Muitas cidades interioranas ainda têm nas feiras livres o principal ambiente para comercialização de hortifrútis. Com preços mais atrativos e produtos geralmente frescos e livres de agrotóxicos, esses espaços costumam atrair grande público. No entanto, com a chegada da pandemia do novo coronavírus, a realidade mudou. O fluxo de clientes regrediu e os prejuízos se acumularam.
Feirantes de Iguatu e Juazeiro do Norte, no Sul do Estado, apontam queda de 30% nas vendas no primeiro semestre de 2020. Contudo, na tentativa de atrair novamente o público, feirantes adotaram, por conta própria e de forma mais rigorosa, diversas medidas sanitárias que possam conferir segurança ao cliente e, assim, chamá-lo de volta.
“Não recebemos nenhum tipo de instrução, seja da Vigilância Sanitária ou da Secretaria de Meio Ambiente e Serviços Públicos do Município (Semasp), mas sabemos que, garantindo segurança ao cliente, ele tende a voltar. Além disso, é bom até pra gente, pois todos têm medo da doença e com uso de máscara e gel ficamos mais seguros”, detalhou a vendedora Luiza Baptista, que tem uma banca na feira do bairro São Miguel, em Juazeiro do Norte.
Em nota, a Semasp questionou a informação e garantiu que “vem realizando fiscalizações nas feiras e mercados públicos da cidade com orientações sobre os protocolos de segurança sanitária”.
Vendedor de verduras e legumes, o juazeirense Arnaldo Barbosa, 42, conta que alterou sua rotina e, agora, começa a perceber o reaquecimento das vendas. Rigoroso, ele explica que a cada atendimento, lava as mãos e faz uso do álcool em gel. “O cuidado que a gente tem em casa tem que ter na rua. Ainda mais porque os nossos clientes são idosos”.
Em Juazeiro, a ampla maioria utiliza máscaras faciais e oferta álcool em suas barracas. A disposição dos locais também mudou. As barracas agora ficam mais afastadas uma das outras, reduzindo o contato entre clientes e feirantes. O mesmo acontece na feira livre de Iguatu.
O casal Valdécio de Araújo e Cicélia Pereira trabalha na feira há 11 anos. Após superado o período de proibição das feiras – em atendimento aos primeiros decretos do Governo do Estado – a rotina deles também foi alterada. Álcool 70%, uso regular da máscara e distanciamento para com os clientes se tornou o novo hábito dos feirantes. Essas medidas, segundo Cicélia, estão “sendo bem aprovadas pelos clientes”.
O aposentado José Pereira, 61, conta que passou “alguns meses” sem fazer compras na feira, como era habitual. Nas últimas semanas, adotou o horário matinal, “com fluxo menor de pessoas” e retornou às compras ao ar livre. Embora ainda receoso e respeitando todos os protocolos sanitários, José Pereira revela que agora se sente um pouco mais seguro. “Todo mundo de máscara passa mais proteção. Mesmo assim, eu faço minhas compras rapidinho e logo volto pra casa”, confessou.
Estratégia
Para o consultor de negócios Fabrício Freitas, a estratégia adotada pelos feirantes gera resultados, mas precisa ir além. “Com o fim do auxílio emergencial, a classe de menor poder aquisitivo que vai à feira com regularidade, vai reduzir o poder de compra, ampliando o impacto. Então, além de adotar todos os cuidados para evitar contaminação, os feirantes têm que buscar estratégias para redução do preço, que já é mais em conta em comparação aos grandes mercados”. O também consultor João Alverne Albuquerque, ressalta, porém, que o papel de atrair novamente os clientes deve ser compartilhado com as gestões municipais. “São elas que têm que organizar as feiras a partir de distanciamento, com maior espaço de circulação e fiscalização para cumprimento das medidas tanto de feirantes como clientes”, afirma.
Esses cuidados, aliás, são destacados como essenciais pelo infectologista Ivo Castelo Branco. Ele reconhece a importância econômica das feiras para esses comerciantes, mas adverte que “onde há pessoas próximas aumenta o risco de disseminação do novo coronavírus e, por isso, há extrema necessidade de todos usarem máscaras, além de garantir o distanciamento”.
Por Antonio Rodrigues/Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste