Entre janeiro e novembro deste ano, 44 municípios cearenses solicitaram apoio do Governo Federal após decretarem situação de emergência por seca ou estiagem. Segundo dados da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), 36 desses decretos ainda estavam vigentes na consulta realizada na última sexta-feira (21). Os pedidos refletem o agravamento da falta de chuvas e os impactos crescentes sobre a população, o abastecimento e a produção agropecuária.
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🌵 Avanço da seca pressiona municípios e aumenta gastos emergenciais
As solicitações de apoio são reconhecidas pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), possibilitando o envio de reforços da União às ações emergenciais locais. Entretanto, a maior parte da resposta prática continua recaindo sobre as prefeituras, que seguem arcando com despesas como:
• Abastecimento por caminhões-pipa em zonas urbanas, rurais e aldeias indígenas;
• Perfuração e manutenção de poços;
• Ampliação e limpeza de açudes;
• Distribuição de cestas básicas;
• Outras intervenções para mitigar os efeitos imediatos da estiagem.
Relatórios enviados ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD) mostram que os 44 municípios desembolsaram, juntos, R$ 19,5 milhões em ações emergenciais só em 2025.
A situação de emergência é decretada quando o desastre compromete parcialmente a capacidade de resposta do poder público local.
💸 Prejuízos privados ultrapassam R$ 600 milhões
Além do gasto público, a seca tem provocado grande impacto no setor agropecuário. Dados da Ematerce anexados aos pedidos de auxílio indicam perdas superiores a R$ 600 milhões. A cifra pode ser ainda maior, já que alguns municípios não conseguiram enviar relatórios atualizados dentro do prazo.
📉 Monitor de Secas aponta agravamento em 2025
De acordo com o Monitor de Secas, o Ceará registrou neste mês 100% do território em condição de seca relativa, cenário que se mantém desde janeiro de 2024. Embora não haja áreas em seca grave ou extrema, os níveis atuais já preocupam:
🌕 Seca moderada: 63,34% do território
🌑 Seca fraca: 36,65%
Esse quadro pode gerar dificuldades de abastecimento e prejuízos diretos à vegetação e às atividades agropecuárias. Os dados do monitor são produzidos por órgãos como Cogerh, Funceme e Ematerce, com coordenação da ANA.
🚨 Municípios voltam a decretar emergência após anos
Cidades como Potengi, Assaré e Ibicuitinga voltaram a declarar situação de emergência após longos períodos — última ocorrência em 2016, 2020 e 2018, respectivamente. O número de decretos vinha caindo desde 2017, mas voltou a crescer em 2021 e 2024.
Em Ibicuitinga, o decreto emergencial federal esteve vigente até o último fim de semana. A prefeitura renovou o documento local em 17 de novembro para manter o acesso aos mecanismos de apoio da União.
Um relatório de junho descreve exaurimento de fontes alternativas de abastecimento, incluindo açudes, poços e cisternas, especialmente em áreas sem atendimento da Companhia de Abastecimento.
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (2023):
• 56,7% da população municipal possui abastecimento de água;
• 93,7% no meio urbano;
• apenas 18,7% no meio rural.
💬 “O município sozinho não consegue atender”, diz Defesa Civil
O coordenador da Defesa Civil de Ibicuitinga, Antônio de Holanda Neto, afirma que a situação é crítica:
“A situação é bem precária porque a maioria dos municípios, o homem do campo, que vive da agricultura, é penalizado com essa falta. Apesar de ter ajuda do governo, a perda é grande. O município sozinho não consegue atender essa situação”.
Ibicuitinga recebe atualmente dois caminhões da Operação Carro-Pipa, enquanto a prefeitura mantém mais um veículo — com custo semestral acima de R$ 50 mil. A cidade calculou perdas de 75% na agropecuária mesmo após a quadra chuvosa.
🚚 Operação Carro-Pipa atende 36 municípios; problema é crônico
No Ceará, 304 caminhões-pipa estão em operação pela iniciativa federal. As cidades com maior número de veículos são:
• Parambu
• Mombaça
• Acopiara
• Tauá
Esses municípios, além de outros como Itatira, Campos Sales e Pedra Branca, registram episódios recorrentes de seca, com mais de 25 decretos de emergência reconhecidos nos últimos 15 anos.
O Governo Federal reconhece que a Operação Carro-Pipa tem sido usada de forma contínua, abastecendo 47% dos municípios beneficiados durante mais de 80% do tempo entre 2012 e 2022, o que evidencia falta de ações estruturais como cisternas, poços e redes permanentes de abastecimento.
💧 Exemplos de impactos recentes
Pedra Branca
• Quase atendimento contínuo entre 2020 e 2025
• Prejuízos atuais: R$ 2,7 milhões
• 15 caminhões financiados pelo município e PAC
• 9 caminhões do Exército
Milhã
• Prejuízo declarado: R$ 840 mil
• Ações próprias incluem perfuração de poços, limpeza de açudes e carros-pipa
• Finanças municipais estão comprometidas pela recorrência da seca
Por Nágela Cosme










