É muito comum mulheres ouvirem a seguinte história: comecei a usar anticoncepcional oral e ganhei peso. Mas será que os anticoncepcionais aumentam mesmo o peso?
Anticoncepcionais orais combinados são feitos de estrógeno e progesterona. Contudo, a composição dos anticoncepcionais pode variar bastante, desde doses mais altas até doses mais baixas, e também depende das características de cada progesterona que está no comprimido.
Ao olhar com calma vários anticoncepcionais é possível notar que as progesteronas que compõem estes anticoncepcionais têm nomes diferentes. Isso porque cada progesterona tem uma característica especial. Algumas agem anulando os efeitos indesejados de excesso de hormônios masculinos no organismo (acne e pêlos). Outras tem ação diurética, como a drospirenona, por exemplo, justamente para tentar evitar os inchaços.
Sabemos que a progesterona é um hormônio que tende a levar ao aumento do apetite e à retenção de líquido. Porém, se o anticoncepcional for escolhido pensando na tendência de cada mulher, com a dose certa e o tipo de progesterona certa, esses efeitos provavelmente não serão vistos. O que se percebe algumas vezes – a depender do tipo de anticoncepcional utilizado – é a retenção de líquido associada à progesterona, mas não um efetivo aumento de peso por excesso de gordura. Nesse caso, vale conversar com o médico para que seja feita a troca para um que a mulher se adapte melhor.
Apesar de termos diversas opções, doses e marcas, a ideia de ganho de peso ainda é difundida até entre profissionais do meio médico. Por esse motivo, pesquisadores do mundo inteiro analisam a relação entre a pílula anticoncepcional e seus efeitos colaterais.
A Cochrane é uma rede global independente de pesquisadores e profissionais, colaboradores. Eles são responsáveis por grandes pesquisas de revisão de assuntos médicos. Dentre essas pesquisas está uma revisão sistemática de 40 ensaios clínicos randomizados que concluiu que as mulheres que utilizaram os anticoncepcionais hormonais orais não ganharam mais peso do que as não usaram anticoncepcionais; ou ainda quando comparadas com outros métodos contraceptivos.
Olhando mais a fundo, outra revisão comparou participantes que foram divididas em 2 grupos: as que fizeram uso do anticoncepcional com 20 µg de etinilestradiol combinado com 100 µg de levonorgestrel ou as que fizeram uso do placebo por seis ciclos. O resultado foi que não houve diferença no ganho de peso entre os grupos.
Sabemos que o ganho de peso é sempre multifatorial. Quando pensamos em peso pensamos sempre em várias causas associadas. Temos a tendência genética de cada uma, mas principalmente são os hábitos de vida da própria pessoa que fazem com que o peso aumente.
Muitas vezes com o início do uso do anticoncepcional a mulher entra em uma nova fase de vida, mudando seus hábitos alimentares ? comendo mais alimentos, mais doces ou tendo mais escapes em momentos de mais estresse, por exemplo (aumento de demanda no trabalho, casamento, responsabilidades maiores com o amadurecimento), ou ainda se tornando mais sedentária ou dormindo mal. Tudo isso e não apenas o anticoncepcional irá de fato levar ao aumento de peso. Aqui focamos no conceito de que peso vem do balanço energético positivo, ou seja, comer mais e gastar menos fazendo o corpo acumular mais energia em forma de gordura.
Mas, se você tem dúvidas e começou a usar um anticoncepcional há pouco tempo, não se esqueça: converse sempre com seu médico. É possível sim fazer ajustes a depender da análise dos exames e do quadro clínico de cada uma.
Referências
(1) Gallo MF, Grimes DA, Schulz KF, Helmerhorst FM. Combination estrogen-progestin contraceptives and body weight: systematic review of randomized controlled trials. Obstet. Gynecol. 103, 359-373 (2004).
(2) Rosenberg M. Weight changes with COC use and during the menstrual cycle. Contraception58, 345-349 (1998).
(3) Coney P, Wasenik K, Langley RGB, Di Giovanna JJ, Harrison DD. Weight change and adverse event incidence with a low-dose oral contraceptive: two randomized, placebo-controlled trials. Contraception 63, 297-302 (2001).
Por Andressa Heimbecher Soares, endocrinologia e Metabologia – CRM 123579/SP
Fonte: Minha Vida