Um novo estudo da Universidade da Austrália do Sul aponta que pessoas com insônia podem manter o cérebro em ritmo diurno no momento de dormir, permanecendo em modo de pensamento sequencial quando deveriam desacelerar. A descoberta reforça a hipótese de um “relógio mental” desajustado que dificulta o início e a manutenção do sono.
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🧩 O que a pesquisa investigou
Publicado na revista Sleep Medicine, o estudo comparou, durante 24 horas contínuas, o padrão de pensamentos de adultos mais velhos com insônia e de bons dormidores.
Os pesquisadores avaliaram:
• intensidade e tipo de pensamentos;
• sensação de controle mental;
• nível de atenção ao ambiente;
• caráter mais realista ou mais onírico das ideias.
O protocolo eliminou estímulos externos, luz forte, mudanças corporais e tentativa de dormir, permitindo observar apenas as oscilações internas, como o ritmo circadiano.
🛌 Como foi conduzido o experimento
Os pesquisadores da Universidade da Austrália do Sul, em parceria com a Washington State University e a Flinders University, recrutaram 32 pessoas acima de 55 anos:
• 16 com insônia de manutenção do sono;
• 16 bons dormidores.
Antes do experimento principal, todos passaram por:
• polissonografia;
• entrevistas clínicas;
• diários de sono.
Na etapa central, os voluntários permaneceram 26 horas em um protocolo de rotina constante, deitados, com luz fraca e sem estímulos, recebendo lanches leves a cada duas horas. A cada hora, respondiam a uma escala que avaliava oito aspectos dos pensamentos recentes.
🔍 O que o estudo encontrou
Ambos os grupos apresentaram um ritmo de 24 horas no funcionamento mental: pensamentos orientados a tarefas aumentavam durante o dia e se tornavam mais imagéticos e “oníricos” na madrugada.
A diferença crítica foi:
• bons dormidores apresentaram uma transição mais clara entre mente ativa e mente “desengatada”;
• pessoas com insônia mostraram menor contraste entre dia e noite, mantendo pensamentos mais realistas, lógicos e controlados mesmo no período noturno.
O achado mais relevante: 👉 o pico de pensamento linear foi atrasado em até 6h30 no grupo com insônia, indicando que o cérebro seguia em modo de raciocínio sequencial quando já deveria estar relaxado.
🔗 Pensamento encadeado: um traço marcante da insônia
Segundo os autores, pessoas com insônia tendem a manter uma cadeia contínua de pensamentos — planejamento, revisões, preocupações sucessivas — especialmente à noite.
Esse padrão mental:
• é comum em ansiedade e depressão;
• dificulta o desligamento cognitivo;
• pode sustentar o estado de vigília mesmo em ambiente apropriado ao sono.
📌 Pontos fortes e limitações do estudo
O que fortalece a pesquisa:
• uso do protocolo de rotina constante, padrão robusto em cronobiologia;
• eliminação de estímulos externos e condicionamentos ligados ao ato de tentar dormir.
Limitações importantes:
• amostra pequena (32 pessoas);
• participantes apenas mais velhos com insônia de manutenção;
• medidas de pensamento ainda não validadas psicometricamente;
• ausência da pressão real de precisar dormir para o dia seguinte.
🧠 Implicações para o tratamento
Os resultados reforçam a hipótese de hiperexcitação cerebral, em que o córtex pré-frontal mantém atividade alta durante a noite.
Possíveis caminhos terapêuticos incluem:
1️⃣ Ajuste de ritmos biológicos
• maior exposição à luz natural;
• rotina estruturada de horários;
• redução do uso noturno de telas.
2️⃣ Intervenções cognitivas
• mindfulness;
• técnicas para interromper a sequência automática de pensamentos;
• adaptações na Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I).
🔮 Próximos passos
Os autores sugerem estudos com:
• grupos maiores;
• diferentes faixas etárias;
• outros tipos de insônia;
• pacientes com ansiedade isolada.
O objetivo é diferenciar o que pertence especificamente à insônia e o que se sobrepõe a outros transtornos.
Por Heloísa Mendelshon










