Os dados detalhados do último boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde de Juazeiro do Norte mostraram que o número de casos confirmados da Covid-19 e mortes pela doença têm se concentrado nos bairros mais periféricos da cidade. A maior incidência acontece no João Cabral, Romeirão e Tiradentes. Hoje, a terra do Padre Cícero já soma 3.310 casos confirmados.
Até o último dia 29, data em que a pesquisa foi fechada, o Município apresentava 81 óbitos — hoje já são 87 — sendo que o maior número de mortes aconteceu no Romeirão (12), João Cabral (10), Pirajá (7), Franciscanos e Frei Damião (5). Os três primeiros bairros concentram, sozinhos, 35,8% de todas as mortes em Juazeiro do Norte, que tem 43 bairros.
Já em casos confirmados, o João Cabral, bairro mais populoso com quase 18 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE, lidera com mais de 165 pessoas infectadas, seguidos pelo Romeirão, que acumula 141, Salesianos e Tiradentes, que registram 133.
Os números no bairro Romeirão assustam, pois, sua população, segundo o censo de 2010, é de 7.110 habitantes. A título de comparação, o bairro São Miguel, próximo ao centro da cidade, que registra 8.261 habitantes de acordo com os últimos dados do IBGE, acumula 40 casos, segundo o boletim do último dia 29.
A dona de casa Maria das Dores da Silva, moradora do Romeirão, vê com estranhamento o grande número de casos no seu bairro já que, segundo ela, as pessoas tem se cuidado. “Aqui não sai muita gente de casa, mas quando sai é tudo de máscara”, conta. Os números, porém, mostram um cenário preocupante. Apenas na sua Rua José de Alencar, quatro vizinhas faleceram pela Covid-19. “Ninguém sabe como pegou”, completa.
Já no vizinho bairro João Cabral, o comerciante Cicero Joaquim da Costa alerta que há um grande número de pessoas nas ruas, conversando nas calçadas e até consumindo bebida alcoólica.
“O povo está cansado de ficar em casa. À noite, sai muita gente, conversando, bebendo e sem tá de máscara”, preocupa-se.
A diretora de Vigilância em Saúde de Juazeiro do Norte, Evanusia de Lima, admite que, neste momento, está sendo difícil abordar alguma localidade por conta das limitações da própria pandemia. “Já fizemos trabalho com carro de som, nessa sensibilização. Estamos solicitando que a atenção primária foque nas comunidades onde estão o maior número de óbitos, observando se acontece transmissão intradomiciliar.”, reforça.
Com a pandemia, muitos profissionais da saúde foram afastados das atividades presenciais por conta da idade ou possuir alguma comorbidade que o coloque em grupo de risco. Estes profissionais realizam teleatendimento.
“A gente tem feito rodízio para que as pessoas não fiquem sem atendimento. Muitas vezes, tem unidade de saúde com três a quatro equipes de saúde da família. Neste caso, procuramos deixar pelo menos uma completa para atender outras localidades”, acrescenta Evanusia.
Por outro lado, ela acredita que o aumento seu deu também por conta da ampliação de exames. Há, inclusive, uma unidade para os testes rápidos instalada no bairro Frei Damião. “A gente detecta muita gente assintomática, que não sabem são portadoras do vírus. Quando amplia, consegue ter um melhor olhar sobre onde implementa as ações”, completa.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste