O uso excessivo e sem mediação de celulares por crianças e adolescentes tem gerado preocupação entre educadores, pais e parlamentares em todo o país. O debate sobre a presença dos dispositivos móveis nas escolas ganhou força nos últimos anos e resultou, em 15 de janeiro deste ano, na sanção da lei que restringe o uso dos aparelhos nas instituições de ensino públicas e privadas.
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Antes mesmo da medida federal, 17 estados brasileiros já haviam implementado regras próprias para limitar a utilização dos celulares em sala de aula. A nova legislação proíbe o uso do aparelho durante as aulas, recreios, intervalos e atividades extracurriculares, exceto quando for utilizado com finalidade pedagógica.
Embora a medida tenha apoio de muitos educadores, há um consenso entre especialistas: a tecnologia pode e deve estar presente no ambiente escolar, desde que haja mediação adequada.

Impactos do uso excessivo: o que dizem os especialistas?
Estudos apontam que a exposição excessiva às telas pode impactar o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, dificultando a concentração e a interação social. O psicólogo infantil André Vasconcelos destaca que o uso sem controle pode levar a problemas mais graves, como ansiedade e dificuldade na regulação emocional.
“O excesso de tempo em frente ao celular pode prejudicar habilidades sociais importantes, como a empatia e a comunicação interpessoal. Além disso, há um risco de aumento da impulsividade, já que os aplicativos são projetados para estimular respostas rápidas e imediatas”, explica.
Para a pedagoga Luciana Mendes, o desafio não é apenas restringir o uso, mas ensinar os alunos a utilizarem a tecnologia de forma produtiva.
“A proibição total pode ser um retrocesso. Em vez disso, precisamos trabalhar a educação digital, capacitando tanto professores quanto estudantes a usarem os dispositivos com responsabilidade e com objetivos pedagógicos bem definidos”, argumenta.
O professor de matemática Ricardo Oliveira, que atua no ensino fundamental em uma escola pública do Crato, acredita que o celular pode ser um aliado no aprendizado. No entanto, ele ressalta a necessidade de planejamento.
“Se bem utilizado, o celular pode ser uma ferramenta incrível para auxiliar na aprendizagem. Existem aplicativos que ajudam na resolução de problemas matemáticos, no aprendizado de idiomas e até na organização dos estudos. Mas é fundamental que haja regras claras e que os professores tenham capacitação para integrar essas tecnologias ao ensino”, diz.

Celulares na escola: distração ou ferramenta pedagógica?
Em uma escola de educação infantil e ensino fundamental de Barbalha, crianças entre 4 e 12 anos relatam o que mais gostam de fazer com os celulares.
O Gabriel Sampaio, de 7 anos, gosta de pesquisar sobre seus brinquedos favoritos. Alice Souza, de 13 anos, usa o aparelho para produzir vídeos para o seu canal no YouTube. Já Matheus Saraiva, de 9 anos, explora diversas funções, como jogos educativos, aprendizado de inglês e pesquisas escolares.
A diversidade de usos evidencia um dos maiores desafios enfrentados pelos educadores: como direcionar o interesse das crianças e adolescentes para conteúdos educativos?
Para a professora de português Mariana Lopes, o uso do celular na sala de aula pode ser positivo quando bem direcionado.
“O problema é quando ele se torna um elemento de distração. Mas se tivermos um planejamento pedagógico que envolva o uso de aplicativos educativos e plataformas interativas, o celular pode ser um grande aliado no ensino”, afirma.
A nova lei permite o uso dos celulares para fins pedagógicos ou didáticos, mas muitos professores ainda não sabem como integrar os dispositivos ao ensino. O pedagogo Felipe Nogueira acredita que é preciso investir na capacitação docente e na criação de diretrizes claras para o uso das tecnologias na educação.
“Os professores precisam de formação para saber como utilizar os celulares de forma eficiente no ensino. Além disso, as escolas precisam investir em plataformas digitais seguras e adequadas para cada faixa etária”, defende.

Desafios e perspectivas
Com a nova regulamentação, especialistas apontam que a chave para um uso equilibrado dos celulares na educação está na mediação entre educadores, pais e alunos. O psicólogo infantil André Vasconcelos ressalta que os pais também devem ter um papel ativo nesse processo.
“O controle não deve ser apenas da escola. Em casa, os pais precisam estabelecer limites de tempo de tela e incentivar outras formas de aprendizado e lazer, como a leitura e atividades ao ar livre”, orienta.
Por Nágela Cosme