Pela primeira vez desde 2018, as precipitações registradas nos primeiros três meses da quadra chuvosa –período que se estende de fevereiro a maio – deste ano ficaram abaixo da média, no Ceará. Para maio, a expectativa é de chuvas em torno da média.
Conforme dados parciais da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o acumulo médio de fevereiro a abril foi de 433 milímetros, o que representa 13,2% abaixo da média histórica para o trimestre (510,1 mm). Os números podem sofrer alteração quando os dados pluviométricos desta sexta-feira (30) forem computados.
Em 2020, 2019 e 2018 o trimestre fechou com balanço positivo. O ano passado foi o que teve maior acumulado de chuva para o período: 645,9 mm, o que representa desvio positivo de 26,6%. Em 2019, choveu 595,3 mm (+16,7%) e, em 2018, a Funceme registrou acumulado médio de 539,1 mm (+5,7%).
Predominância de chuvas abaixo da média
Apesar desta boa sequência, chuvas abaixo da média histórica foram predominantes na última década. De 2021 a 2012, o trimestre fevereiro-abril terminou com pluviometria aquém do normal em sete oportunidades. O ano com menor chuva foi 2013, com somente 269,3 mm, o que representa 47,2% abaixo da média.
Na década anterior, o cenário foi mais favorável. De 2012 a 2002, foram seis anos com chuvas acima do normal para o período e quatro anos com pluviometria acima da média. O ano mais chuvoso neste recorte temporal aconteceu em 2009, com chuva média de 725,6 milímetros, o que significa desvio positivo de 42,3%. O pior ano foi 2010, com 257,6 mm ou 49,5% abaixo da média.
Distribuição pluviométrica
No trimestre-abril deste ano, apenas o Sul do Estado – com exceções de algumas cidades – teve pluviometria acima ou dentro do normal. Essa concentração de chuvas conferiu à região do Cariri o status de única a atingir chuvas acima da média.
Por lá choveu 577,6 mm, o que representa 4,5% acima do normal para a região, que é de 552,5 milímetros. Em todas as demais regiões cearenses o acumulo ficou abaixo da média, embora algumas cidades do Centro-Sul e Norte registraram bons acumulados pluviométricos, conforme pode ser verificado no mapa abaixo.
Já as menores médias acumuladas foram registradas no Litoral de Pécem e Litoral Norte. Na primeira região choveu 391,4 mm, o que representa desvio negativo de 30,6% frente a média para região que é de 391,4 mm. Já no Litoral Norte, a Funceme anotou pluviometria de 530,5 mm, isto é, 19,2% abaixo da média (656,8 mm).
Projeção para maio
O último mês da quadra chuvosa inicia com condições favoráveis de chuva, segundo explica Meiry Sakamoto, gerente de meteorologia da Funceme. “Na primeira semana do mês os volumes podem alcançar volumes entre 30 a 60 milímetros em boa parte do Estado”, detalhou. No Cariri e na região Jaguaribana os índices podem ser um pouco menores.
“A previsão é de que na primeira semana, as chuvas, em média, fiquem em torno ou ligeiramente acima do normal.”
Meiry Sakamoto, gerente de meteorologia da Funceme
No entanto, a partir da segunda semana, as precipitações tendem a se concentrar mais na faixa litorânea “com volumes acumulados girando em torno da normal climatológica”. para maio, a média é de 90,6 mm, abaixo das médias de abril e março.
Confira o cenário de 2021 mês a mês:
• Janeiro: choveu 45,4 mm – 54% abaixo da média que é 98,7 mm
• Fevereiro: choveu 125,9 mm – 6,2% acima da média que é 118,6 mm
• Março: choveu 188,6 mm – 7,3% abaixo da média que é 203,4 mm
• Abril: choveu 128,5 mm – 31,7% abaixo da média que é 188 mm
Previsão confirmada
Este cenário de chuvas reduzidas no trimestre fevereiro-abril coaduna com o que fora projetado, no início do ano, por meteorologistas da Funceme. No fim de janeiro, o órgão divulgou que o Ceará tinha 50% de probabilidade de receber chuvas abaixo da média histórica nos meses iniciais da quadra chuvosa. O estudo apontava ainda que as chances de chuva acima da média eram de apenas 10%.
A projeção se baseava nos modelos de previsão climática que, àquela altura, indicavam a presença de um gradiente de chuvas sul-norte, acarretando anomalias negativas de chuvas que apontam para precipitações abaixo da normal.
Já o prognóstico traçado pela sabedoria popular, até agora, não se concretizou. Os “Profetas da chuva” de Quixadá, no Sertão Central, projetavam pluviometria acima da média na quadra chuvosa deste ano. Os Profetas, também chamados de ‘guardadores de experiências de chuva’, analisam os sinais da natureza para, através deles, realizaram suas previsões. A tradição é secular.
Quadra chuvosa
Restando agora apenas o mês de maio para encerrar a quadra chuvosa, este período quadrimestral, no acumulado, tende a ser de pluviometria abaixo da média. Em se confirmando, este ano engrossará as estatísticas nada favoráveis no Estado. O ano passado foi o único da última década a fechar o período com chuvas acima da média.
Segundo a Funceme, de fevereiro a maio de 2021 choveu mais de 730 milímetros, superando em 12% a média histórica – de 695,8 mm. Desde 1973, quando o órgão meteorológico passou a disponibilizar os dados pluviométricos, somente em 12 ocasiões o quadrimestre fechou com chuvas acima da média.
A pré-estação (dezembro de 2020 e janeiro de 2021), apesar de não ter correlação com a quadra chuvosa devido aos sistemas — ou fenômenos — indutores de chuvas serem distintos, fechou com 52% abaixo da média histórica para este período. No acumulado dos dois meses a Funceme anotou 61,6 milímetros, enquanto a média histórica é de 130,3 milímetros.
Açudes cearenses em estado de alerta
As chuvas reduzidas em boa parte do Estado impactaram diretamente a recarga nos reservatórios cearenses monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). De acordo com o órgão, o volume médio dos 155 açudes é de atualmente 27,8% O índice é inferior ao observado em igual data do ano passado (33,3%), mas superior ao registrado entre 2019 e 2015.
Volume dos açudes em 30 de maio:
• 2021: 5,161 bilhões m³ – 27,8%
• 2020: 6,172 bilhões m³ – 33,3%
• 2019: 3,698 bilhões m³ – 20,1%
• 2018: 3,065 bilhões m³ – 16,7%
• 2017: 2,327 bilhões m³ – 12,6%
• 2016: 2,284 bilhões m³ – 12,3% (pior ano)
• 2015: 3,517 bilhões m³ – 19%
• 2014: 5,652 bilhões m³ – 30,8%
• 2013: 7,576 bilhões m³ – 42,4%
• 2012: 11,957 bilhões m³ – 67,1% (melhor ano)
Apesar disso, a Cogerh prega cautela no consumo da água, uma vez que o volume hídrico, após o fim da quadra chuvosa, não tem significativo aporte devido a diminuição de chuvas do segundo semestre. O Ceará conta com 18 açudes sangrando e 50 com volume abaixo de 30%. Onze reservatórios estão no volume morto e cinco (Forquilha II, Madeiro, Mons. Tabosa, Pirabibu e Salão) estão totalmente secos.
Por André Costa
Fonte: Diário do Nordeste