As campanhas para reitor da Universidade Regional do Cariri sempre foram muito agitadas, todavia, o pleito desse ano parece ter sido ainda mais, especialmente, porque dividiu o grupo que por anos se reversava no comando da instituição, não sem agregar novos atores à cena política acadêmica. A cisão deu origem a duas chapas, uma, que foi apoiada pelo ex-reitor, Patrício Melo, engajado numa ampla campanha pela candidatura de vice, o hoje reitor, Lima Júnior, tendo como vice, professor Carlos Kleber. A outra, apoiada pela ex-reitora Otonite Cortez que teve à frente, o ex-pró-reitor de graduação Egberto Melo e, como vice, Jahyra Pequeno professora e ex-chefe do departamento de direito.
Na URCA, a consulta é paritária, isso significa que os três segmentos (alunos, professores e servidores) têm o mesmo peso na votação. Todavia, ocorrem grandes discrepâncias de votantes entre os segmentos, por exemplo, um voto de servidor, equivale a aproximadamente, 35 votos de alunos.
Nesse caso, percebe-se como o segmento de servidores é o mais disputado entre os candidatos a reitor. Uma concorrência voto a voto realizada com várias estratégias, desde pressões de chefes imediatos, até visitas em casas de funcionários. Há ainda mais um agravante. Hoje a URCA tem um número diminuto de servidores efetivos (105, sendo 12 cedidos a outras instituições), uma vez que nunca houve concurso para esse segmento, desde a fundação da instituição, estando quase todos em vias de aposentadoria.
O resultado é que a grande maioria de servidores da URCA é de funcionários terceirizados que não fazem qualquer seleção para os cargos que ocupam, dessa forma, em toda eleição para reitor ficam à mercê do jogo político, muitos têm receio de ser demitidos. Há relatos de casos de ansiedade quando se aproxima a data de consulta, funcionários angustiados temendo se manifestar e por em risco seus empregos.
Nessa última eleição proliferaram denúncias de assédio no espaço da universidade, muitos chegaram às redes sociais, há notícias inclusive de registro de Boletim de Ocorrência, mas não ocorreu qualquer investigação pela administração da Universidade sobre elas.
Esta semana, ganhou uma ampla repercussão das redes sociais a demissão de 5 funcionários feitos pela atual reitoria. O que chamou atenção foi o fato de nenhum destes exercer cargos de confiança, não ter qualquer reclamação em suas folhas de serviço, trabalharem na URCA entre 8 e 28 anos e terem se posicionado a favor da chapa contrária à reitoria. Alguns deles, sequer se pronunciaram sobre o pleito, mesmo assim, foram demitidos sem explicação. Por outro lado, a administração tem justificado que assim como qualquer gestor de prefeitura ou governo, pode redistribuir funções e demitir conforme os rearranjos de sua gestão. Ocorre que se espera que uma gestão de uma Universidade seja diferente de uma gestão de prefeitura ou de governo. Estamos falando de um espaço educacional cuja máxima é a democracia, o respeito aos sujeitos que dela fazem parte, espaço de formação de pessoas. Uma universidade, acima de tudo, deve ter como meta a gestão de um projeto político educacional, democrático e transparente. Aspectos que foram prometidos nos discursos da atual reitoria, cujo um dos slogans era “incluir”. A perceber sua prática nesse caso, inclusão se dará sobre uma base de exclusão. O que ocorreu é muito grave porque acarreta ainda mais insegurança sobre os próximos pleitos, manda um recado muito claro para a comunidade acadêmica de que, não há tolerância com o dissenso, com o pensamento plural, com as divergências. Enquanto professores precisamos ficar atentos, porque a seguir nesse ritmo, nenhum outro grupo será capaz de ser eleito para a reitora da Universidade. Enquanto as gestões que estiverem no poder, tiverem a caneta das demissões dificilmente um servidor se sentirá livre para escolher , por isso, há dois grandes desafios para a comunidade acadêmica da URCA: a mudança da forma como hoje ocorrem as consultas e a urgência de concurso para servidores efetivos da instituição, somente assim, conseguiremos ver uma URCA realmente aberta ao futuro.
Por Sônia Meneses. Profa. Dra. Departamento de História da URCA
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