A colheita da safra de algodão, deste ano, no Cariri cearense, deve ser concluída até o fim deste mês de setembro. O plantio foi feito em cerca de 1.400 hectares e a safra estimada inicialmente era de 42 mil toneladas. No entanto, o ataque de bicudo, a escassez de inseticida no mercado local e a dificuldade de contratação de mão-de-obra no atual quadro de pandemia contribuíram para elevar em 20% o custo de produção e entre 10% a queda na projeção da safra. A estimativa é da Associação dos Produtores de Algodão do Ceará (Apace), com sede no Cariri.
No ano passado, a produtividade média da região foi de 1.600 kg/hectare. Na atual safra, o índice médio deve ficar próximo do anterior. “Há áreas que manteve a média anterior, em outras cresceram, mas em outras a produção caiu”, mostrou o técnico agrícola e produtor rural, em Brejo Santo, e diretor da Apace, Edgar Carvalho de Souza.
“No balanço final, uma região vai compensar a outra e a queda se verifica onde choveu mais”.
A Apace vai divulgar a produção regional somente após o fim da colheita. “Esperamos fechar os relatórios até o início de outubro”, disse Edgar Souza. A colheita começou em julho passado e deveria ser concluída no fim deste mês.
Safra de 2020
Neste ano, segundo os agricultores, a safra é atípica, considerando o quadro da pandemia do coronavírus, o elevado índice pluviométrico e o ataque do bicudo. “Esse cenário trouxe dificuldades para o setor”, pontuou Souza.
A metade do cultivo de algodão de sequeiro no Cariri é de pequenos produtores e varia entre um e três hectares. “Nessas áreas, a colheita é manual”, explicou Edgar de Souza. “Só os maiores usam maquinário, em áreas de 10 a 30 hectares plantados”.
A partir de 1º de outubro começa o denominado de vazio sanitário, que se estende até 31 de dezembro. Durante esse período, o agricultor deve arrancar os restos culturais – enterrá-los ou queimá-los para evitar criadouros de bicudo. “Essa obrigação segue determinação legal e é fiscalizado”, observou o diretor técnico da Ematerce, Itamar Lemos.
No ano passado, o produtor pagava entre R$ 0,60 e R$ 0,70 por quilo colhido, mas, neste ano, subiu para R$ 1. “O custo da mão-de-obra impacta na renda final, trazendo desestímulo para os pequenos, e por isso acho que para a safra de 2021 só devem permanecer no programa de retomada do algodão os médios e grandes produtores”, pontua Edgar Souza.
Retomada
Experimentos realizados nos últimos três anos, no Cariri, vêm apresentando resultados satisfatórios na retomada da produção de algodão de sequeiro. Em 2018, foram cultivados 30 hectares. Já em 2019, saltou para 700 hectares. Neste ano (2020), dobrou para 1.400 ha.
Municípios com núcleos de plantio:
• Brejo Santo;
• Milagres;
• Mauriti;
• Porteiras;
• Penaforte;
• Missão Velha;
• Crato;
• Potengi;
• Altaneira; e
• Barbalha.
Os Municípios possuem núcleos de plantio de algodão de sequeiro, a partir do uso de semente transgênica de alta qualidade.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Algodão de Campina Grande (PB), em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará e as secretarias municipais de Agricultura, implantaram, em 2016, o projeto Modernização do Cultivo do Algodão no Estado do Ceará, voltado para a produção de algodão de sequeiro.
Empecilhos
Um dos empecilhos para a agricultura de base familiar é o preço da semente selecionada que varia entre R$ 65 e R$ 120 o quilo, a necessidade de plantio segundo tecnologias modernas: preparo do solo, espaçamento correto do plantio, análise e correção de solo, colheita mecanizada, uso de armadilhas e de inseticida no tempo certo.
Para o cultivo de um hectare são necessários 12 quilos de semente. Por isso, neste ano, o número de produtores no Cariri diminuiu de 70 para 50, mas a área plantada dobrou de 700 hectares, em 2019, para 1400 há neste ano.
Fonte: Diário do Nordeste