As chuvas para os próximos três meses (fevereiro/março/abril) no Ceará têm 50% de probabilidade de ficarem abaixo da média histórica para o trimestre, conforme anunciou ontem (20) o presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio. Embora o estudo verse sobre todo o Estado, há algumas regiões que inspiram maior atenção.
De acordo com titular da Secretaria dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, enquanto a região Norte deverá receber bons volumes, o Sertão Central e Sul do Estado, tendem a ter um cenário mais crítico, com chance de reduzidos eventos pluviométricos. A explicação para esse cenário divergente, segundo Sávio, “se deve pelo posicionamento das águas aquecidas do Atlântico Equatorial Norte”.
Essas regiões concentram importantes açudes, que são estratégicos para o abastecimento de uma grande gama da população cearense. “A Bacia do Banabuiú está em torno de apenas 10% de seu volume, assim como o Médio Jaguaribe. Já o Alto Jaguaribe tem 20%”, ilustrou Teixeira.
Estas localidades “terão atenção especial” para que se evite um colapso hídrico, afirma Teixeira. A estruturação passa por uma atuação multissetorial, com elo entre Cagece, Cogerh, Funceme e a própria SRH. Teixeira destaca o “grande volume de poços perfurados nos últimos anos em áreas de maior criticidade”, além de enumerar outras intervenções, como a construção de açudes e adutoras, cujo objetivo é diminuir a dependência da chuva para o abastecimento humano, irrigação e dessedentação animal.
Investimento
Especialistas apostam em grandes projetos para melhorar a oferta de água a médio e longo prazos no Ceará. O primeiro deles é o Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf), que deve garantir substancial aporte ao Castanhão, maior açude do Ceará. O reservatório, que hoje tem apenas 10,74% de volume, abastece mais de 4 milhões de pessoas.
O outro é projeto Malha D’Água, que prevê a construção de redes de adutoras permanentes distribuídas pelo Estado. A obra, cujo investimento supera a ordem de R$ 5,5 bilhões, vai atender nove cidades e 38 distritos serão atendidos. O projeto, que terá marcante atuação justamente na porção mais crítica do Estado – Sertão Central – fará a captação e tratamento da água em estações instaladas nos açudes beneficiados. Depois, a água segue em dutos para outros reservatórios.
Segundo Teixeira, a licitação para construção de quase 700 km de adutoras está prevista para o próximo dia 9 de março, pela Procuradoria-Geral do Estado. “Esse é o grande projeto do Sertão”, pontuou Teixeira. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará também já licitou, ainda segundo o titular da SRH, a construção da Planta de Dessalinização de Água Marinha na Região Metropolitana de Fortaleza.
A usina será construída no bairro Praia do Futuro e terá capacidade de produção de 1 m³/s. Teixeira lembra que o projeto é importante para “evitar que se traga mais água do Sertão”. A soma dessas ações, segundo especialistas, é o caminho mais assertivo para convivência com a seca.
“Estamos nos aprimorando para termos uma infraestrutura hídrica cada vez mais robusta para poder atravessar esses períodos críticos, que serão mais recorrentes e extremos. É isso que todos os estudos de mudanças climáticas preconizam. Então temos que ficar atentos no presente, mas de olho também no futuro”, concluiu Francisco Teixeira.
Atenção no ‘agora’
Embora o futuro já esteja em pauta, o presente se encarrega de seus próprios desafios. A probabilidade de só 10% de chuvas acima da média para os próximos três meses no Ceará – há outros 40% de chance de chuvas em torno da média – traz preocupação imediata. O secretário executivo da SRH, Aderilo Teixeira, lembra que além de dificultar o abastecimento humano, o reduzido volume pluviométrico afeta a produção agrícola de grãos de sequeiro e de outras culturas, com perda de safra e de renda para os agricultores familiares.
Aderilo adverte para a extrema necessidade do uso racional da água. O presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), João Lúcio Farias, compartilha o mesmo apelo. “É preciso ter o máximo de cuidado para não haver colapso”. Ele evidencia preocupação com as “cinco sub-bacias do Jaguaribe e com os Inhamuns”.
Atualmente, o volume de água acumulado nos 155 açudes monitorados pela Cogerh é de 25,03%. Apesar de o índice ser melhor do que verificado em anos anteriores, Teixeira lembra que, com a probabilidade de chuvas abaixo da média, a recarga hídrica fica comprometida.
“O aporte nos açudes em 2021 pode estar comprometido. Desta forma, nós trabalhamos já visando 2022, pois as águas desses reservatórios têm que garantir suporte ao longo de todo esse ano e início do próximo. Por isso é fundamental ter extremo cuidado no controle da água desses reservatórios”, detalha.
Prognóstico
A previsão divulgada ontem (20) analisou, segundo a Funceme, as condições atmosféricas e oceânicas, além dos resultados de modelos numéricos globais e regionais e de modelos estatísticos de diversas instituições do Brasil, como Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Nas últimas duas décadas, em apenas 5 anos foram registradas chuvas acima da média no trimestre correspondido entre fevereiro a abril.
Por André Costa/Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste