Em meio a esforços por todo o Brasil para garantir maior cobertura vacinal contra a Covid-19, o Ceará é o estado do Nordeste a registrar maior porcentagem de imunização com segundas doses. Ao todo, 8% da população recebeu a chamada D2, percentual correspondente a 731.516 aplicações. Os dados foram obtidos pelo Diário do Nordeste por meio dos painéis de vacinação oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. Alguns foram atualizados na segunda (3) e outros na terça-feira (4).
Depois do Ceará, Paraíba e Bahia são os estados que ocupam, respectivamente, o 2º e 3º lugar da liderança de imunização contra a doença no Nordeste, com 7,9% e 7,8% de suas populações totalmente vacinadas. A Paraíba soma 317.312 aplicações de segundas doses e a Bahia, 1.167.267.
Dentre os demais estados nordestinos, a porcentagem varia de 5,9% a 7,2%: Rio Grande do Norte (7,2%), Pernambuco (7,2%), Piauí (6,9%), Sergipe (6,4%), Alagoas (6,3%) e Maranhão (5,9%).
Apesar de 14,8% da população cearense ter recebido a primeira dose, equivalente a 1.363.795 aplicações, a imunidade contra o novo coronavírus só é garantida após o recebimento da segunda dose.
Ritmo de vacinação
Apesar do Ceará surgir como o estado do Nordeste que percentualmente mais imunizou sua população, o imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, aponta que ainda não é tempo de comemorar.
“O ritmo que o Ceará tem vacinado, é um ritmo mais ou menos como o que o Brasil tem vacinado. A aceleração desse ritmo só é possível com a chegada de vacina e o Estado tem feito seu papel, porque assim que as vacinas chegam, são distribuídas e rapidamente vão para o braço das pessoas.”
Edson Teixeira, imunologista e professor da UFC
Na perspectiva do professor, é possível identificar uma redução no número de mortos, se tomar como referência extratos populacionais que já receberam a vacina, como os profissionais da saúde. No entanto, aponta que a porcentagem populacional imunizada precisa ser ainda maior para o efeito geral ser percebido.
“Há um consenso de que em torno de 70 a 80% de cobertura vacinal, você reduz a transmissão, mas a gente só vai ter essa resposta quando for vacinando”, aponta Edson.
Reforço da dose e dos cuidados
A evasão de pessoas entre a primeira a segunda dose da vacina é um cenário preocupante para o imunologista. “Há uma porcentagem grande de pessoas que não estão voltando à segunda dose. Todas necessitam dessa segunda dose, porque somente depois de duas semanas dela é que se consideraria as pessoas imunes”, explica.
A secretária executiva de Vigilância e Regulação do Ceará, Magda Almeida, também relembra a importância de manter os cuidados, apesar da vacina já ter apresentado redução na quantidade de internações e óbitos no Estado.
“A vacina evita a progressão para casos graves e óbitos, mas não evita a contaminação. É importante que mesmo as pessoas vacinadas continuem os cuidados de não aglomerar, de usar máscara, de não receber visitas”, alerta.
Felicidade com imunização
A aposentada Vânia Maria Pinheiro, de 72 anos, está entre os mais de 731 mil cearenses que já receberam a segunda dose da vacina contra Covid-19. Desde o dia 17 de abril, quando retornou para uma nova aplicação do imunizante CoronaVac, o alívio acompanha a idosa em seu cotidiano.
“Eu me senti bem. Fiquei morta de feliz, fui privilegiada em tomar mais cedo e olhe, vou ser bem honesta, eu tive um pouco de medo da doença, mas não exageradamente.”
Vânia Maria Pinheiro, aposentada
Vânia era acostumada a fazer trabalhos voluntários, principalmente nos hospitais de Fortaleza, fazendo companhia para pessoas doentes. Além disso, suas tardes sempre tinham um tempo reservado para visitar amigas, tomar um “cafézinho” e colocar as conversas em dia. Com a pandemia, precisou respeitar o isolamento social, ficar em casa e usar máscara ao sair de casa.
“Me deixava angustiada. Na hora que terminar a pandemia, quando eu puder, vou voltar para o hospital e ajudar as pessoas. Meu desejo é esse”, finaliza, compreendendo que ainda há um longo caminho até os dias de novas saídas seguras.
Vacinação no Ceará
As primeiras aplicações de vacina contra Covid-19 no Ceará ocorreram no dia 18 de janeiro, logo após a chegada de um lote com 229,2 mil doses da CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac.
Na ocasião, profissionais de saúde do Hospital Leonardo da Vinci, Instituto Doutor José Frota (IJF) e Hospital Geral de Fortaleza (HGF) foram imunizados. No dia seguinte, idosos institucionalizados de Fortaleza também foram contemplados na primeira etapa de vacinação.
De 18 de janeiro até o último dia 15 de abril, o Estado recebeu e distribuiu 2,2 milhões de doses de vacinas contra a Covid. Desse total, 1,6 milhão, referente a 74,5%, foram somente da CoronaVac.
Nesta quarta-feira (5), Fortaleza iniciou a terceira fase da vacinação contra a Covid-19, no Centro de Eventos. Nesta etapa, são contempladas pessoas com deficiência permanente, comorbidades, grávidas e puérperas.
Na última quinta-feira (29), idosos não puderam ser vacinados em Fortaleza, devido à falta da CoronaVac. A secretária executiva de Vigilância e Regulação do Ceará, Magda Almeida, porém, estima que o Ceará poderá receber ainda nesta semana carregamentos extras do imunizante para idosos acima de 60 anos que estão com a segunda dose atrasada.
Conforme o Vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), mais de duas milhões de doses (2.118.505) foram aplicadas no Ceará, sendo 1.377.242 primeiras doses e 741.263 segundas doses. Os dados mais recentes foram atualizados às 17h da terça-feira (4).
Fonte: Diário do Nordeste