O número de mortes relacionadas ao vírus da aids diminuiu em 33% nos últimos oito anos, indica relatório divulgado nesta terça-feira, 16, pela Organização das Nações Unidas (ONU). No ano passado, houve 770.000 mortes relacionadas à doença; em 2010, foram 1,2 milhão. Apesar da queda global, alguns países, incluindo o Brasil, têm registrado aumento de novos casos de infecção por HIV devido à estagnação dos esforços mundiais para erradicar a doença — que ocorre por causa da redução do financiamento.
“Pela primeira vez desde 2000 os recursos disponíveis para a luta global contra a aids caíram”, alertou Gunilla Carlsson, diretora interina da UNaids. De acordo com o relatório, em 2018, 19 bilhões de dólares foram destinados a programas de luta contra a doença — 1 bilhão a menos que em 2017 e 7 bilhões a menos que o valor considerado necessário para para 2020 (26,2 bilhões de dólares).
A ONU ainda alertou para o fato de que, apesar de existir medicamentos de prevenção do HIV— a profilaxia pré-exposição (PrEP) —, grande parte da população de risco (gays, transexuais e profissionais do sexo) não tem acesso a eles. O relatório indica que cerca de 300.000 pessoas usaram a PrEP em 2018 — quase metade delas estava apenas no Estados Unidos, segundo a rede americana CBS.
Ou seja, a distribuição do remédio não é igualitária no restante do mundo. “As populações-chave ainda estão sendo marginalizadas e deixadas para trás na resposta ao HIV”, destacou o relatório.
Acesso ao tratamento
Estimativas indicam que, atualmente, 37,9 milhões de pessoas no mundo vivem com o HIV, mas apenas 23,3 milhões têm acesso a alguma terapia antirretroviral — medicações que ajudam a manter a infecção sob controle. Ainda que esse seja um número recorde em comparação com anos anteriores, é também a prova de que muito precisa ser feito para combater a doença já que ainda há mais de 14 milhões de pacientes sem acesso ao tratamento adequado.
“Precisamos urgentemente de maior liderança política para acabar com a AIDS. Isso começa com investimento adequado e inteligente. É possível acabar com a aids se nos concentrarmos nas pessoas – e não nas doenças – e tivermos uma abordagem mais humana para alcançar as pessoas mais afetadas pelo HIV”, ressaltou Gunilla.
Novos casos
Segundo a ONU, embora tenha ocorrido uma queda no número global de novos casos – 1,7 milhão em 2018 -, essa redução esconde grandes diferenças regionais e mostra como a luta contra a doença não avança rápido o suficiente.
O relatório indica que a África é a região mais afetada elo vírus HIV – com o norte do continente registrando aumento no número de mortes em 9%. Outras regiões também preocupam: o leste europeu e a Ásia Central registraram aumento de 29% no número de casos nos últimos oito anos. As mortes por aids nestas localidades também aumentou em 5%. Já no Oriente Médio e na América Latina o crescimento de foi de 10% e 7%, respectivamente.
Infelizmente, na América Latina, o Brasil foi um dos grandes responsáveis pelo aumento no número de casos. Por aqui, as novas infecções subiram 21% entre 2010 e 2018, saindo de 44.000 para 53.000 novos casos, respectivamente. “Os dados apontam que as populações de riscos são responsáveis por mais da metade de todas as novas infecções por HIV. Os usuários de drogas foram responsáveis por 41% das novas infecções pelo HIV na Europa Oriental e na Ásia Central”, revelou o relatório. Outras populações de riscos incluem: transsexuais, gays, prisioneiros e profissionais do sexo.
Financiamento em queda
O relatório da ONU ainda alertou para a redução no financiamento da luta contra o HIV, incluindo contribuições internacionais dos Estados, investimentos dos países e doações privadas com fins filantrópicos. Essa queda pode prejudicar os avanços feitos até agora. “Esta redução é um fracasso coletivo”, ressaltou a Unaids.
Por causa disso, 2019 é considerado um ano crucial. Isso porque em outubro acontece a conferência de financiamento do Fundo Mundial. O objetivo da reunião é arrecadar 14 bilhões de dólares para o período 2020-22. Esse montante deve auxiliar no alcance dos objetivos da ONU para o HIV: garantir que 90% da população infectada receba diagnóstico e tratamento adequado.
Avanços científicos
Apesar de ainda não ser possível curar a aids/HIV, pesquisadores do mundo inteiro unem esforços para mudar essa realidade. Cientistas da Temple University, nos Estados Unidos, anunciaram recentemente que foi possível eliminar o vírus de camundongos, o que pode significar um enorme avanço para o desenvolvimento de uma cura para humanos. Segundo a equipe, essa é a primeira vez que o vírus HIV foi erradicado do genoma (DNA) de animais vivos.
Fonte: Veja.com (Com AFP)