Quem nunca leu os ingredientes de um produto e viu ali “aromatizantes naturais” e se sentiu mais aliviado? Algumas dessas pessoas podem até ter se questionado depois se esse ingrediente é natural mesmo. Resolvemos conversar com especialistas para entender isso melhor.
Os aromatizantes são um tipo de aditivo alimentar que têm capacidade de melhorar as propriedades sensoriais dos alimentos –sabor, odor, cor, aparência — tornando-os mais atrativos, já que os processos industriais comprometem boa parte do sabor original.
Eles se dividem em três tipos, conforme rege as normas da FAO (comitê das Nações Unidas) e da OMS (Organização Mundial da Saúde), controladas no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária):
– Naturais: óleos, extratos, bálsamos e resinas derivados de plantas, carnes ou frutos do mar através de fermentação, aquecimento etc;
– Sintéticos idênticos aos naturais: obtidos por processos químicos a partir de matérias-primas de origem vegetal e animal ou de microorganismos;
– Sintéticos artificiais: compostos químicos obtidos por síntese, ou seja, não usam a matéria prima encontrada na natureza; são elaborados em laboratório.
No rótulo, portanto, quando for usado aromatizante natural, deverá constar: “contém aromatizante natural” e a lista de ingrediente deverá incluir “sabor natural de …”. Se caso for usado o aromatizante artificial, a parte da frente do rótulo deverá constar “contém aromatizante artificial” e a lista de ingredientes deverá incluir “sabor artificial de… ou “sabor idêntico ao natural de…”.
É ou não natural?
Pois bem, dentro dessa categoria, os naturais são os mais naturais. Mas isso não significa que eles sejam 100% puros, segundo especialistas. Naturais mesmo, somente os alimentos in natura com seus respectivos sabores e aromas originais. Ou seja, aquele alimento que o nosso organismo tem a capacidade de metabolizar com maior facilidade e eficiência e que não oferece o menor risco de intoxicação ou alergia.
Quando se usa, por exemplo, um aromatizante natural na indústria, é necessário estabilizá-lo de alguma maneira. Normalmente este processo se dá com a adição de um antioxidante, ou seja, substâncias que mantenham esses elementos estáveis durante toda a validade de consumo daquele alimento que está na prateleira do supermercado. E para que esse aromatizante receba a nomenclatura natural, o documento sobre este tema da Anvisa também relaciona quais são as substâncias permitidas, seja para a extração ou estabilização.
No caso dos aromas sintéticos –idêntico ao natural e artificial — que reúnem mais substâncias na sua composição, eles são liberados desde que seu grau de pureza e nível de consumo sejam adequados. A Anvisa exige uma análise dos possíveis efeitos tóxicos desses componentes para organismo e, o seu emprego, somente é autorizado em concentrações que não ultrapassem o valor de ingestão diária aceitável, que é recomendado. Em linhas gerais, portanto, a diferença entre o aromatizante natural e o artificial é a sua fonte de origem e o método de obtenção de cada um, mas ambos são processados.
Embora para o consumidor o termo natural tenha conotação positiva, nutrólogos e nutricionistas afirmam que não existe nenhum estudo ou embasamento na literatura científica que valide o aroma sintético como nocivo ou sequer algum respaldo apontando vantagens na escolha do aromatizante natural.
A única restrição envolve consumidores que demandam cuidados especiais. Ou seja, pessoas extremamente alérgicas, imunodeprimidas ou que se encontram em situações limítrofes e com o sistema imunológico fragilizado – -como por exemplo, as que estão em tratamento de neoplasia, quimioterapia etc. Para estes indivíduos, quanto menos substâncias químicas ingerirem –sejam elas de qual natureza forem — melhor e mais seguro será.
A melhor aposta
Mais do que se preocupar se um alimento que carrega um aromatizante natural confere um grau ímpar de pureza ou até mesmo optar por ele a um produto aromatizado artificialmente, profissionais da área médica e da alimentação são unânimes ao afirmar que a base da alimentação de uma pessoa deve estar pautada em uma dieta in natura –pratos que sejam preparados e consumidos frescos. Esta é efetivamente uma preocupação que deve ser levada em consideração e posta em prática em prol da saúde.
É claro que não há como fugir 100% dos alimentos processados. Refeições rápidas e práticas fazem parte de uma realidade que a vida moderna nos impõe e a indústria, felizmente, veio para facilitar a vida das pessoas, tornando-se uma necessidade. O que deve ser absorvido pela sociedade, porém, é que os alimentos processados não podem se tornar uma fonte exclusiva e, sim um complemento no hábito alimentar.
Bastidores dos aromatizantes
Embora valorizados no mercado consumidor, você sabia que os aromatizantes naturais têm sido menos utilizados que os sintéticos na indústria alimentícia? Além de serem extremamente mais caros, eles dependem de vários fatores da natureza como clima, solo e safra, que podem influenciar na qualidade e padronização das matérias primas.
Intempéries à parte, para se extrair, por exemplo, um aroma natural de laranja para saborizar um bolo, é necessária uma quantidade superelevada de laranjas –de onde será retirada da casca, do suco e da fruta o seu extrato.
Por outro lado, hoje temos catalogadas em laboratório mais de 3 mil substâncias simples voláteis que podem ser utilizadas para compor os mais variados aromas que existem na natureza, traduzindo-se não só em economia como em menor impacto ambiental
Parece mágica, mas é a engenharia dos alimentos que oferece um mundo de possibilidades. Na prática, é você poder saborear um suco ou bolo de morango sem sequer ter passado efetivamente um morango por perto.
Entre os aromatizantes sintéticos mais utilizados estão o butanoato de etila (aroma de abacaxi), formato de etila (aroma de pêssego), formato de isobutila (aroma de framboesa), acetato de pentila (aroma de pêra), etanoato de octila (aroma de laranja), ectanoato de 3-metilbutila (aroma de banana); 3-metilbutanoato de 3-metilbutila (aroma de maçã), formato de etila (aroma de pêssego), todos pertencentes a um grupo de compostos denominados ésteres. O curioso é que estes aromas também são usados na fabricação de perfumes, sabonetes e batons.
Dentro desse contexto, fica fácil de entender por que empresas que investem na obtenção de sabores e aromas naturais na fabricação dos seus alimentos, capitalizam em cima dessa onda de saudabilidade. Aromas e sabores naturais acabam virando uma ferramenta de marketing e slogan para diferenciar seus produtos dentro de um mercado extremamente competitivo como o de alimentação.
Fontes consultadas: Marcella Garcez Duarte, médica nutróloga, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia; Liliana Mistura, nutricionista e professora no Centro Universitário Saúde do ABC; Gustavo Pasqualotto, nutricionista e membro da ABNEAssociação ( Brasileira de Nutrição Esportiva); Janainna Mazelli, nutricionista residente do Hospital Sírio Libanês; e Cynthia Antonaccio, nutricionista e mestre em nutrição pela USP (Universidade de São Paulo)
Fonte: Viva Bem