O Ceará atingiu em outubro o maior número de pessoas assistidas, neste segundo semestre de 2020, pela Operação Carro-Pipa (OCP), programa federal do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) mantido em parceria com o Exército Brasileiro. No mês passado, foram 162.302 cearenses beneficiados, ante 161.646 de agosto, mês que até então liderava as estatísticas.
No entanto, apesar do aumento, o número ainda está aquém do contingente populacional que carece de assistência. Segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), este número gira em torno de 165 mil, que “deve ser contemplado em sua totalidade em dezembro”, conforme pontuou o MDR. Porém, segundo o Sindicato dos Pipeiros do Ceará (Sinpece) e as Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (Comdec) este índice é bem maior. Há, somente nas regiões do Sertão Central, Sertões de Canindé e dos Inhamuns, cerca de 60 mil pessoas que necessitam de assistência da Operação Carro-Pipa.
O MDR, por sua vez, justifica que a Operação Carro-Pipa atende somente aos municípios com reconhecimento federal por seca ou estiagem. “A demanda dos municípios por inclusão na OCP Federal chega ao Ministério do Desenvolvimento Regional, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec). Após análise técnica – e considerada a vigência da situação de emergência – a demanda é encaminhada para o Exército Brasileiro, que, por sua vez, faz a checagem de campo e otimiza a logística, conforme a demanda confirmada”.
Queda
No mês passado, foram contratados 374 carros-pipas – 16 a menos do que estava previsto – o que representa queda de 7,65% em comparação a igual período do ano passado e redução de 7,88% quando comparado a outubro de 2018, que teve 406 carros-pipas contratos.
Essa diminuição, que segundo o diretor do Sinpece, Eduardo Aragão, impacta diretamente no número de pessoas atendidas pelo Programa, deve-se a “uma desmobilização por parte dos pipeiros, que optaram por não aderir ao chamamento para contratação do serviço por parte do MDR” devido a uma mudança de modelo aplicado para calcular os valores de pagamento pelos serviços de acordo com o volume de água transportado, que entrou em vigência no mês de agosto.
“Há a chamada, mas poucos aparecem. A categoria alega que o pagamento e os lucros estão reduzidos”, pontua. Para Aragão, é preciso mais carros contratados para atender mais comunidades. Na concepção do MDR, não. “Implantamos a otimização das rotas. Em agosto, com 392 carros-pipas, atendemos 161.646 pessoas. Em outubro, com 374, alcançamos 162.302”, detalhou a Pasta.
Afetados
Em agosto, os Índices Multiplicadores (IM), usados para calcular os valores de pagamento pelos serviços de acordo com o volume de água transportado; a distância do manancial até o ponto de abastecimento e a quantidade de viagens realizadas, foram reajustados pelo MDR em 7,34%. “O reajuste deve ser repassado aos pipeiros na próxima temporada de contratação”, pontuou o MDR. Aragão observa, ainda, que além do “baixo reajuste”, “o não pagamento do retorno da carrada com o veículo vazio é um desestímulo”.
“Quando a gente tira a despesa não sobra quase nada”, observou o pipeiro Clébio Fernandes, que trabalha em rotas de distribuição de água em Campos Sales e Tauá.
Enquanto o impasse segue, milhares de pessoas se veem com o acesso à água limitado. Jaqueline Souza mora na localidade de Alegre, na zona rural de Canindé, Município onde mais de 11 mil pessoas, segundo a Defesa Civil local, estão sofrendo desabastecimento por falta de caminhão-pipa. O nome do lugar, segundo ela, contrasta com a dura e difícil realidade de seca. “Aqui é só tristeza. Não temos água boa para beber e fazer a comida”.
A dona de casa Marlene Lima, moradora da localidade de Três Irmãos, também zona rural de Canindé, é outra que depende do caminhão-pipa que deixa água em uma cisterna a cada dez dias. “É uma dificuldade grande. Só vamos ter um alívio com a volta das chuvas”, afirma.
A coordenadora da Defesa Civil do Município, Francilene Belém, disse que, em outrubro, apenas nove caminhões-pipa atendiam 2.513 moradores. “No ano passado, nessa mesma época, eram 32 veículos”, comparou.
Fonte: Diário do Nordeste