Para o sociólogo alemão, Max Weber, o Estado seria uma relação de dominação de homens sobre homens, esse domínio teria o suporte legítimo da coação. Para Weber a força e a violência são fundamentais para uma associação política. A obediência dos dominados para com os dominadores seria validada pelas leis e um conjunto de regras estatuídas racionalmente, quem assume o poder também obedece a esse código legal. Sendo assim, o poder estaria na legalização dos atos e não nas mãos dos homens, para que a autoridade fosse verdadeira ela deveria estar amparada na lei. Nessa perspectiva, o nazismo estruturou sua máquina de horrores, com um ódio viral que chocou o mundo. Max Weber não fundou nenhuma prática governamental, como cientista, ele apenas analisou as relações sociais do seu tempo. Era a primeira década do Século XX.
Ainda no calor da Segunda Guerra Mundial, em 1944, o pensador Hans Kohn dá início aos estudos mais aprofundados sobre a conceituação e o entendimento do que é uma nação. Por muito tempo as ideias modernistas definem nação como um povo que comunga várias vertentes, como língua, costumes, hábitos, culturas e outras condições sociais, econômicas, históricas e políticas. Ao longo do desenvolvimento do materialismo histórico outros fatores foram fundamentais para a existência dessa concepção, principalmente a industrialização e o capitalismo. Com efeito, com fins únicos de dominação e poder, além de muita habilidade publicitária, os aparatos governamentais e seus executores difundiram e praticaram os ideais nacionalistas, fundando extremos e procriando sórdidos conquistadores. Desde então a postura de exclusão e vilipêndio da cidadania resistem ao intenso desenvolvimento tecnológico, científico e social, marcando os índices civilizatórios com uma mancha de obscurantismo, que inclui o racismo e o ódio às diferenças sociais, como forma de manter no poder uma minoria de privilegiados.
A movimentação de um exorbitante capital, bem como a escravização e o menosprezo pelos marginalizados socialmente, além de uma intensa exaustão dos recursos naturais, através do subterfúgio do crescimento econômico e da imaculada missão de alimentar o mundo, justificam o extermínio de povos, a invasão de territórios e a colonização cultural. Sempre em nome de algum Deus e com o mesmo objetivo de proteger a família. A pós-modernidade deu voz às minorias, pavimentou os cenários para o protagonismo das diferenças e impulsionou o discernimento das manipulações políticas por intermédio da educação. Esse é o tempo do empoderamento e da independência dos dogmas religiosos e econômicos. Esse é o tempo em que a globalização proporcionou novos conceitos de ser e estar no mundo. Novas identidades, novas preferências, novas tendências fundam o pluralismo e implodem velhos conceitos dualistas. Isso é perigoso para quem tem o poder e pretende expandir suas propriedades, com o intuito de consolidar novas formas de dominação.
Nesse contexto, os grandes conglomerados financeiros ocupam os espaços políticos e ressuscitam velhas oligarquias. Com um peso secularista acachapante, os donos do capital invocam a bestialidade humana para estancar os surtos libertários das inúmeras narrativas históricas atuais e seus sujeitos, que se pautam nos direitos humanos e na condição plena de gerenciar seus próprios destinos. Para tanto, eles usam as velhas armas da religião, para controlar comportamentos; se apossam dos aparatos midiáticos e celebram as supremacias raciais e sociais, para aliciar ignorantes, que se tornam soldados imbecilizados para defender ações inescrupulosas. Nos últimos cinco dias foi possível registrar esse novo fenômeno de instrumentalização da hediondez humana para fins de manutenção do poder dos que já são mais poderosos do que o próprio poder, aqui mesmo no Brasil.
O fantoche que ocupa a presidência, em cinco dias, agrediu o povo brasileiro e escarrou na cidadania em vários momentos de monstruosidade. Ironizou o massacre de 58 presidiários no Pará; insultou de forma vil a memória das famílias que tiveram parentes mortos pela tortura do regime militar que ele idolatra; debochou acintosamente das nações indígenas, que sofrem um extermínio sistemático de mineradores e quadrilheiros do agronegócio; e, em nome desses grandes produtores rurais, criticou a emenda constitucional 81, que determina a expropriação de terras em que o trabalho escravo seja detectado. Eis a fala desse pinico: “ninguém é a favor de trabalho escravo”. Mas, dirigindo-se ao ministro Ives Gandra, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), afirmou: “Alguns colegas de vossa excelência entendem que o trabalho análogo à escravidão também é escravo”. Seguindo a simbologia e os mitos das sociedades cristãs, quem defende isso não é diferente, em nada, de Lúcifer, o anjo caído, senhor dos precipícios.
Por Marcos Leonel – Cidadão do Mundo
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