Não se está nunca preparado para a notícia da morte. Mesmo que a vida nos ensine, desde cedo, que tudo um dia acaba, ainda assim tropeçamos quando a ausência bate à porta. A morte de Juliana Marins foi dessas que chegam rasgando o peito, sem aviso, sem lógica, sem consolo. Ela partiu do outro lado do mundo, numa paisagem que parecia sonho, e caiu de repente num vazio que agora é nosso.
Juliana era daquelas pessoas que carregavam o mundo nos olhos. Vivia com sede de paisagens novas, de culturas diferentes, de desafios vertiginosos. Subia vulcões como quem sobe a própria coragem. E foi num desses cumes que a vida resolveu parar. Um passo em falso, uma pedra solta, um instante – e o tempo se desfez. Ela caiu. E com ela, caíram os planos, os futuros possíveis, os abraços que não serão mais dados.
O que resta, quando alguém vai assim, sem despedida? Resta o eco das risadas nas lembranças de quem a conheceu. Resta uma coleção de fotos com legendas alegres, agora doídas. Resta o vazio onde havia a voz dela. E uma saudade que não cabe em molduras, que não se explica em palavras.
A saudade é como um sussurro insistente: lembra da risada dela? Do jeito como apertava os olhos quando contava uma história engraçada? Do modo espontâneo com que tocava o ombro de alguém ao falar? E a gente lembra. Lembra como se o tempo não tivesse se rompido. Como se, num passe de mágica, Juliana ainda estivesse ali, preparando a próxima viagem.
Mas não está. E aceitar isso é uma ferida que cura mal. Porque a morte, quando leva gente cheia de vida, não leva só uma pessoa: leva também um pedaço da gente. Um riso nosso que era dela. Uma tranquilidade que morava na certeza de que ela estava por aí, respirando o mundo.
Agora, resta uma paisagem que Juliana não vai mais ver. Um bilhete de embarque que nunca será usado. Amigos que não saberão como se despedir direito. E uma família que vai tentar, todos os dias, transformar dor em memória bonita — o tipo de memória que aquece em vez de ferir.
Talvez Juliana, do alto daquele vulcão, tenha visto uma beleza que a gente não pode imaginar. Talvez o último suspiro tenha vindo misturado com o vento das alturas, com a vastidão da paisagem. E talvez, só talvez, haja alguma poesia nesse fim abrupto, como se a natureza tivesse chamado de volta uma de suas mais corajosas filhas.
A saudade fica. Dói, sim. Mas também é testemunha do amor vivido. E enquanto falarmos de Juliana, enquanto seus passos ecoarem em nossas lembranças, ela continua aqui — no silêncio que ficou, no céu que ela tanto buscava, na eternidade que é lembrar de alguém com o coração inteiro.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri