – 177
• Rio Grande do Norte – 135
• Sergipe – 108
• Paraíba – 85
“Além de reduzir a biodiversidade do bioma, são responsáveis por grande parte das emissões de CO2 e acentuam processos de desertificação na Caatinga. 13% da região semiárida já se encontra em estágio avançado de desertificação.”
Daniel Fernandes, coordenador executivo da Associação Caatinga
Para reduzir o número de queimadas florestais, Marciel destaca ser necessário “punir [aqueles que promovem incêndios florestais], educação ambiental e investir em políticas públicas incentivando mudanças produtivas com foco na agroecologia”. Além dos pontos destacados por Marcial, Fernandes ressalta a importância de fiscalizar e “investir em medidas preventivas”.
Desafio
O comandante adjunto do Corpo de Bombeiros de Sobral, tenente coronel Mardens Vasconcelos, revela que, já a partir de julho, a demanda cresce de forma substancial. “São cerca de 13 ocorrências por dia, somente aqui na região de Sobral. Este número aumenta ainda mais nos meses seguintes”, pontua.
Ele recorda ainda que, além do “grande esforço físico para debelar as chamas, milhares de litros de águas são gastos em cada ocorrência”.
“Em uma região semiárida, com chuvas escassas no segundo semestre, qualquer litro de água desperdiçado é preocupante. Para reduzir esses incêndios, contamos com a população para denunciar quem toca fogo de forma criminosa. Essa pessoa será levada à Delegacia e indiciada.”
Mardens Vasconcelos, tenente coronel do Corpo de Bombeiros
Por André Costa
Fonte: Diário do Nordeste