A boa quadra chuvosa deste ano no Ceará, sobretudo no Cariri, fez crescer os focos do mosquito Aedes aegypti e, consequentemente, houve um salto nos casos de dengue nas quatro principais cidades da Região: Barbalha, Brejo Santo, Juazeiro do Norte e Crato. Esta última tem a situação mais preocupante, com 738 casos confirmados até o início de maio. Este número é quase seis vezes maior que o total de casos confirmados ao longo de 2019 no Município: 128.
A preocupação fez a Secretaria da Saúde intensificar as ações e ampliar a equipe de campo de 74 para 102 agentes de endemias. O trabalho acontece em terrenos baldios na procura de focos e em atividades educativas. Eles não podem, no entanto, realizar visitas dentro dos domicílios a fim de evitar um possível contágio pelo novo coronavírus, conforme recomendação do Ministério da Saúde.
A medida limita os trabalhos domiciliares e abre margem para a explosão dos casos de dengue. “Estimulamos o autocuidado, pedindo para que cada morador vistorie o seu imóvel”, explica a coordenadora de Vigilância em Saúde, Arlene Sampaio. Para tentar suprir essa lacuna, o Município tem realizado ações paralelas, como a ampliação dos ciclos de carro fumacê. Mas, Arlene alerta que sem a presença dos agentes, “só com a colaboração da população será possível reduzir os focos”.
Em Barbalha, foram 30 casos registrados em 2019, segundo a Secretaria da Saúde do Município. Até maio deste ano, este número é mais de quatro vezes superior, chegando a 135. Além disso, a terra de Santo Antônio registra o único óbito no Ceará, uma mulher que não teve sua identificação e idade reveladas.
O coordenador do Departamento de Endemias, Tácio Luna, reforça que os agentes têm focado na parte educativa, uma vez que há limitações por conta da pandemia. Para ele, só uma participação mais assídua da população pode contribuir para a diminuição de casos. “As pessoas poderiam tirar 15 minutos por semana para fazer uma inspeção em suas casas. Olhar caixa d’água, depósito, quintal, jardim”.
Já em Brejo Santo, somente de janeiro a abril de 2019, foram 138 casos. Este número, em 2020, foi alcançado apenas no mês de fevereiro, mas somando até o início de maio, chega a 318. A coordenadora de Endemias do Município, Maria Ana Bringel, pontua que está promovendo ações com o controle biológico, através de peixamento, e químico, com larvicida e inseticida, educação, borrifação motorizada e distribuição de tocas para potes e tambores.
“Devido à pandemia, o trabalho não está sendo executado com 100% de precisão”, admite Ana Bringel.
Referência
Ainda que Juazeiro do Norte também já tenha superado todos os casos de dengue do ano passado (35 contra 62), o Município é tido como referência no combate ao Aedes. Mesmo com o dobro da população de Crato, com quase 270 mil habitantes, Juazeiro apresenta índice quase 12 vezes menor que o município vizinho. A explicação pode estar no trabalho inovador implantado em junho do ano passado: o Sistema de Monitoramento Integrado do Aedes aegypt (MI- Aedes). O modelo consiste em gerar relatórios de infestação do mosquito, permitindo localizar os pontos de maior incidência e quais vírus ele carrega através de sua captura, nas chamadas Mosquitraps.
São nada menos que 570 armadilhas espalhadas que capturam o mosquito adulto através do atraente sintético de oviposição (AtrAedes).
O MI-Aedes também permite trabalhar de forma prioritária nos locais onde há maior concentração dos mosquitos. “Ele nos dá uma precisão de onde o problema está. Antes trabalhava às cegas”, explica a entomologista e coordenadora do Núcleo de Endemia, Mascleide Feitosa.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste