Municípios da região do Cariri sem leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) vêm registrando um número cada vez maior de casos confirmados de Covid-19. Com isso, crescem as dificuldades para transferir pacientes com a doença aos hospitais de referência, bem como a preocupação com o abastecimento de oxigênio nas enfermarias disponíveis.
No Ceará, apenas 23 municípios possuem UTIs para tratamento dos casos mais graves de Covid, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). E quatro destes – Brejo Santo, Crato, Barbalha e Juazeiro do Norte – ficam na região do Cariri.
Até o início da noite dessa sexta-feira (30), porém, a taxa de ocupação em leitos de UTI adulto nas quatro cidades ultrapassava os 90%. Em Juazeiro do Norte e Brejo Santo a taxa já chegava a 100%, conforme dados colhidos na plataforma IntegraSUS, alimentada pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
Situação “precária”
Por contar somente com hospitais de pequeno porte e alguns leitos de enfermaria, municípios menores da região precisam realizar regulações para cidades próximas, sempre que necessário. Ontem, cinco pacientes do Hospital Municipal de Farias Brito foram transferidos para leitos de UTI em Iguatu. Segundo a secretária municipal de Saúde, Marcleide Nascimento, a situação de abastecimento de oxigênio na cidade está precária.
“Se nós continuássemos com esses pacientes aqui, que têm a necessidade maior de litros [de oxigênio], nós íamos ficar sem condições de atendimento para os demais”. O hospital do município tem 16 leitos para Covid-19 e todos estão ocupados. A unidade não conta com UTI e tem apenas uma sala de estabilização.
“Todos os municípios da região estão passando por essa situação, principalmente os municípios de pequeno porte, porque nós não temos UTI. As vagas de UTI aqui dos hospitais da região estão estranguladas”, relata.
Segundo a secretária, o número de casos sofreu um aumento considerável nas últimas duas semanas. O município, de acordo com o IntegraSUS, tem incidência de 9,619.5 diagnósticos positivos por 100 mil habitantes, totalizando 1.871 casos confirmados, 275 em investigação e 31 mortes.
Reabastecimento
A preocupação com o nível de abastecimento de oxigênio também está presente em Assaré. Sheyla Martins, secretária da Saúde do município, detalha que dois pacientes com Covid seguem internados no hospital de pequeno porte da cidade e outros dois precisaram ser transferidos para unidades de referência. Como o hospital não conta com usina de oxigênio, os cilindros são checados frequentemente.
“Tem que ficar atento 24 horas para que, ao esvaziar um cilindro, a gente já esteja trocando, indo atrás do fornecedor. Por medo mesmo de chegar a momentos críticos e para que não falte oxigênio para os nossos pacientes”, diz. Atualmente, 1.325 casos de Covid-19 foram confirmados em Assaré e os casos ativos estão sendo acompanhados por equipes de saúde da família. O município contabiliza ainda 149 casos em investigação e 27 mortes pela doença.
Secretária de Saúde de Nova Olinda, Kaline Barbosa observa que o número de pacientes com coronavírus vem aumentando dia após dia, mas garante que não houve registro de falta de oxigênio. “É uma preocupação, mas até o momento não teve essa falta”.
De acordo com Kaline, as empresas fazem o reabastecimento do gás sem problemas, mas há dificuldades quanto à capacidade de disponibilizar novos cilindros. “A gente tem conseguido abastecer, mas as empresas não estão conseguindo deixar muitos cilindros a postos nos hospitais. Esse é um temor de todos”.
Maior demanda
Hoje, o Hospital de Pequeno Porte Ana Alencar Alves, de Nova Olinda, conta com uma sala de estabilização e oito leitos de enfermaria para tratamento da doença. Seis deles estão ocupados. “Antes, a gente tinha no máximo três pacientes internados no nosso hospital local. Até agora, os pacientes mais urgentes a gente conseguiu regular. Mas está cada vez mais difícil porque a fila está crescendo”, reforça a gestora, revelando que o município já se prepara para atender mais pacientes com Covid-19.
“Pelo que a gente anda vendo em todos os municípios circunvizinhos, eles estão todos apertados, um sempre procurando ajudar o outro porque está ficando uma situação complicada pra todo mundo. Sorte ainda ter municípios como o nosso conseguindo manter e garantir os insumos”. A depender do nível de gravidade, pacientes de Nova Olinda são transferidos para Iguatu, Brejo Santo, Crato, Juazeiro do Norte ou Barbalha.
Assim como Nova Olinda, a cidade de Altaneira também não apresenta problemas com o fornecimento de oxigênio e precisa recorrer a municípios maiores para leitos de maior complexidade. No dia 28, de acordo com o secretário da Saúde do município, Joaquim Paulino da Silva Júnior, um paciente de 59 precisou de leito de UTI, mas não resistiu à viagem até Juazeiro do Norte, vindo a óbito no Hospital Regional do Cariri. Altaneira tem 372 casos confirmados de Covid-19, 43 em investigação e 13 óbitos.
Diretora administrativa da Unidade Mista de Saúde de Potengi, Luiza Wlliane também confirma o aumento de diagnósticos positivos na cidade e maior demanda pelo uso de oxigênio. Apesar disso, garante que o fornecimento do insumo para pacientes das enfermarias da unidade ainda não foi impactado.
“A gente tem feito um trabalho intenso para manter os torpedos sempre abastecidos, sempre tem cuidado de ficar olhando, verificando e, até o momento, temos conseguido manter os pacientes fazendo uso do O2 tranquilamente”.
Apreensão
As transferências de pacientes mais graves de Potengi para cidades onde há hospitais de referência, também são poucas. Recentemente, houve apenas duas regulações, sendo uma para Barbalha. A Unidade Mista de Saúde do município tem cinco leitos de enfermaria, hoje todos ocupados por pacientes, entre casos positivos e suspeitos de coronavírus. Dois deles estão usando oxigênio.
Localizada na mesma região de Saúde das demais cidades acima mencionadas, Orós precisa garantir oxigênio para pacientes que ocupam oito dos 11 leitos de enfermaria disponíveis no município.
O município, aponta o IntegraSUS, acumula 2.267 casos confirmados de Covid-19 e 60 mortes pela doença. O número de exames realizados na cidade já chega a 6.065.
Apesar de não ter registrado falta do gás até o momento, a secretária municipal de Saúde Zuila Maciel admite que a apreensão com o desabastecimento é constante.
“Tem hora que fica no sufoco. Hoje mesmo o carro só vai chegar umas 19 horas. A gente tem medo de chegar outros pacientes e não ter oxigênio”.
Fonte: Diário do Nordeste