Foram seis dias de festas em todo o Brasil, carnaval é a festa do povo e todos têm o direito de se divertir. Tudo bem que há os que prefiram a clausura em retiros espirituais, estão certos. Há os que preferem o fugere urbem aos sítios mais remotos em busca de uma paz para o descanso, perfeito. E a maioria gosta mesmo é da folia, da magia, da fantasia, da ilusão do carnaval. E assim foi.
Especialmente no Crato, acompanhei pelas redes sociais e in loco os eventos e gostei muito. O tradicional desfile das virgens muito organizado e festivo, nem a ameaça de chuva atrapalhou, ao contrário, abrilhantou, refrescando os foliões que se compraziam naquela alegria descontraída. Estava aberto o carnaval cratense.
Vale destacar que a memória dos velhos carnavais cratenses teve sua soca descoberta, retirada de entre as ervas daninhas que insistiam em oprimi-la, e doravante promete até a volta dos desfiles. A homenagem à dona Lourdinha orgulhou toda a comunidade do Alto da Penha, e creio em que todos os que ainda carregam em seus corações lembranças de antigos carnavais adormecidos na primeira década do século corrente. Eu sei, houve quem perguntasse “por que não a homenagem ao mestre-sala?” Eu respondo por minha conta e risco:
— Porque se tratava de uma homenagem à força da mulher cratense, o reconhecimento da persistência e constância das mulheres cratenses na manutenção da cultura. E isso não diminui a importância dos homens.
Ano que vem tem mais, quem sabe um homem seja o escolhido. De momento foi uma homenagem muito justa, justíssima, Dona Lourdinha atravessou três décadas de carnaval empunhando aquele estandarte alvo e azul, com a coragem e a elegância de uma dama operária que sabe digna de ser feliz. Nestas mesmas três décadas a corte do mestre-sala foi realizada por três ou quatro brincantes de seu Zé Neguim, passando por Paulo, irmão de Lourdinha, depois Antonio Filho, Cabra e por fim seu filho, Daniel, que a acompanhou neste cortejo de homenagem. Ademais foi o resgate mais que necessário da memória das escolas de samba. E o que se aguarda para o ano é o retorno dos desfiles. As comunidades estão cansadas dessa rivalidade sobre as disputas do passado. Queremos avenida já!
Adoniran Barbosa, ícone do samba brasileiro em certa letra fala que já foi uma brasa, e que precisava de apenas um sopro para a chama voltar. Pois eis que faço nosso esse verso: as escolas de samba do Crato, Operários do Samba, Unidos de São Sebastião, Unidos de São Miguel, Imperatriz do Seminário, Espalha Brasa, Vitorino show, À prova de fogo, e outras mais que em anos anteriores abrilhantaram o carnaval cratense, essas escolas que hoje são memórias, também são brasas embaixo das cinzas do saudosismo que se assopradas, reacendem e ressurgem fênix carnavalesca para fazer a festa do povo.
Talvez seja delírio, coisa de carnaval, talvez não. É certo que este é um desejo de quem viveu os carnavais do passado, com os desfiles que longe do glamour dos desfiles do eixo Rio-São Paulo, televisivos, por outro lado, não deixava nada a desejar em paixão, alegria e raça ao defender as cores de sua escola e representar sua comunidade. Não custa nada sonhar, que voltem os antigos desfiles das escolas de Samba do Crato!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri