O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta terça-feira (25) a demissão da ministra da Saúde, Nísia Trindade. A pasta será assumida por Alexandre Padilha, atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais. A troca será oficializada em uma cerimônia de posse marcada para o dia 6 de março.
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A saída de Nísia já era especulada há semanas, dentro de um processo de reforma ministerial em etapas. A mudança faz parte da estratégia do governo para fortalecer sua articulação política no Congresso e recuperar popularidade junto ao eleitorado.
Lula tem pressionado ministros a defenderem publicamente as ações do governo e busca dar um perfil mais político às pastas. O Ministério da Saúde, que administra o maior orçamento da Esplanada, sempre foi alvo de interesse do Centrão — grupo de partidos de centro e centro-direita que têm ampliado sua participação no governo.
Críticas à gestão e dificuldades políticas
Nísia Trindade, socióloga e ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), assumiu o Ministério da Saúde em 2023 como um aceno à comunidade científica. No entanto, sua gestão enfrentou críticas constantes, especialmente pela dificuldade de articulação política com o Congresso e pela condução de temas como a crise da dengue e a gestão de emendas parlamentares na área da saúde.
Em fevereiro deste ano, o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e outros líderes partidários enviaram um requerimento formal à ministra cobrando a liberação de emendas parlamentares. A resposta da pasta de que seguia “critérios técnicos” não agradou ao Congresso, aprofundando a crise política entre o governo e sua base.
Nos bastidores, a demora na implementação do programa Mais Especialidades — uma das principais apostas de Lula para o SUS — também pesou contra Nísia. O presidente queria que o projeto fosse uma das marcas do terceiro mandato, mas avaliava que os avanços eram tímidos.
Apesar disso, Nísia conseguiu elevar a cobertura vacinal infantil e reforçou a política de fabricação nacional de imunizantes. Em sua despedida, foi aplaudida por servidores da Saúde durante um evento no Palácio do Planalto, onde anunciou novos investimentos no setor.
Alexandre Padilha: de articulador político a ministro da Saúde
Médico sanitarista e político experiente, Alexandre Padilha retorna ao Ministério da Saúde, cargo que ocupou entre 2011 e 2014 no governo Dilma Rousseff. Na época, foi responsável pela criação do programa Mais Médicos.
No atual governo, Padilha comandava a Secretaria de Relações Institucionais, sendo o responsável direto pela articulação com o Congresso. Porém, sua atuação enfrentou desafios, com sucessivas crises entre o Planalto e parlamentares do Centrão. Arthur Lira chegou a declarar que a base de Lula na Câmara era frágil e, em alguns momentos, cortou relações com Padilha.
Agora, a ida de Padilha para o Ministério da Saúde pode ser vista como uma tentativa de Lula de reforçar o perfil político da pasta e estreitar os laços com o Congresso. Com isso, o governo busca não apenas fortalecer sua articulação, mas também garantir a liberação de recursos para projetos prioritários na área da saúde.
Reforma ministerial em andamento
A troca no Ministério da Saúde é mais um passo no processo de reconfiguração do governo Lula. Desde o início do terceiro mandato, já foram feitas sete mudanças na Esplanada. Algumas ocorreram para ampliar o espaço do Centrão, como as nomeações de Celso Sabino (PSD) para o Turismo, André Fufuca (PP) para os Esportes e Silvio Costa Filho (Republicanos) para Portos e Aeroportos.
Outras substituições ocorreram para conter crises internas, como no Ministério dos Direitos Humanos, após denúncias de assédio moral contra Silvio Almeida, e na Secretaria de Comunicação, onde Paulo Pimenta foi trocado por Sidônio Palmeira para melhorar a estratégia de comunicação do governo.
Por Nicolas Uchoa