Passear nunca fez tanta falta. Ver gente, sentir outros lugares, tocar no mundo. Aglomerar a felicidade, coisas que um passeio pode proporcionar. Quanto tempo não nos passeamos? É tempo estranho, em que os versos tomam forma de gritos e que as ruas ganham fechaduras. O abraço está em extinção, assim como a esperança que sempre esteve presente como o ar.
Os corpos se atrofiam entre as paredes, pouco sol, as geladeiras, algumas cheias, outras vazias e em algumas nem geladeira, nem comida, apenas casas cheias de silêncio e de olhares perdidos.
Os velórios já não têm caldo e café para sustentar o choro e juntar despedidas.
Alguns espiam pelas frestas, rostos mascarados escondem o medo pelas calçadas e desconfiam do invisível. A ciência se coloca como um amor vital. Os senhores dos templos negam o amor e a ciência, outros se recusam.
O ar já não é mais o mesmo, os corpos estão desaparecendo, tão rápidos como estrelas cadentes. É preciso se esconder, mesmo não sabendo onde se esconder. É preciso não se encontrar, fechar as portas para abrir a vida.
Faz falta o abraço apertado, a piada alta e os sons dos corações. Fiquemos trancados, ensaiando a felicidade, do lado de fora, o passeio é um chamado de morte.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri