Em 1º de maio, o município de Itapipoca registrava 80 casos de Covid-19 e três óbitos em decorrência da doença. Uma semana depois, no dia 8, este número mais que dobrou (206 casos). Até às 10h13 de ontem (13), já eram 272 casos confirmados e 18 óbitos, segundo a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará.
O avanço preocupante coloca a cidade cearense na 16ª posição (juntamente com outros dois municípios brasileiros) no ranking nacional de cidades que levam menos dias (média de 6,5 dias) para duplicar o número de casos de Covid-19. Além de Itapipoca, o Ceará tem outras quatro cidades com piores médias no País: Sobral (média de 7 dias), que ocupa a 20ª posição, com mesma média que outras 15 cidades; Caucaia (7,5 dias); Fortaleza (7,5 dias); e Canindé (média de 8 dias), que divide a posição com outros cinco municípios. O levantamento foi realizado pelo MonitoraCovid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O estudo analisa cidades com mais de 30 casos confirmados.
Preocupação
Itapipoca também figura como a sexta cidade cearense e segunda do interior do Estado com maior número de confirmações. Na lista estadual, fica atrás, apenas, de Fortaleza (12.664), Caucaia (743), Maracanaú (395), Sobral (324) e Eusébio (278). O aumento rápido no número de casos causa preocupação.
Mayla Sampaio, subsecretária de saúde da cidade, explica que estão sendo adotadas ações para redução do fluxo de pessoas nos centros urbanos, além de outras medidas para ampliar o aleitamento nos hospitais públicos do Município. “Foi decretado o fechamento do comércio e criamos barreiras sanitárias. Também aumentamos uma ala na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), com 20 leitos para pacientes com quadros suspeitos ou confirmados”.
Para fortalecer o atendimento, a Prefeitura anunciou, também, que passará a utilizar o Hospital Regional de Itapipoca, pronto desde 2014. A unidade contará com uma ala específica para atendimento de pacientes com a Covid. “Estamos em conversa com a Secretaria da Saúde para aquisição de equipamentos e a Prefeitura vem buscando ampliar o total de leitos. Toda a regulamentação está em processo”, pontua Mayra. Alguns destes equipamentos começaram a chegar na unidade nesta terça-feira (12).
Ainda assim, segundo ela, os casos de maior complexidade precisam ser deslocados ao Hospital Maternidade São Camilo, unidade referência para os municípios da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (Cres), que abrange as cidades de Itapipoca, Amontada, Miraíma, Trairi, Uruburetama, Tururu e Umirim; ou à rede de saúde da Grande Fortaleza, já saturada.
Interiorização
Segundo o Diretor Administrativo do São Camilo, Juliano Ragnini, as medidas de isolamento ainda enfrentam resistência junto à população. “Muitas pessoas não respeitaram o decreto dos governos do Estado e Municipal. Estes números são a prova disso”, lamenta. “Temos 10 leitos de UTI e atendemos como referência de pacientes graves. Neste exato momento, todos os leitos estão ocupados com casos confirmados ou suspeitos de Covid-19”, explica.
Conforme nota da Fiocruz enviada ao Sistema Verdes Mares, “existe uma tendência à interiorização da epidemia”, que está chegando de forma acelerada aos municípios de menor porte. Inicialmente, os casos de Covid se concentraram na Capital, conectada por linhas aéreas nacionais e internacionais. Até o último dia 11, no entanto, mais da metade (55%) dos pequenos municípios do Ceará (com até 10 mil habitantes) já registravam casos. Já em relação às cidades com 10 mil a 20 mil habitantes, 95% já tem infectados pelo vírus. Nos municípios com mais de 20 mil habitantes, caso das cinco cearenses com piores médias para duplicação, “todas as cidades já têm algum caso confirmado e informado por meio de suas autoridades locais”, aponta a Fiocruz.
Na nota, a Fundação também considera que a instalação de ciclos de transmissão da doença em cidades de pequeno porte preocupa em dois aspectos. “O tempo de recuperação lento associado à alta taxa de contaminação tem ocupado leitos das grandes cidades, e pode acabar por provocar colapso do sistema de saúde nestes municípios”, aponta.
“Em segundo lugar, à medida que a doença avança para o interior, a demanda por serviços mais especializados de saúde, como UTIs e respiradores, também cresce. Esses municípios menores terão que enviar seus pacientes a cidades maiores, que já apresentam limitação de leitos, equipamentos e pessoal de saúde”. A avaliação é compartilhada por Ragnini, que diz encontrar uma infraestrutura precária nas cidades de menor porte abrangidas pelo São Camilo.
“Não possuem condições de dar assistência adequada a pacientes graves com a doença. Nenhum deles têm respiradores, exceto a UPA de Itapipoca”, explica.
Polos de Concentração
Ainda conforme apontado pela Fiocruz, a disseminação da transmissão do coronavírus se dá com base nas lógicas de circulação de pessoas e mercadorias, onde foram utilizadas informações da pesquisa Regiões de Influência das Cidades, do IBGE. Neste contexto, algumas cidades estão posicionadas no centro de uma rede de circulação, o que favorece a disseminação tanto nas capitais como nos municípios menores. No Ceará, segundo o IBGE, 17 cidades (9 no interior do Estado) concentram estes arranjos populacionais.
Já em relação ao Polos de Alta Complexidade (internação, cirurgias, ressonância magnética, tomografia e tratamentos de câncer, por exemplo), o Estado possui nove polos, como em Sobral, Canindé, Fortaleza, Juazeiro do Norte e Iguatu.
Ampliação
A Sesa disse ter ampliado 492 leitos de UTI e 1.670 de enfermaria para atendimento de pacientes com Covid-19 na rede pública da Capital e interior. “O Ceará possui uma estrutura de saúde bem distribuída pelo interior, com hospitais regionais em Juazeiro do Norte, Sobral e Quixeramobim, além de hospitais polo em cidades estratégicas, como Maracanaú, Caucaia, Itapipoca, Crateús, Tauá, Iguatu e Icó”.
Ainda segundo a Sesa, durante a pandemia, as unidades receberam incremento de leitos de enfermaria e de UTIs para expandir a capacidade de atendimento.
Fonte: Diário do Nordeste