A vitória do candidato do partido democrata Joe Biden nas eleições para presidente dos Estados Unidos é positiva para as Bolsa em todo o mundo, incluindo no Brasil, dizem profissionais de mercado. No câmbio, predomina a expectativa de que o dólar devolva parte da valorização acumulada ao longo de 2020 ante a maioria das principais moedas globais, exceto no Brasil, onde problemas domésticos, como a dívida pública, devem manter o real pressionado.
Segundo especialistas, a vitória de Biden representa uma incerteza a menos no radar da economia, o que ajuda a reduzir a aversão a risco dos aplicadores. Isso estimula a busca por produtos de maior retorno, como ações, e diminui a procura por ativos considerados reservas de valor, como ouro e dólar.
“As eleições americanas têm sido uma fonte de estresse já há algum tempo. Com uma definição, os investidores podem começar a traçar cenários porque sabem ao menos a linha de políticas de quem vai comandar a maior economia do mundo nos próximos anos”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora de Câmbio, Fabrizio Velloni.
Por que vitória de Biden favorece Bolsas?
A definição de Biden como novo presidente dos Estados Unidos é considerada um fator positivo para investimentos em ações por alguns motivos, segundo profissionais de mercado. Veja alguns.
• Pacote de estímulo: Com a definição do novo presidente, Democratas e Republicanos devem finalmente chegar a um acordo para a aprovação do pacote de estímulo do governo americano para enfrentar as perdas econômicas provocadas pela pandemia. A injeção de recursos, que pode ser da ordem de US$ 1 trilhão, vai ajudar a maior economia do planeta a ganhar força e a puxar o restante da atividade econômica mundial.
• Comércio global: Biden deve retomar a agenda de acordos comerciais assumindo uma postura menos conflituosa com parceiros históricos dos americanos, dizem profissionais de mercado. Essa política é vista como positiva pelos mercados porque pode estimular o comércio global e, consequentemente, a economia mundial.
• Equilíbrio de forças: A vitória de Joe Biden para comandar o poder executivo nos Estados Unidos pode não ocorrer da mesma forma no poder Legislativo, já que o partido Republicano ainda pode manter a maioria no Senado. Esse eventual equilíbrio de forças é considerado um fator positivo para os mercados porque temas mais sensíveis aos empresários podem ser barrados.
“Esse equilíbrio entre os dois partidos, Democrata e Republicano, elimina riscos especialmente de aumento demasiado de impostos, o que é visto como positivo pelo mercado, e as Bolsas americanas já estão refletindo esse otimismo também com performance positiva. Como de costume, o desempenho do mercado americano ecoa no brasileiro e devemos ver as ações no Brasil indo bem também.”
Jorge Junqueira, sócio e chefe da área de renda variável da Gauss Capital
Qual o impacto no câmbio?
A definição de quem vai comandar os Estados Unidos já tira do horizonte uma fonte de incerteza, dizem profissionais de mercado. Por si só, esse fator já pode reduzir a procura pelo dólar como aplicação e, por tabela, levar a uma desvalorização da moeda americana ante a maioria das demais divisas no mundo.
Além disso, Biden defende mais gastos do governo em políticas sociais, como na área da saúde, assim como a elevação de impostos, para cobrir as despesas extras, medidas que podem desestimular a busca pelo dólar.
“O mercado trabalha com o dólar perdendo um pouco de valor que acumulou este ano ante a cesta global de moedas” afirma o responsável de renda fixa e multimercados da BNP Paribas Asset Management, Gilberto Kfouri.
Dólar pode cair ante real?
Já no Brasil, o dólar pode seguir forte porque prevalecem dúvidas com relação a problemas internos. A maior preocupação dos investidores é com o tamanho e com o ritmo de crescimento da dívida pública.
Segundo profissionais de mercado, o receio de que o governo Bolsonaro tenha que elevar juros para seguir rolando o endividamento crescente reduz a entrada de investimentos externos na economia brasileira, limitando a oferta de dólares aqui no país.
Por isso, o espaço para uma desvalorização maior da moeda americana ante o real é uma incerteza entre gestores de recursos, mesmo após o dólar ter acumulado já mais de 40% de valorização este ano.
“O Brasil tem problemas específicos, como o fiscal, o político, além de taxa de juros muito baixa. Tudo isso cria um ambiente de real mais depreciado.”
Ronaldo Magalhães, sócio diretor do Modalmais
Pior cenário é indefinição
Todos os profissionais de mercado ouvidos pela reportagem alertaram que ainda há uma fonte de incerteza relacionada às eleições americanas: o risco de a disputa parar nos tribunais. A volatilidade nas Bolsa e no mercado de câmbio podem ganhar força se Donald Trump não aceitar a derrota e recorrer a medidas como pedidos de recontagem de votos ou mesmo questionamentos na Suprema Corte.
“Um cenário incerto, depois de um resultado muito apertado, tende a provocar volatilidade, ainda mais levando em conta que essa é uma disputa entre dois lados muito polarizados.”
Matheus Janoneli, analista da Nova Futura Investimentos
Fonte: UOL