Segundo dados da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), em Juazeiro do Norte, a quantidade de clientes saltou de 79.764 para, 95.869, aumento de 20,19% nos últimos cinco anos. Já no Crato, nos últimos 10 anos, a Sociedade Anônima de Água e Esgoto (Saaec) aponta que saiu de 26.136 para 37.703 consumidores, crescendo 44,25%. Os números mostram a alta demanda no Cariri, que é, em sua maioria, abastecido por águas subterrâneas.
Dos 24 poços monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), em oito municípios, apenas dois não apresentaram queda no nível estático, entre 2009 e 2019.
No comparativo entre este intervalo de dez anos, o rebaixamento é significativo em poços, principalmente em locais operados por companhias de saneamento e em áreas irrigadas. No geral, os poços tiveram rebaixamento médio de 5,1 m, com 0,18 m de mínimo e 14,20 m de máxima, e 3,72 m de mediana. As maiores quedas, segundo o Boletim de Monitoramento dos Poços com Datalogger no Cariri, aconteceram em Missão Velha, localidade produtora de banana.
Segundo a gerente de Estudos e Projetos da Cogerh, a hidrogeóloga Zulene Almada, há preocupação principalmente em áreas de maior uso, apesar de estar dentro do esperado. “Isso pode mudar com o tempo, devido à complexidade sedimentológica e estrutural da Bacia do Araripe”, reforça.
O monitoramento é formado por estações (dataloggers), compostas por sensores que registram os dados de nível e os armazena na memória a cada dez minutos. Os sensores são alojados em tubos-guia, que estão instalados nos poços. Cada estação acumula os dados coletados mensalmente pelos técnicos. Os dados de 2020, onde as precipitações foram melhores, ainda não foram incluídos.
Segundo a Companhia, a distribuição da rede de monitoramento procurou representar os aquíferos Rio da Batateira e Missão Velha, que formam o sistema aquífero Médio, e o aquífero Mauriti, seguindo a ordem de importância socioeconômica da água. “A distribuição obedece a oferta e a demanda”, explica a gerente. “Temos uma concentração de estações na região do Crajubar (Crato, Juazeiro e Barbalha), e zonas irrigadas em Missão Velha e Mauriti”.
Recuperação discreta
Apenas dois poços no Crato, um no Sítio Alto e outro na Secretaria de Agricultura, mostraram recuperação nos últimos dez anos, de 1,46 m e 5 m, respectivamente. A análise também aponta sete poços com recuperação no nível da água: Abaiara, Barbalha, Crato (2), Juazeiro do Norte, Milagres e Missão Velha.
Porém, a recarga média foi de 0,5 m, entre abril e janeiro de 2019. “A recuperação refere-se à flutuação ao longo da série temporal de 10 anos, o que não quer dizer que não existam variações negativas entre os anos. A recarga é totalmente dependente da precipitação pluviométrica”, enfatiza Zulene Almada.
Impacto
O presidente da Saaec, que gerencia o abastecimento em Crato, o geólogo Yarley Brito, acredita que este rebaixamento não está, hoje, afetando o abastecimento, mas percebe, a partir do nível dinâmico, ou seja, nos poços em operação, uma queda, principalmente, em áreas irrigadas. “A estratégia da companhia é não concentrar as perfurações, nem que seja para fazer adutoras em outros locais e não explorar ali”, pontua.
Para Brito, o que preocupa é a recarga atual, principalmente a longo prazo, pela disponibilidade hídrica. Ele acredita que tenha que ser desenvolvida uma recarga artificial de aquífero, como já acontece em outros países, através da indução da água. “A região é privilegiada, tem excelente água e renovável. Jamais teria possibilidade de escassez hídrica se usar racionalmente, mas está impermeabilizando, há as mudanças climáticas e não se faz nada para neutralizar”, completa.
O diretor operacional da Cagece em Juazeiro do Norte, Jocélio Veras, enfatiza que, até agora, este rebaixamento não afetou o trabalho da Companhia. “Já existe um plano diretor, que prevê a demanda de 20 anos e se prepara para um incremento de vazão”. Sobre os problemas de falta d’água na cidade, ressalta que isso decorre de falhas técnicas. “A cidade chegou a crescer muito e não tinha projeto para atender bairros mais afastados. Estamos investindo R$ 7 milhões”, completa.
Zulene afirma que a Cogerh está preocupada com a demanda crescente, inclusive realizou estudos qualiquantitativos, que mostram projeções para os próximos 10, 20 e 30 anos. “(A partir dele) deve aplicar métodos mais eficientes de irrigação e controle de volume per capita para abastecimento”, completa.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste