A Polícia Civil está investigando uma família do Crato que arrecadou mais de R$ 30 mil após fingir que uma jovem estava com um câncer raro no cérebro e precisava passar por uma cirurgia em São Paulo. A farsa foi descoberta na última quarta-feira (24) e o caso é investigado como estelionato em ambiente virtual.
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Pai, mãe e filha mobilizaram veículos de imprensa e divulgaram campanhas nas redes sociais afirmando que a jovem, de 18 anos, tinha um tumor raro no cérebro e precisaria passar por procedimento de urgência com uma médica que viria do Japão.
Segundo os suspeitos, a cirurgia custava R$ 120 mil, mas eles precisavam apenas de R$ 50 mil, pois a médica teria feito um desconto.
Comovidos com a situação, vizinhos da família criaram rifas, com pontos a R$ 10, para arrecadar o dinheiro. Além disso, a mãe da falsa portadora de câncer recebeu transferências via PIX de pessoas que contribuíram para o suposto tratamento, após a campanha ser divulgada em sites. Ao todo, foi arrecadado R$ 31.991,95.
Apesar da tentativa de golpe, o caso teve uma reviravolta e o dinheiro terminou sendo repassado a um instituto que trata crianças com a doença.
Descoberta da farsa
A farsa começou a ser descoberta após o pai da jovem que fingiu ter câncer entrar em contato com o diretor do portal News Cariri, Wesley Martins, um dos que divulgou o caso, pedindo para que a campanha fosse retirada do ar, pois a sogra não tinha gostado da repercussão da reportagem.
O ato levantou a desconfiança de Wesley, que passou a questionar ao homem sobre os exames que comprovavam a doença na garota.
“Aquilo me deixou desconfiado. Então passei a questionar a ele sobre os exames, o nome da médica que iria realizar o procedimento em São Paulo e ele sempre dando desculpas, que depois iria me passar e não passava”, falou o Wesley.
Inclusive, o diretor do portal ficou sabendo da história da jovem através de um amigo corretor de imóveis, que solidarizou após ser contratado pelo casal para vender a casa, com a desculpa que o dinheiro seria usado para custear o suposto tratamento.
“Esse meu amigo ficou comovido com a situação, com medo da família perder a casa por não ter dinheiro para o tratamento, levou a gente lá e conversamos com a família. O pai chorou, a menina chorou, todo mundo ficou tocado com a história deles e no mesmo dia divulgamos a campanha”, relembrou o diretor.
Depois da atitude suspeita do pai, Wesley voltou a casa da família e o homem citou o nome de uma médica que realizaria a cirurgia. Ao entrar em contato com a profissional, o diretor começou a descobrir a mentira.
“A médica que eles indicaram disse que não fazia cirurgia e não tinha nenhuma paciente daqui”, disse o homem.
O diretor do portal sugeriu aos pais que jovem fosse levada para fazer uma ressonância magnética no crânio. No exame, foi constatado que a filha do casal não estava com câncer.
“Adoeci com essa história. Você chegava na casa e o pai falava com convicção. Eles enrolaram até o médico do posto de saúde. Todo mundo chorou com a história que ele contou e a gente se comovia com a situação que eles viviam na residência. É uma coisa que a gente fica passado da pessoa inventar que a filha está com câncer”, disse Wesley.
Dinheiro repassado a instituto
Com a descoberta da farsa, Wesley sugeriu ao casal que repassasse o dinheiro arrecadado indevidamente por eles ao Instituto de Apoio à Criança com Câncer (IACC), em Barbalha. O dinheiro foi transferido nesta quinta-feira (25).
O IACC oferece suporte às famílias de crianças de 0 a 19 anos portadores de câncer, de toda a região do Cariri.
O Instituto tem como objetivo aplicar recursos para promover assistência completa e gratuita desde o diagnóstico precoce até cura, a fim de oferecer qualidade de vida durante e após o tratamento.
Investigação
Conforme a Polícia Civil, o caso foi registrado por meio de um Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOE), feito na quarta-feira (24).
A denúncia de estelionato ocorrido em ambiente virtual está sendo apurada pela Delegacia Regional do Crato, que realiza levantamentos para elucidar os fatos.
O crime de estelionato virtual tem pena de 4 a 8 anos de prisão.
Fonte: g1 CE