A pandemia da Covid-19 afetou diversos setores econômicos. O impacto, contudo, fica ainda mais evidente às pessoas em vulnerabilidade social, como os catadores. Segundo o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), cerca de 15% dos seus cooperados são de grupos de risco e, por isso, muitos deixaram de trabalhar após a chegada do novo coronavírus. Outros não encontraram empresas que comprassem seu material diante do fechamento do comércio. Os que conseguiram, viram o preço despencar, impactando diretamente na sua renda.
Preocupados em dirimir esses danos, um grupo de estudantes do curso de Jornalismo, da Universidade Federal do Cariri (UFCA), iniciou uma vaquinha online para arrecadar recursos a serem destinados aos catadores de resíduos recicláveis de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. Até agora, quase R$ 2 mil foram conquistados e serão revertidos em compras de cestas básicas para as famílias dos catadores.
A ideia inicial da vaquinha era conseguir materiais de segurança para o trabalho destas pessoas, como luvas, macacões e bonés, mas a pandemia mostrou outra necessidade: a sobrevivência. “A maioria tinha parado de vender, porque as empresas ficaram fechadas. A renda caiu muito. Então ao invés de usar o dinheiro para compra de EPIs, a destinação passou a ser as cestas básicas”, explica a discente Julita Agapto, proponente do projeto Alheios, que conta com outros seis estudantes.
Agravante
A situação dos catadores torna-se ainda mais dramática pois muitos não tiveram o auxílio emergencial aprovado, outros sequer puderam se cadastrar por não ter acesso a internet. Diante disso, os integrantes do “Alheios” optaram por antecipar a compra das cestas básicas sem que a meta inicial, de R$ 4 mil, tivesse sido alcançada. Eles também viabilizaram, com uma fábrica de produtos de limpeza, a doação de kits de higiene.
Apesar de não ter sido registrado nenhum caso de catador infectado, dos 28 que trabalham no lixão de Barbalha, apenas 15 seguem no local. “Muitos ficaram com medo de pegar a doença”, conta o catador Damião da Silva Santos, 40. “Por isso, essa ajuda é muito bem-vinda”, completa. Ele vive com a esposa e três filhos.
A entrega das cestas será feita em um ponto próximo a cada um dos lixões. Ainda será definida a data, que deve ocorrer nos próximos dias. Já as arrecadações continuarão.
Articulação
Em Limoeiro do Norte, a Cáritas Diocesana já atua há 25 anos com catadores, e, desde 2010, estende suas ações para os territórios de Russas, Quixeré e Tabuleiro do Norte. Com o cenário atual da Covid-19, as doações foram intensificadas. “Aprovamos um projeto junto a Fundação Banco do Brasil, para aquisição de cestas básicas e kits de higiene pessoal. Atendemos outras famílias, mas neste momento a prioridade é atender primeiro todas as famílias de catadores”, relata a coordenadora da Cáritas de Limoeiro do Norte, Anjerliana Souza Oliveira.
A Cáritas prevê ainda um auxílio financeiro, através do Bolsa Catador de Russas, de R$ 240, que será destinada a 39 catadores, e o Cartão Sodexo, no valor de R$ 200, que contemplará 11 catadores de Tabuleiro do Norte. “Também constituímos parcerias com universidades para recebermos alimentos”, pontua Anjerliana.
A Rede de Catadores do Ceará, que conta com 26 associações em todo o Estado, também está com campanha para arrecadação de recursos para compra de alimentos, kits de limpeza e higiene pessoal, além de equipamentos de proteção individual.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste