Entre os meses de março e maio deste ano, o deputado federal Heitor Freire (PSL) gastou R$ 33 mil da cota parlamentar no aluguel de um imóvel no número 1472 da rua Frei Mansueto. O pesselista, contudo, despachava noutro endereço até semana passada, quando deixou as três salas que ocupava no edifício Torre Quixadá, na avenida Barão de Studart.
Essas informações fazem parte do pedido de afastamento de Freire apresentado pelos colegas de partido, os deputados estaduais André Fernandes e Delegado Cavalcante. No documento, os parlamentares acusam o correligionário de mau uso de dinheiro público e acionam a executiva nacional da legenda para afastá-lo do comando.
Uma das razões apontadas por Fernandes e Cavalcante é que o imóvel pelo qual Heitor Freire paga R$ 11 mil por mês com recursos públicos, sem de fato utilizá-lo, já abrigou a empresa Lumens Light, registrada no nome da mãe do parlamentar, Josefa Pereira Freire.
Questionado, Heitor negou que seu gabinete funcionasse na Torre Quixadá e sustentou que, desde março, trabalha na rua Frei Mansueto. O POVO perguntou se ele não via conflito ético na utilização de um imóvel onde sua família mantivera negócios até recentemente. O parlamentar rebateu.
“A Lumens Light encerrou as atividades comerciais. Todavia, o fato de ter funcionado no local qualquer empresa que seja não impede que o deputado possa locar o imóvel para fins de instalar ali seu escritório de representação política no Estado”, disse.
O presidente do PSL acrescentou: “Cabe salientar que no local são desenvolvidas atividades administrativas e de assessoria destinadas a atender dezenas de demandas que são transformadas em projetos de leis e em requerimentos para levar desenvolvimento e qualidade de vida para os cearenses”.
 A reportagem pediu então que o deputado apresentasse registros (atas de reuniões e fotos, por exemplo) dessas “atividades administrativas” desenvolvidas no referido endereço em março, quando passou a empregar parte da cota no aluguel do prédio onde estaria o seu gabinete.
Para comprovar que trabalhava ali, Freire encaminhou, via assessoria, um contrato de instalação de computadores datado de março, mas sem o local de instalação das máquinas, e uma fotografia na qual aparece ao lado de outras seis pessoas.
Uma delas é o diretor da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Ceará (Adepol), Milton Castelo. A foto, porém, não tem data ou qualquer referência. Também não foi publicada em redes sociais. Perguntado sobre quando a imagem havia sido feita, o deputado disse: “Não recordo, mas já faz tempo”.
Não faz tanto tempo assim, entretanto. O POVO enviou ontem a imagem à assessoria da Adepol para saber quando o presidente da entidade tinha se encontrado com o deputado. “Na semana passada, no sábado, dia 22”, declarou o assessor da imprensa da entidade.
Depois disso, a reportagem solicitou que Freire fornecesse comprovantes de consumo de água, energia, de telefonia ou de internet onde constasse o endereço informado como o do seu gabinete, mas ele falou, novamente por assessoria, que não dispõe desses papéis. “Não há conta de água ou luz, pois o deputado não pediu ressarcimento de valores correspondentes a essas despesas”, afirmou.
O POVO visitou o imóvel da rua Frei Mansueto, 1472, na última quarta-feira. Embora o deputado diga que mantém atividades ali nos últimos três meses, período no qual despendeu quantia de R$ 33 mil, não há nada no endereço que o identifique como gabinete. Na fachada, ainda existe o nome da empresa de sua família, a Lumens Light.
Um dos vizinhos do prédio, que pediu para não se identificar, disse que, até semana passada, o lugar onde funcionaria o gabinete do deputado estava fechado. Conforme o relato, a mudança só foi feita agora.
A reportagem também esteve no edifício Torre Quixadá. Lá, um funcionário do prédio repetiu história semelhante. Também sem se identificar, ele afirmou que o deputado, que antes ocupava as salas 6, 8 e 10 do edifício, fizera sua mudança dias antes. As salas, de fato, estavam vazias. Nas paredes, havia apenas um cartaz da campanha de Jair Bolsonaro (PSL).
Fonte: O Povo