Integrar os saberes da tradição com os saberes acadêmicos na relação com a saúde é o que promove o projeto Raízes da Cura, vinculado à Pró-Reitoria de Cultura da Universidade Federal do Cariri (Procult/UFCA). O projeto atua junto às meizinheiras do Cariri, que são mulheres mestras dos saberes tradicionais sobre plantas medicinais, difundindo esse conhecimento, especialmente, na relação acadêmica.
Criado no ano de 2018, o projeto é fruto do vínculo da professora da Faculdade de Medicina (Famed/UFCA), Emille Sampaio, com o projeto Meizinheiras do Pé da Serra, da Caritas Crato, iniciado quando ela era ainda acadêmica de Medicina no então campus Barbalha da Universidade Federal do Ceará (UFC). Emille, que é a proponente e coordenadora do Raízes da Cura, conta que, depois de formada, manteve o contato com as meizinheiras até que, ao se tornar professora da UFCA, decidiu institucionalizar e aprofundar o vínculo das meizinheiras com a UFCA através do projeto de Cultura.
De acordo com Emille, o projeto foi pensado para fomentar, dentro da universidade, “essa discussão sobre os saberes populares, sobre a fitoterapia popular, a produção de cuidado em saúde a partir da perspectiva de organização das comunidades tradicionais no Cariri”. Para ela, é importante “manter esse diálogo permanente do saber acadêmico, representado, nesse caso, pela UFCA, com o saber popular, representado por essas mulheres, que são mestras na tradição, na transmissão, muitas vezes na oralidade, desse conhecimento de uso das plantas medicinais”.
Buscando fortalecer essa troca, o Raízes da Cura já realizou uma série de ações, como um mapeamento das meizinheiras da região, círculos de cultura – a partir da metodologia freiriana – nos locais onde as meizinheiras atuam e há outras ações em gestação como uma cartilha e uma disciplina livre de Cultura, que aguarda ajustes administrativos e o período de pandemia do Coronavírus passar.
Por causa da necessidade de distanciamento social e da impossibilita de realizar algumas atividades anteriormente programadas para o projeto este ano, o Raízes da Cura vem atuando virtualmente difundindo informações sobre as plantas medicinais, informando termos utilizados na fitoterapia e também realizando transmissões ao vivo através do perfil do projeto no Instagram, @projetoraizesdacura.
Em julho, o Raízes da Cura também lançou uma campanha de valorização das plantas medicinas e saberes populares. Assim, quem cultiva plantas medicinais em casa pode enviar fotos ou vídeos curtos das plantas com propriedades medicinais para que sejam publicadas no perfil do projeto.
Fitoterapia popular
A fitoterapia popular, que é o estudo das plantas medicinais e sua aplicação na cura de doenças, está inclusa na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS) e faz parte de um dos módulos do curso de Medicina da UFCA – Assistência Básica à Saúde Quatro. Nesse módulo, os estudantes realizam atividades práticas no Sítio Chico Gomes, em Crato, comunidade que tem vínculo com a Famed. Embora haja, na universidade, este contato e outras formas de relação de troca de conhecimentos acadêmico e popular, ainda há uma falta de conhecimento e resistência da academia com relação à utilização de plantas medicinais. Segundo Karina Alves Medeiros, bolsista do Raízes da Cura e acadêmica do sétimo semestre do curso de Medicina, “ainda existe muito desconhecimento sobre o tema dentro da universidade em relação aos alunos e alguns professores”, mas ela diz que houve um avanço. Karina acredita que os médicos precisam conhecer as plantas medicinais até para orientar os pacientes, uma vez que os médicos são referências para a população no cuidado com a saúde.
O Raízes da Cura é vinculado à Pró-Reitoria de Cultura (Procult/UFCA), coordenado pela professora, Emille Sampaio, e, além da bolsista, Karina Alves Medeiros, conta com a participação de mais três voluntárias: Lavinya Lima e Mileide Estevanisa Miranda, também estudantes de Medicina, e Wylliana do Nascimento, do curso de Administração.