Os produtores de banana no Ceará já dispõem de um importante aliado tecnológico para melhorar as condições de cultivo e ampliar a produtividade da fruta no Estado, que é reduzida. O software CND Banana, que faz coleta de dados nutricional, foi desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a partir de uma pesquisa em uma área produtiva no município de Missão Velha no Cariri cearense.
O programa já é usado na unidade produtiva Barreiras Fruticultura, onde foi desenvolvido em na pesquisa que tem o objetivo de oferecer uma ferramenta moderna e de fácil acesso para solucionar um entrave na produção local da fruta, que é a baixa produtividade, em torno de 11,6 toneladas por hectare.
A produtividade cearense de banana é inferior à do vizinho Rio Grande do Norte, que alcança 28,4 t/ha, uma diferença de 142%.
Razões da baixa produtividade
O professor visitante sênior da UFC William Natale, um dos participantes do projeto de pesquisa, ensina que “o manejo inadequado da adubação e a falta do monitoramento do estado nutricional dos bananais são os principais fatores limitantes à produtividade”.
Natale observa que o Brasil tem baixa produtividade em média nos pomares de banana porque “carecem de ferramentas para o seu aprimoramento e que possibilitem melhores tomadas de decisão”.
Pesquisa
A empresa agrícola fez parceria com a UFC para a realização da pesquisa, que resultou na criação do CND (Diagnose da Composição Nutricional, do inglês Compositional Nutrient Diagnosis).
O CND tem por base coleta e análise de dados matemáticos e estatísticos para definir o melhor balanço de nutrientes de uma determinada cultura agrícola.
A ferramenta já pode ser aplicada de forma gratuita e on-line. O professor William Natale pontuou que “o CND-Banana determina o conjunto de plantas mais produtivas e identifica qual o balanço nutricional adequado para essa elevada produção”.
O pesquisador frisou que o programa é voltado para todos os produtores. “De acordo com análise de cada pomar, define-se qual a melhor adubação para sua propriedade”, explicou Natale.
Historicamente, as recomendações que são dadas aos fruticultores para a correta adubação vêm sendo realizadas com base exclusivamente na análise de solo, conforme observou o pesquisador.
O desenvolvimento do programa oferece uma mudança que vai além da análise de solo, que sozinha revela-se limitada para ampliar a produtividade do pomar.
Fazendo perguntas à planta
As informações coletadas para a criação do software consideraram também as análises foliares e a produção de frutos. “Com a análise foliar, e o uso do balanço nutricional, ‘pergunta-se’ à planta o que está faltando ou sobrando em termos nutricionais, para que a cultura possa expressar todo seu potencial genético em relação à produção e à qualidade da fruta”, explicou o professor.
É como se o programa dialogasse com a planta para saber o que ela precisa para produzir mais. A pesquisa para desenvolvimento do software ocorreu a partir da coleta de informações nutricionais no sítio Barreiras no período de 2010 a 2018. A unidade produtiva ofereceu a dois alunos de pós-doutorado da UFC bolsas de estudo na fase de estudos, no modelo parceria público-privada.
Para se chegar à elaboração do software, foram realizados estudos com dados coletados de 2010 a 2018, no Sítio Barreiras Fruticultura LTDA, empresa que ofereceu a dois alunos de pós-doutorado da UFC bolsas de estudo em determinado período do processo de desenvolvimento da pesquisa.
Software é usado para outras frutas
O CND Banana já pode ser utilizado pelos fruticultores. A metodologia do software já é praticada para melhoria da produtividade de outras frutas, no Brasil: goiaba, manga, uva; e de grãos – arroz e soja.
O professor Natale explica que o CND Banana é dinâmico, permite a sua aplicação a partir de novas análises de solo e de folhas e da atualização da produção no decorrer do tempo. “Esses novos dados podem ser incorporados ao software, atualizando-o”, pontuou. A cultura da banana é a primeira a ser beneficiada com a aplicação do software, no Ceará.
Apesar de ter sido desenvolvido a partir de dados em uma unidade cearense, o pesquisador observa que outros estados com características de clima e solo semelhantes podem empregá-lo, “até que um programa semelhante seja desenvolvido para cada região”.
A pesquisa envolveu também outros professores da UFC, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade de Laval, no Canadá, além de um agrônomo do sítio Barreiras.
O secretário de Agricultura de Iguatu, Venâncio Vieira, observou que há núcleos produtivos de banana no Cariri, Iguatu, no Baixo Jaguaribe, no Maciço de Baturité e na Serra da Ibiapaba.
“São áreas importantes que geram milhares de empregos e trazem renda para os agricultores de base familiar, movimentando o mercado da fruta no Ceará”, disse. “Vejo que essa ferramenta será fundamental para ajudar a superar o entrave da baixa produtividade regional”.
O produtor Carlos Palácio tem uma área de cinco hectares de banana da variedade prata na zona rural de Jucás e disse que vai buscar informações para melhorar a produtividade. “Quanto mais tecnologia melhor e vejo com surpresa positiva essa nova ferramenta”, disse. “É preciso cada vez mais reduzir custos, aumentar produtividade para ter melhor ganho”.
Produção
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, o Ceará alcançou uma produção de 406,3 mil toneladas de banana, em uma área de 35 mil hectares. O Estado é o sétimo maior produtor brasileiro, mas por causa da baixa produtividade é o 17º lugar no ranking nacional.
O Ceará teve produtividade de 11,6 toneladas por hectare, em 2019, mas o Rio Grande do Norte, alcançou no mesmo ano 28,4 t/ha, embora cultive a fruta em uma área de apenas 7,7 mil hectares, ou seja, quatro vezes e meia a menos que o Ceará.
Curiosidades sobre a banana
• A banana é uma das frutas mais consumidas do mundo
• Em 2018, o Brasil era o quarto maior produtor da fruta e o quinto em área cultivada
• A produtividade brasileira permanece cerca de 15 t/ha. É a mesma dos últimos 50 anos
• Em outros países produtores, a produtividade passou de 11,7 para 20,2 toneladas/haa a partir da década de 1970
• Países como Indonésia e Guatemala alcançam média nacional acima de 50 t/ha
• Os dados são Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)
Por Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste