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Somos todos paraíba – Por J. Flávio Vieira

O médico e escritor J. Flávio Vieira escreve semanalmente neste espaço, sempre aos domingos

3 de agosto de 2019
Somos todos paraíba – Por J. Flávio Vieira

(Foto: Noilton Pereira/DR)

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Os lábios sôfregos de qualquer artista matam a sede nos doces lagos da cultura de tradição. Os primeiros cantadores no Brasil, por um desses estranhos desígnios da natureza, apareceram nos Cariris Velhos, às margens da Serra do Teixeira, aí nos meados do Século XIX: Agostinho Nunes da Costa e seus filhos Antônio Ugolino Nunes da Costa, Ugolino do Sabugi, primeiro grande cantador brasileiro, e Nicandro Nunes da Costa, o poeta ferreiro. Seguiram-se outros ilustres paraibanos como Silvino Pirauá Lima, nascido em Patos, introdutor da sextilha no cordel e na cantoria, do uso da deixa e do martelo-agalopado como se canta hoje; Germano Alves de Araújo Leitão; Romano da Mãe d’Água, Francisco Romano, considerado o maior cantador de seu tempo, tornado legenda pelas famosas pelejas com Inácio da Catingueira, também na Paraíba, o chamado gênio escravo que engrandeceu a cantoria pela beleza e espontaneidade de seu estro. Aprendemos a amar o cordel e beber das suas fontes, através do pai do gênero no Brasil, um outro paraibano de Paulista: Leandro Gomes de Barros. A ele devemos o poema genial, a busca do santo graal da filosofia:

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

Somos, ainda, todos tecidos, sentimentalmente, dos versos do itabaianense Zé da Luz, aquele que o nosso Patativa considerava o maior poeta brasileiro, o amante das três flor de Puxinanã, o poeta que louvava um Brasi Cabôco que já se ia escoando pelos ralos da modernidade que se prenunciava:

O qui é Brasí Caboco?
É um Brasi diferente
do Brasí das capitá.
É um Brasi brasilêro,
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná!

É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro…
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e chapéu de coro!

Brasi caboco num come
assentado nos banquete,
misturado cum os home
de casaca e anelão…
Brasi caboco só come
o bode seco, o feijão,
e as veiz uma panelada,
um pirão de carne verde,
nos dias da inleição
quando vai servi de iscada
prus home de posição

Brasi caboco num sabe
falá ingrês nem francês,
munto meno o português
qui os outros fala imprestado…
Brasi caboco num inscreve;
munto má assina o nome
pra votar pru mode os home
Sê gunverno e diputado

Mas porém. Brasi caboco,
é um Brasi brasileiro,
sem mistura de instrangero
Um Brasi nacioná!

Untamo-nos, também, na doce irreverência do poeta de Diamante, na Paraíba, Pompílio Diniz, quando narra a saga eleitoral do interior, um jogo de cartas marcadas, onde sobra ao povo apenas o sobejo dos banquetes dos espertalhões:

Seu dotô, pras nossas banda,
Quando é tempo de inleição
Os candidatos é quem manda
Dá comida e condução…
E todos que vão votar
Come inté arripuná
Carne de porco e pirão

Aqui só tem dois partido
O governo e a opusição
O resto é desconhecido
Que o cabra queira ou qui não
Tem qui iscuiê um dos dois
Pra puder votar, dispois
No dia da inleição

Porém nenhum deles presta
Nem se conhece esses home.
Também nós vamo é pra festa
Tira a barriga da fome.
Dispois, votá pru votá
Do voto que a gente dá
Só se aproveita o que come

Se muitos morrem de repente, o Brasil aprendeu a viver de Repente, na voz de um outro paraibano, Pinto de Monteiro, um dos maiores gênios da raça. Chegou a ser vendedor de cuscuz e vaqueiro até descobrir , de repente, a verve e rapidez do verso:

Cantar com quem canta pouco
é viajar numa pista
com um carro faltando freios
o chofer faltando a vista
e um doido gritando dentro
atola o pé motorista

Eu comparo esta vida
à curva da letra S:
tem uma ponta que sobe
tem outra ponta que desce
e a volta que dá no meio
nem todo mundo conhece

Premonitoriamente parecia prever tempos em que Belzebu tomaria as rédeas da nação:

Há vários dias que ando,
Com o satanás na corcunda:
Pois, hoje, almocei na casa
Duma negra tão imunda,
Que a prensa de espremer queijo
Era as bochechas da bunda!

A busca libertadora da educação como única saída para o Brasil, já tinha saltado da verve poética e profética de um bardo de Puxinanã, Zé Laurentino, que incorporou a voz do matuto iletrado:

Pode acreditá douto
Eu vivo sentindo fome
Mas não é fome de comida
Lá em casa a gente come
Tem dinheiro na gaveta
Eu sinto fome é das letra
Eu quero assiná meu nome

P’ra eu não mandá lê carta
Pelos fí de seu Honoro
Pruquê as veis é segredo
E ele espaia o falatoro
Descubrindo os meu segredo
Pra eu não suja mais os dedo
Nos tinteiro dos cartoro

P’ra não anda preguntando
Os carro pra donde vão
P’ra quando eu fô p’ra os banco
Não leva pricuração
Quero meu nome assina
Prumode eu também vota
Nos dia de eleição

Me ensine lê seu douto
Eu peço pru caridade
Voimicê que é sabido
Que mora aqui na cidade
Me ensine a lê e conta
Prumode eu completa
A minha felicidade

E foi também através de um poeta do Teixeira que a poesia brasileira começou a trilhar os oníricos caminhos do Surrealismo. Zé Limeira fez-se o nosso Salvador Dali da cantoria, abrindo picadas até então nunca percorridas:

Meu verso merece um rio
Todo enfeitado de coco,
Boa semente de gado,
Bom criatoro de porco,
Dizia Dom Pedro Segundo
Que a coisa melhor do mundo
É cheiro de arroto choco

São Pedro, na sacristia,
Batizou Agamenon,
Jesus entrou em Belém
Proibindo o califom,
Montado na sua idéia,
Nas ruas da Galiléia
Tocou viola e pistom

Quando Jesus veio ao mundo
Foi só pra fazê justiça:
Com treze ano de idade
Discutiu com a doutoriça,
Com trinta ano depois,
Sentou praça na puliça

Cantador pra cantar com Limeirinha
É preciso ser muito envernizado,
Ter um taco de chifre de veado
E saber decorado a ladainha,
Ter guardado uma pena de andorinha,
Condenar pra sempre o carnaval,
Guardar terra de fundo de quintal
E é preciso engrossar o pau da venta,
Beber leite de peito de jumenta,
Ediceta, pei-bufo, coisa e tal!

Devemos ainda a um paraibano do Pilar, José Lins do Rego, a saga romanesca do Ciclo da Cana de Açúcar no Nordeste. Entre eles “Fogo Morto”, a obra prima de todo o ciclo. E ao grande homem público e escritor José Américo de Almeida, nascido em Areia, que do alto da casa grande denunciava o esquecimento eterno do Nordeste:

“Existe uma desgraça maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã”

Ariano Suassuna (um outro paraibano genial de Taperoá) ensinou a todos os fundamentos da brasilidade, a difícil convivência entre o Brasil Oficial e o Brasil Real, tão escancarada nos dias de hoje. Devemos a João Melquíades Ferreira, de Bananeiras, o voo pelos ares pátrios do “Pavão Misterioso” , nosso Romeu & Julieta tupiniquim.

A sanfona de Sivuca , conterrâneo de Zé da Luz, e o pandeiro de Jackson, nascido em Alagoa Grande, fizeram a trilha sonora e marcaram o ritmo de muitas vidas Brasil afora. E , tantas sementes lançadas ao vento, disseminaram a sua flora pelo mundo : Vandré, Elba e Zé Ramalho, Biliu de Campina, Canhoto, Chico Pedrosa, João Paraibano, Jessiê Quirino…

Todo esse palavrório, inundando essa manhã de sábado, foi atiçado por um pronunciamento recente, banhado no preconceito mais vil, do presidente desta republiqueta bananosa, contra os nordestinos. Pois aqui tá a resposta, em nordestinês, seu rascunho de mapa do inferno, seu oreia seca, infeliz das costa oca, seu malassombro, seu mequetrefe. Tu é tão bilé, tão abirobado, que não imagina que, por tudo isso que falei, ser paraíba não nos rebaixa. Isso é elogio para nós ! Somos todos paraíba, sim, com muito orgulho e brio. Daqui um pouquinho, a roda desta vida terá dado cavalo de pau e tu voltará para o rabujo de novo. Talvez , arrodeado de babões sem maior valia, tu nem imagine que o nosso vício é a esperança, é ela que nutre todos os paraíba, como bem dizia o mais popular poeta erudito brasileiro , o também paraibano Augusto dos Anjos:

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança

Ediceta, pei-bufo e coisa e tal!

Por J. Flávio Vieira, médico e escritor

*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri

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