Uma proteína desenvolvida a partir da placenta humana reacendeu a esperança de pacientes com lesão na medula espinhal, condição que pode causar perda parcial ou total dos movimentos e que, até hoje, não tem tratamento capaz de reverter o dano.
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A substância, chamada polilaminina, é fruto de mais de 20 anos de pesquisas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trata-se de uma versão recriada em laboratório da laminina — proteína presente no desenvolvimento embrionário e essencial para que neurônios se conectem.
A expectativa dos cientistas é que, aplicada diretamente no ponto da lesão, a proteína estimule os nervos a criarem novas rotas, restabelecendo parte dos movimentos.
🧬 Diferença em relação às células-tronco
Embora tanto a polilaminina quanto as células-tronco busquem reproduzir processos naturais do corpo, a nova proteína é considerada uma alternativa mais simples.
• A polilaminina é um produto biológico, como o colágeno, e não provoca rejeição.
• Já as células-tronco carregam uma identidade única, como um “código de barras” de cada indivíduo, o que gera risco de rejeição quando transplantadas.
Por isso, terapias com células exigem imunossupressão, que pode sobrecarregar o organismo do paciente.
🏥 Próximas etapas da pesquisa
Os testes clínicos devem ocorrer no Hospital das Clínicas da USP e na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – Hospital Central.
A fase inicial será aplicada em pacientes com lesões agudas, ou seja, nos primeiros dias após o trauma (cerca de três a quatro dias). A seleção será feita nas emergências hospitalares, ainda sem data definida para início.
Desde 2022, reuniões vêm sendo realizadas com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para avaliar a autorização do uso clínico. O desenvolvimento é feito em parceria com o laboratório Cristália.
Apesar do avanço, a Anvisa alerta que ainda não há autorização para uso em humanos e cobra mais dados de segurança antes da próxima fase.
🐕 Resultados em animais
Um estudo publicado em agosto na revista Frontiers in Veterinary Science testou a polilaminina em seis cães paraplégicos.
• Quatro voltaram a dar passos e apresentaram marcha mais firme.
• Dois tiveram ganhos discretos.
• O acompanhamento durou seis meses e não foram registrados efeitos colaterais graves.
👩🦽 Primeiros testes em voluntários humanos
Além dos cães, a substância já foi aplicada em oito pacientes brasileiros, dentro de protocolos acadêmicos.
Alguns voluntários que haviam perdido completamente os movimentos recuperaram parte da mobilidade — desde pequenos gestos até ganhos mais amplos, como controle de tronco e até passos com auxílio.
Os pesquisadores reforçam, porém, que o número ainda é pequeno e os resultados precisam ser confirmados em estudos maiores.
⚖️ O que diz a Anvisa
Segundo a agência, os dados apresentados até o momento ainda são iniciais e não clínicos, restritos a resultados em laboratório e em animais.
A Anvisa afirma que a empresa responsável deve complementar informações de segurança para que os testes regulatórios em humanos possam começar.
⏳ O longo caminho até os hospitais
Para que a polilaminina chegue ao Sistema Único de Saúde (SUS), será necessário:
• Concluir os estudos pré-clínicos.
• Iniciar os ensaios clínicos em humanos (fase 1, de segurança).
• Avançar para as fases 2 e 3, testando eficácia e doses em grupos maiores.
• Solicitar o registro sanitário junto à Anvisa.
Esse processo costuma levar anos e envolve rigorosos controles científicos e regulatórios.
🌟 Esperança com cautela
Apesar dos resultados iniciais animadores em animais e nos primeiros voluntários, especialistas reforçam que ainda não há tratamento disponível para regeneração da medula espinhal.
A polilaminina, contudo, desponta como uma das pesquisas mais promissoras em busca de uma solução definitiva para uma das condições médicas mais desafiadoras da atualidade.
Por Aline Dantas










