O cenário de ocorrência de chuva abaixo da média histórica para os próximos meses de abril, maio e junho é o mais provável para todo o Ceará. A análise é a mais recente e foi feita em encontro virtual de meteorologistas de instituições nacionais e regionais que elaboraram a Previsão Climática Sazonal para a Região Nordeste do Brasil.
Os especialistas consideraram o resultado da maioria dos modelos de previsão sazonal de precipitação e avaliação das condições oceânicas e atmosféricas observadas em fevereiro até meados deste mês de março.
O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes, participou do evento virtual, no último dia 24, e observou que “neste ano, as chuvas serão mais escassas no semiárido nordestino”.
A previsão do modelo estatístico do Inmet mostra que até meados do mês de abril as chuvas ainda devem persistir sobre a região noroeste (Ibiapaba e parte da área norte) do Ceará, devido a influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). “O estudo também indica chuva próxima a média ou ligeiramente abaixo sobre o sul do Ceará”, pontuou Fernandes.
Zona de Convergência
E por que o quadro permanece desfavorável para maior parte do sertão cearense, que tem sido banhado por chuvas isoladas e irregulares somente no fim de fevereiro e a partir da segunda quinzena do atual mês? A resposta está relacionada com a não aproximação da ZCIT, como seria esperado para essa época do ano.
A ZCIT, de acordo com os meteorologistas, costuma se aproximar das áreas onde a temperatura superficial do Oceano Atlântico está mais aquecida.
“Neste ano, o Atlântico Equatorial e o Tropical Sul ficaram com temperatura abaixo da porção norte, desfavorecendo a uma maior aproximação e permanência da Zona de Convergência da costa cearense”, observou Flaviano Fernandes.
“A ZCIT ficar sobre águas aquecidas”. O meteorologista do Inmet prevê que após a segunda quinzena de abril, a ZCIT vai se manter afastada, contribuindo para a ocorrência de chuvas abaixo da média, em particular da porção centro-sul do Ceará.
Funceme
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), por meio de nota, esclareceu que para o Ceará permanece o último prognóstico referente aos meses de março, abril e maio. De acordo com a previsão da Funceme, há 50% de probabilidade de chuvas abaixo da média, 40% em torno da média e de 10% acima.
A gerente de meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, em sua análise mais recente informou que a atual posição da ZCIT está “em torno da linha do Equador não deve influenciar as condições de tempo no Ceará neste início de semana”. Ela reforçou que “as chuvas previstas são ocasionadas pela presença de áreas de instabilidade geradas pelo calor e umidade”.
A Funceme prevê para até quarta-feira (31), “tempo com nebulosidade variável em todas as regiões com eventos de chuva na Ibiapaba e no Cariri. Nas demais regiões, pode ocorrer chuva isolada”.
Reunião
A reunião que definiu previsão climática para o Nordeste brasileiro para o trimestre de abril a junho, contou com a colaboração do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) e do Inmet.
O evento foi coordenado pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) e contou com a participação de representantes da Funceme e de agências meteorológicas e secretarias estaduais dos governos da Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Bahia e do Laboratório de Meteorologia (Labmet) da Universidade do Vale do São Francisco.
Monitoramento
A quadra chuvosa no Ceará ocorre entre fevereiro e maio. Neste ano, o primeiro mês – fevereiro, segundo a Funceme, registrou chuvas em média no Ceará de 126mm, ou seja, 6,2% acima do esperado para o período, que é de 118.6mm.
Já em março, que está findando, as chuvas até hoje (29) estão com déficit de 4,7%. Até o momento choveu 193.8mm e o esperado para o mês são 203.4mm.
Neste ano, a temperatura superficial do Atlântico Tropical Norte (acima da linha do Equador) ficou mais alta (águas mais aquecidas) do que a porção Sul. Essa anomalia para esse período comprometeu a aproximação da ZCIT.
As águas superficiais mais quentes que o normal na região do Atlântico Tropical Norte e o resfriamento das águas superficiais do Atlântico Sul, conforme observado nas análises atualizadas até meados de março tendem a persistir nos próximos meses.
Esse quadro, portanto, é desfavorável ao semiárido nordestino para a atual quadra chuvosa e também para o início do quadrimestre mais chuvoso para o leste da Região Nordeste (abril a julho) na faixa litorânea do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
Por Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste