Ao perder dois de seus quatro filhos, a maranhense Conceição de Maria Gonçalves Figueiredo, de 69 anos, se viu em depressão, em consequência do luto. Um dos filhos de Conceição morreu em 2002, aos 25 anos, de câncer. E, apenas 11 meses depois, ela perdeu a filha mais velha, de 29 anos, em decorrência de uma meningite.
Foram cinco anos lutando contra a depressão que a deixou meses sem sair de casa, sem vontade nem de se alimentar.
“Entrei em desespero, perdi o gosto de viver, não queria saber mais de nada. Passei a ter crises de asma e sempre precisava ficar internada. Foram cinco anos assim até que um médico me falou que minhas crises eram emocionais e eu percebi que precisava reagir”, diz a aposentada.
Para ajudar a superar o luto, fez acompanhamento com psicólogos e psiquiatras e tomou antidepressivos. E começou a costurar e a fazer crochê para preencher o tempo vazio e tentar amenizar a dor.
Mas foi sentada em uma sala de aula que viu uma maneira de deixar o quadro de depressão e realizar o sonho da juventude de cursar faculdade de gastronomia.
Sua formatura, em setembro, foi motivo de comemoração entre a família. E um post de sua neta sobre a conquista transformou a vó em sucesso nas redes e ganhou mais de 102 mil curtidas.
Nascida no interior do Maranhão, Conceição precisou driblar diversos obstáculos para conseguir estudar. Saiu da sua cidade natal, Pio XII, para morar com a tia e, assim, concluir o ensino médio. Quando mais jovem, se formar numa faculdade parecia um sonho distante, principalmente depois do casamento e do nascimento dos quatro filhos.
Velha demais?
Foi ao acompanhar um dos seus filhos até o campus da Cest – Faculdade Santa Terezinha, em São Luís, para fazer a inscrição na segunda graduação dele, que ela recebeu o convite do diretor para estudar na instituição e integrar a segunda turma de gastronomia da entidade.
Conceição diz que não aceitou o convite porque acreditava estar com a idade avançada demais para fazer faculdade. Mas, sem que ela soubesse, seu filho caçula a inscreveu para o vestibular.
“Meus filhos e netos passaram a me incentivar a estudar. Fui fazer a prova do vestibular achando que eu não ia passar, mas fui aprovada”, conta.
Com o incentivo da família, ingressou na faculdade de gastronomia em 2018. Fez amizades e conquistou amigos e professores.
“Fui muito bem recebida, os outros alunos vinham me abraçar, dar as boas-vindas. Eu ficava pensando: ‘o que eu estou fazendo na faculdade?’. Mas foi lá que encontrei uma verdadeira terapia porque amada e respeitada por todos.”
Durante o curso, a aposentada diz que sempre teve o apoio dos colegas de classe e até de alunos de outros cursos da faculdade. Ao ter contato pela primeira vez com diversas matérias, Conceição lembra que ficou apreensiva e muitas vezes pensou que não iria conseguir concluir o curso.
“Eu nunca tinha estudado química na minha vida, mas, com paciência, os professores iam me explicando e meus colegas ajudando. Isso foi fundamental”, lembra.
A pandemia e o medo de não dar conta
Com a chegada da pandemia do coronavírus, em março, as aulas presenciais tiveram que ser substituídas pelas virtuais. Sem familiaridade com computador e celular, Conceição diz que pensou em desistir dos estudos.
“Pensei que eu não daria conta de acompanhar porque é mais difícil de entender a explicação à distância. Mas, mais uma vez, meus amigos de sala e minha família me ajudaram a ir lidando com a tecnologia até terminar o curso.”
No início de setembro, depois de dois anos de dedicação, aconteceu a tão sonhada formatura. Por causa do distanciamento social imposto pela pandemia de covid-19, a colação de grau precisou ser a distância e online.
De beca e maquiagem, Conceição recebeu orgulhosa e cheia de emoção o sonhado diploma. O momento foi acompanhado de perto pelos filhos e netos que fizeram questão de montar uma decoração em casa para comemorar a conquista.
“Às vezes, a gente pensa em desistir e acha que não somos capazes de fazer algo. Mas, com determinação, tudo é possível. É o que eu falo para os idosos —e também para os jovens.”
Da costura ao café
Com o diploma em mãos, a aposentada deixou a máquina de costura e as agulhas de crochê de lado. Agora, pelo menos cinco horas de seu dia são dedicadas a preparar cafés e receber pessoas.
“Meu filho montou um café e eu estou trabalhando com ele. Recebo as pessoas, faço cafés e acompanhamentos. Quem diria que depois de aposentada eu estaria realizando meu sonho?”
Fonte: UOL