A pecuária de leite no Ceará conseguiu acumular crescimento de quase 63% na produção entre os anos 2015 e 2019, passando de 489,3 milhões para 797,4 milhões de litros por ano, segundo dados do IBGE. E tem agora possibilidade de avançar em ritmo mais acelerado, considerando as chuvas recentes acima da média; a consolidação de uma fábrica de leite em pó no município de Morada Nova; e a chegada das águas do rio São Francisco ao território cearense, que vai permitir maior segurança hídrica para cultivo de pasto nos perímetros irrigados.
Tudo isso pode abrir espaço para expressivo incremento da produção nos próximos anos, considerando que o mercado regional tem boa demanda – estima-se que atualmente o Ceará importa da região Centro-Sul do país cerca de 500 mil litros de leite por dia, principalmente na forma de derivados. A tendência é que em 2020 a produção supere a do ano anterior e, mantida a média de crescimento dos últimos anos, o Ceará alcance a produção de 1 bilhão de litros de leite até o final de 2021.
“O leite é uma cadeia econômica muito tradicional e importante no Ceará, que produz mesmo nas condições extremas do semiárido e em propriedades de todos os 184 municípios. Por essa razão nós do Governo do Estado temos grande interesse em apoiar o segmento no sentido de aumentar a produção por animal e também agregar maior valor aos produtos”, afirma o secretário Francisco de Queiroz Maia Júnior, titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet).
Atento a esse potencial de crescimento, o Governo do Ceará, através da Sedet, incluiu entre seus programas prioritários um que visa promover a expansão e a modernização da atividade leiteira no estado, dinamizando os segmentos produtivos, de serviços, de insumos e da indústria, cujo objetivo é alcançar 300 produtores pelas ações de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG); e outras 500 pessoas entre produtores, técnicos e colaboradores com capacitações sobre novas tecnologias para os diferentes níveis da cadeia produtiva e de gestão de empreendimentos.
“Acreditamos que o programa de assistência técnica e gerencial (ATeG), atualmente operacionalizado pelo Senar/CE com foco na profissionalização, melhoria da eficiência produtiva e da qualidade do leite, será referência para o setor e irá contribuir efetivamente com a formação da equipe técnica especializada de atendimento aos produtores”, observa Silvio Carlos, secretário-executivo do Agronegócio da Sedet.
A ação, segundo ele, também terá foco na melhoria genética do rebanho por meio de inseminação artificial; implantação de 30 tanques de resfriamento de leite por grupo de produtores atendidos; apoio e regularização da produção de lácteos; e comercialização de produtos do estado do Ceará, numa ação que conjuga várias iniciativas: SISBI, SIM e Selo Arte – em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária do Ceará (Adagri), vinculada ao sistema Sedet. A secretaria também trabalha na atração de novas empresas de produtos e insumos demandados pela cadeia de lácteos para o Ceará.
Pequenos produtores
Estima-se que no Ceará a atividade leiteira esteja distribuída em mais de 74 mil propriedades rurais – na sua grande maioria tocada por pequenos produtores, a exemplo de Francisco José Leitão, do Sítio Retiro, em Morada Nova. Lá, ele, sua esposa, Raimunda Diógenes, e mais um funcionário criam 36 vacas que produzem quase 400 litros de leite por dia.
“Em meados de 2009, ainda sem a adoção de novas práticas de produção, a propriedade dava prejuízo de R$ 2 mil por mês. Noventa dias depois saímos do vermelho e em mais poucas semanas estávamos comemorando lucro de R$ 1,2 mil”, recorda Francisco Leitão. “A partir daí começamos a melhorar a genética, acompanhar as novidades do setor e a produtividade que era quatro litros por animal passou para atuais onze”.
Para obter essa quantidade diária de leite Francisco Leitão relata que utiliza menos de 3 hectares da propriedade no sistema de pastejo rotacionado irrigado. Essa técnica, na prática, permite que em vez de necessitar de quase 3 hectares para criar apenas uma vaca no ambiente da caatinga seja possível manter em um só hectare irrigado até 12 animais, com ganhos de produção e facilidade de manejo.
O sistema atualmente é adotado em muitas de propriedades no Ceará. “Há mais de 10 mil hectares de pasto irrigado no Ceará e cerca de 70% está nas pequenas propriedades, que cultivam até três hectares”, estima o agrônomo Zuza de Oliveira, que participa do desenvolvimento de projetos do agronegócio irrigado para o Governo do Ceará há vinte anos.
O leite é um negócio vantajoso também do ponto de vista social, pois mantém a produção durante os 365 dias do ano, movimentando uma grande cadeia de insumos, produtos e serviços do campo à indústria.
Fábrica de leite em pó
A operação de uma fábrica de leite em pó do Grupo Betânia no município de Morada Nova, com previsão de funcionamento no primeiro trimestre de 2021, será um marco para a evolução da atividade leiteira no Ceará, segundo o agrônomo Zuza de Oliveira, assegurando a captação de leite dos produtores quando houver boas chuvas e a produção de leite for superior àquela que os laticínios tradicionalmente são capazes de processar.
“Na prática, a possibilidade de transformar o leite em pó assegura a compra aos produtores de eventuais excedentes de produção”, explica o agrônomo. “Atualmente a região Nordeste consome 52% do leite em pó no Brasil, e esse volume vem todo do Centro-Sul. Uma fábrica no Ceará traz vantagens até em relação ao custo do frete”, explica o agrônomo.
De acordo com Zuza de Oliveira, além da Betânia o estado conta hoje com cerca de 75 lacticínios certificados – entre os quais 57 queijeiras em atividade e outras 70 em processo de certificação sanitária junto à Adagri/Sedet. “Isso prova o vigor e o dinamismo da produção de leite no Ceará, que é uma atividade de expressiva função social em termos de emprego e renda e de grande potencial econômico no estado”, resume.