A luta diária travada no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus ganhou um novo elemento que impõe contornos ainda mais dramáticos nesta batalha pela vida: o risco de falta de oxigênio. Neste fim de semana, a empresa White Martins – principal fornecedora de oxigênio líquido às redes pública e privada do Ceará – afirmou que tem estoque do insumo garantido, mas alertou para o crescente consumo e a falta de preparação adequada por parte de empresas menores, assim com os próprios municípios.
O alerta motivou um encontro na tarde desta segunda-feira (8), entre a Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), prefeitos, empresas fornecedoras, fabricantes de oxigênio, Procuradoria-Geral de Justiça do Estado e a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). O objetivo é mapear a situação das prefeituras e tratar do risco ao abastecimento de oxigênio hospitalar para os municípios.
No entanto, esse risco, por ora, está descartado, conforme apontam gestores de algumas cidades do Interior. A secretária adjunta de saúde de Pacatuba, Dra. Olímpia Azevedo, confirmou que não há desabastecimento no Município.
“Não há falta, o que existe é uma preocupação com o aumento dos casos. Não sabemos até quando vai ficar aumentando e isso causa preocupação, não só pelo oxigênio, mas por todos os outros insumos e vagas nos leitos”, pontou.
Questionada quanto ao estoque atual de Pacatuba, a gestora não soube precisar, mas ressaltou que “o Município tem recebido oxigênio de quatro a cinco vezes por dia”. O número é quatro vezes maior do que o habitual. “O Natural é vir uma vez por dia. Mas esse natural não ocorre desde fevereiro, quando os casos começaram a crescer”. Para garantir o estoque, Olímpia pontuou que “tem mantido contado permanente com a empresa fornecedora”.
• Pacatuba soma 3.171 pessoas infectadas pelo coronavírus, das quais 98 morreram. Números da Sesa apontam ainda que 2.508 pessoas já se recuperaram da doença.
Consumo crescente
Em Pentecoste, a secretária da Saúde, Nerilene da Silva Nery, também afirmou que não há falta do insumo, mas alertou para o consumo que tem tido rápida escalada. “Em nenhum momento tivemos falta de oxigênio. Tivemos um pico de casos na semana passada e consequentemente o fluxo foi maior, mas não houve falta em nenhum momento”, pontuou.
Ela ressalta que os pacientes infectados pela Covid-19 nesta segunda onda da doença têm apresentado quadros mais graves se comparado ao ano passado.
“Temos identificado um perfil diferente dos pacientes nesta segunda onda. Além do aumento nos casos, os pacientes chegam com mais gravidade, necessitando de internação. Na primeira onda, o paciente consumia em média 5 a 6 litros por minuto. Agora, essa média subiu para 10 a 15 litros. Isso faz naturalmente com que a demanda aumente”, detalha Nerilene.
Para contemplar a volumosa demanda, o Município montou um esquema especial de reposição de estoque. Na última quinta-feira, dia 4, foram adquiridos 65 cilindros. “A intensão é ter sempre oxigênio extra para 48 horas”, pontuou Nerilene.
• Pentecoste já tem 42 mortes por decorrência do novo coronavírus. Ao todo, são 1.617 pessoas infectadas, com 980 casos de recuperação. Os números são da Sesa.
Além do material comprado aos fornecedores, Pentecoste dispõe de uma usina com suporte para atender até oito pacientes, “que tem sido nossa média atual”, segundo informou a secretária. “Caso ocorram picos, utilizamos os cilindros. Mas o planejamento é justamente para não faltar”, finalizou.
Em Santa Quitéria, o aumento no consumo também foi expressivo. De acordo com o secretário da Saúde, Adeilton Mendonça Amaro, atualmente “estão sendo gastas de 15 a 20 balas de oxigênio dos grandes”. O volume é quatro vezes maior do que o consumido no início do ano.
Apesar disso, o gestor garante que não há falta de oxigênio. “O Município está abastecido. Todos os dias solicitamos e os cilindros são repostos”, afirmou.
• Santa Quitéria tem atualmente 2.984 infectados pela Covid-19, dentre as quais 26 vieram a óbito. Conforme dados da Sesa, 2.246 pessoas já se recuperaram da doença.
Sinal de alerta
Júnior Menezes, prefeito de Chorozinho e presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), destaca que, apesar de os municípios alegarem ter estoque de oxigênio, a necessidade frequente de reposição do gás hospitalar a cada um ou dois dias é motivo de preocupação.
Menezes aponta que empresas distribuidoras têm enviado ofícios para as gestões municipais informando sobre a possibilidade de faltar oxigênio medicinal devido à alta demanda.
“Temos sido contactados por alguns colegas relatando essa dificuldade, que empresas que fornecem o oxigênio têm enviado ofícios dizendo para se prepararem, porque estão com dificuldades para atender a demanda”, afirmou.
Segundo Enéas Romero, promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (Caocidadania), a questão é acompanhada pelo órgão desde janeiro, “quando foram requisitadas informações à Sesa, à Secretaria de Saúde de Fortaleza e à White Martins”. As três garantiram que há estoque para consumo.
“Entretanto, nas duas últimas semanas, o MP tomou conhecimento de alguns municípios que não se prepararam e onde começou a haver escassez e risco de falta de oxigênio para os pacientes já internados. Temos recomendado que ampliem sua capacidade”, pontua o promotor.
Além de oxigênio para pacientes que necessitem, o Ministério cobra também o abastecimento contínuo de “outros insumos, relativos à intubação, sedação e algumas drogas de consumo maior durante a pandemia”.
O MPCE expediu recomendação de garantia de abastecimento de oxigênio a 33 municípios cearenses. Confira a lista:
• Ararendá, Banabuiú, Boa Viagem, Camocim, Campos Sales, Caririaçu, Cascavel, Caucaia, Choró, Crato, Croatá, Eusébio, Fortaleza, Frecheirinha, Graça, Granjeiro, Guaraciaba do Norte, Guaramiranga, Ibaretama, Ibicuitinga, Iguatu, Independência, Ipaporanga, Itaitinga, Itapajé, Itapipoca, Itapiúna, Ipueiras, Jardim, Jati, Juazeiro do Norte, Madalena, Maranguape, Mauriti, Orós, Penaforte, Poranga, Porteiras, Quixadá, Quixeramobim, Quiterianópolis, São Benedito, Santana do Acaraú, São Luis do Curu, Sobral, Tamboril e Umirim.
Por André Costa e Theyse Viana
Fonte: Diário do Nordeste