Quase oito meses após o primeiro caso do novo coronavírus – e depois de perder mais de 712 mil vidas para a Covid-19 – a humanidade ainda não conhece por completo o inimigo com quem está lidando. As principais dúvidas são quanto ao tratamento: qual é a substância mais adequada para aliviar os sintomas da doença? É possível “prevenir” a Covid-19 usando algum tipo de remédio?
Ainda que certos estudos apontem para esta ou aquela substância – e que testes clínicos tenham tido sucesso usando este ou aquele medicamento – o consenso entre cientistas é que não, ainda não temos nenhum remédio apto a ocupar o posto de salvador da pátria.
Porém, isso não impede que a desinformação corra solta e pessoas acabem, por conta própria, abraçando soluções sem qualquer comprovação científica. Principalmente quando são instruídas por alguém – teoricamente – mais competente para opinar.
Desde o início da pandemia, diversos chefes de Estado tiraram da cartola soluções sem qualquer base científica. Em abril, Donald Trump chegou a sugerir que uma injeção de desinfetante – ou um banho de luz ultravioleta – poderia livrar alguém do coronavírus. Autoridades indianas citaram o yoga como melhor forma de garantir a imunidade. Para o presidente de Belarus, a prevenção do vírus poderia ser garantida de forma ainda mais prazerosa: bastava ir à saunas e beber vodka, disse o líder de Estado, em março.
Vodka pura foi também uma “solução” que viralizou em Fiji, ilha do Pacífico. No Egito, a panaceia contra o vírus era consumir um tipo de peixe fermentado. De homeopatia a bile de urso, há dezenas de remédios, alimentos ou produtos naturais que já foram eleitos como a cura definitiva para o novo coronavírus. A OMS chegou a criar uma página em que lista, de forma simples e didática, exemplos de comidas e hábitos que, apesar de estarem ligados a uma vida saudável, não têm qualquer eficácia no caso da Covid-19.
Existe até mesmo um artigo da Wikipédia dedicado exclusivamente a elencar as soluções mais bizarras levantadas durante a pandemia – quer seja por falta de conhecimento técnico, imprudência ou uma mistura dos dois. Aproveitando o ensejo, nós, da SUPER, reunimos abaixo outras soluções sem pé nem cabeça contra Covid-19 que circularam pelo mundo nos últimos meses.
Álcool metílico
Antes mesmo de a pandemia de Covid-19 ser reconhecida como tal, o novo coronavírus deixou o leste da Ásia e começou a se espalhar rapidamente no Irã. O crescimento acelerado no número de casos entre o fim de fevereiro e abril levou a população a apostar em tratamentos desesperados – que, como você pode imaginar, não fizeram nada bem.
Apenas entre 20 de fevereiro e 7 de abril, 728 pessoas morreram e mais de 5 mil foram intoxicadas no país após ingerirem metanol – também chamado álcool metílico – como forma de se prevenir do vírus. Apesar do nome quase familiar, trata-se de uma fórmula química ainda mais tóxica que o etanol (álcool etílico), matéria-prima para produtos de limpeza e combustíveis, e que está na base de qualquer goró obtido à partir da fermentação de açúcares – vinho, cerveja ou cachaça, por exemplo. A ingestão de álcool metílico pode causar cegueira e até levar ao coma – e não tem qualquer efeito para a Covid-19.
Urina de vaca
Na Índia, ganharam força os argumentos pró-uso de urina e cocô de vaca – animal considerado sagrada pela religião hindu – no combate à pandemia. Algumas tradições de fato apostam na urina e o esterco do animal na intenção de curar doenças. Mas o discurso ganhou força mesmo um deputado do país sugeriu que eles poderiam servir também no combate do novo coronavírus. Um grupo nacionalista hindu, inclusive, organizou um evento Délhi, capital do país, para beber xixi de vaca e comprovar sua suposta eficácia. Nada feito.
Curas espirituais
Nos Estados Unidos, um grupo religioso chamado “Happy Science” dizia ter a cura para a Covid-19. Só de ouvir a voz do líder espiritual por meio de mensagens gravadas em CDs e DVDs, devotos já estariam imunes da doença. Na Coreia do Sul, uma igreja da província de Gyenonggi, no noroeste do país, oferecia uma solução de água salgada aos fiéis para os proteger do vírus. Não funcionou: por usar o mesmo spray, sem desinfectá-lo adequadamente, para borrifar a mistura na boca dos devotos, 46 pessoas que congregavam ali acabaram com Covid.
Cocaína
A fake news de que o pó branco poderia tornar usuários imunes – por “limpar o interior do nariz” – parece completamente surreal. Mas ela circulou tanto na França que o Ministério da Saúde do país precisou dedicar um post no Twitter desmascarando o boato. “Não, a cocaína não protege contra a Covid-19. Trata-se de uma droga que traz sérios efeitos colaterais e é prejudicial à saúde”.
No Sri Lanka, país da Ásia, circulou o boato de que a maconha teria o mesmo efeito do derivado da coca. Mas era só onda.
Cinzas de vulcão
Uma erupção vulcânica que aconteceu em janeiro de 2020 nas Filipinas é a explicação por trás do baixo número de casos na região. Bem, pelo menos é o que dizia um boato que circulava amplamente pelas redes sociais entre usuários do país asiático. Balela: cinzas de vulcão não tem qualquer propriedade antiviral, segundo esclareceu a Organização Mundial da Saúde à agência de noticias AFP. “Aspirar cinzas pode provocar problemas respiratórios, além de irritar olhos e pele”, explicou o órgão.
Bile de urso
No final de março, a Comissão Nacional de Saúde da China publicou uma lista que reunia os tratamentos permitidos para o combate ao novo coronavírus no país. Entre vários nomes da medicina tradicional chinesa, estava uma injeção feita de ingredientes que mais parecem ter saído de um caldeirão de bruxa: pó de chifre de cabra e pó de bile de urso. Tudo porque, segundo a crença local, o chamado ácido ursodiol, usado no tratamento de cálculos biliares doenças hepáticas, poderia melhorar a resposta imunológica contra o vírus. Não há nenhuma evidência consistente, no entanto, de que seu uso seja efetivo.
Ozônio
Um vídeo do prefeito de Itajaí, no interior de Santa Catarina, divulgando a adoção de um tratamento inusitado contra Covid-19 viralizou nas redes sociais no últimos dias. Segundo o comunicado, a prefeitura iria apostar na aplicação de ozônio via retal – nas palavras do prefeito, com um pequeno cano que mandava o gás para dentro do paciente. Bastavam, segundo a explicação, dez aplicações para a melhora aparecer. A ozonioterapia, porém, não apresentou resultados consistentes para justificar seu uso no tratamento de Covid-19.
Fonte: Superinteressante