O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, anunciou ontem, por volta das 15h, que a produção de três vacinas nacionais avançaram para a fase de “pré-teste”, como candidatas a imunizantes para o combate da Covid-19. Ontem, o pedido de uma delas, desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, foi protocolado junto à Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), segundo informou o ministro.
“O ministério investiu em 15 protocolos, tecnologias diferentes de vacina aqui no Brasil. Nós temos cientistas de altíssimo gabarito aqui no país. A boa notícia é que três dessas vacinas avançaram para pré-teste, vamos chamar assim. Agora estão entrando para fase de testes com voluntários”, declarou Pontes a jornalistas, em Brasília.
Ontem pela manhã, por volta das 8h, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) anunciou a ButanVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan, também como candidata a imunizante contra a Covid-19. A diferença entre os anúncios do governo paulista e do governo federal foi de cerca de sete horas, portanto.
“Do meu ponto de vista deve ter sido uma coincidência que ele [Doria] apresentou em São Paulo, o que é bom para o país. A gente precisa ter várias vacinas nacionais. É importante.”
Marcos Pontes, ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações
Auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentam negar que a iniciativa seja uma reação a Doria, mas fizeram questão de destacar alguns pontos em que, na avaliação deles, o governo de São Paulo estaria mentindo.
De acordo com fontes do Planalto ouvidas pela reportagem, o governo paulista ainda não teria condições de cumprir o calendário anunciado, como iniciar a produção em abril, já que as linhas de produção estariam com produção de outras vacinas (influenza) ocupadas até maio. Outro argumento que os auxiliares tentam reforçar para diminuir o anúncio de Doria é de que o governo de São Paulo não estaria sendo transparente, ao não divulgar de onde virão os recursos para a produção da ButanVac.
Segundo o governo, com o orçamento de 2021 aprovado ontem pelo Congresso, o MCTI tem “garantidos R$ 200 milhões para o financiamento de estudos clínicos como continuidade do desenvolvimento de vacinas brasileiras”.
Pedido de estudo na Anvisa
Embora o ministro Pontes tenha destacado em sua entrevista que o protocolo fora enviado ontem à Anvisa, a agência divulgou ontem, às 15h47 em seu site, que recebeu o pedido para realização de estudo fase 1 e 2 da vacina Versamune®?-CoV-2FC. “Trata-se de uma vacina desenvolvida numa parceria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, a empresa Farmacore e PDS Biotechnology, dos Estados Unidos”, comunicou a Anvisa.
A fabricação do imunizante foi coordenada pelo pesquisador Célio Lopes Silva. Ele é professor titular de Imunologia e Biotecnologia do Departamento de Bioquímica e Imunologia da faculdade. O especialista é graduado em Farmácia pela USP, mestre e doutor em Bioquímica pela USP e pós-doutor pelo National Institute for Medical Research, em Londres.
“Segundo os procedimentos da Anvisa, a análise considerará a proposta do estudo, o número de participantes e os dados de segurança obtidos até o momento nos estudos pré-clínicos que são realizados em laboratório e animais”, acrescenta a agência.
Segundo Pontes, os cientistas brasileiros vêm trabalhando na elaboração das vacinas desde fevereiro do ano passado. Apesar de ainda não definido, o nome do imunizante deve conter as letras BR, em alusão ao Brasil.
“É uma estratégia extremamente importante para o país o desenvolvimento de vacina nacional, primeiro porque existem mutações do vírus, então tendo o controle completo da vacina a gente pode adaptar. Segundo, porque fica mais barato. Terceiro, porque o desenvolvimento dessas tecnologias vão apoiar não só a vacina da Covid, mas também outras vacinas para outras pandemias. E finalmente isso é estratégia de soberania nacional. A gente viu a dificuldade que tivemos para importação. É uma estratégia que segue em paralelo”, explicou o ministro do governo Bolsonaro.
As três vacinas avaliadas na Anvisa
No dia 6 de março, a Anvisa informou que estava avaliando três vacinas desenvolvidas pelo Brasil. Uma delas seria a Versamune®?-CoV-2FC, anunciada ontem.
“Em 15 de fevereiro, a empresa encaminhou documentos para análise preliminar da Anvisa. A Agência está analisando os documentos e vai fornecer aos desenvolvedores do imunizante as informações para instruir um futuro pedido formal de realização de estudos clínico fase 1 e 2 no Brasil”, disse a agência na ocasião.
A segunda delas é uma iniciativa do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Funed – Fundação Ezequiel Dias. “Os estudos estão em fase pré-clinica, quando são feitos testes em animais. Já foram feitas reuniões preliminares entre os que desenvolvem o imunizante e a Anvisa”, afirmou a Anvisa.
A terceira iniciativa é desenvolvida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o nome de UFRJ-Vac. “A Anvisa realizou reuniões para discutir as estratégias para execução dos estudos não-clínicos. Foram realizadas duas reuniões, em agosto e setembro de 2020. A Agência aguarda novos contatos dos desenvolvedores.”
A Anvisa informa que, assim que receber o pedido formal de autorização de estudos para essas três vacinas, “atuará com máxima atenção e celeridade”.
Testes da ButanVac
O Instituto Butantan pretende iniciar em abril os testes com a vacina ButanVac, anunciada ontem como novo imunizante candidato para o combate da Covid-19. Segundo o governador de São Paulo, João Doria, o pedido de liberação para o início da fase 1 foi realizado ontem para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A previsão é que a distribuição da vacina desenvolvida pelo Butantan comece em julho. O anúncio da vacina foi adiantado ontem pelo jornal Folha de S. Paulo. Após passar por testes pré-clínicos, quando foram avaliados em animais efeitos positivos e toxicidade, a vacina deve ser testada agora em seres humanos depois de autorização da Anvisa.
“Os resultados dos testes pré-clínicos se mostraram extremamente promissores, o que agora nos permite evoluir para testes em voluntários já em abril, desde que a Anvisa autorize’, disse Doria, ontem pela manhã.
Três fases clínicas para vacinação em massa
Para pedir a autorização para a aplicação em grande escala, uma vacina precisa cumprir três fases clínicas. Na primeira, a pesquisa avalia a segurança e possíveis reações indesejáveis da aplicação da vacina. Nessa etapa verifica-se de forma preliminar a capacidade de gerar anticorpos contra o novo coronavírus.
Na sequência, a segunda fase avalia a dosagem, a forma de vacinação com componentes mais adequados e a capacidade de gerar anticorpos (contra o novo coronavírus) em um grupo maior. Já a fase 3 é feita em grandes populações para avaliar a segurança e a eficácia da vacina.
Segundo o Butantan, a expectativa é que a fase 2 também comece em abril, com 1,8 mil voluntários. Na fase 3, até 9 mil pessoas irão participar.
Fonte: UOL