O velho plantava roseiras. A cada nova casa que estabelecia por algum tempo o seu corpo, preparava a terra, remexia com as mãos o assento das rosas. Foram muitas casas, algumas despedidas, quando era possível.
Em cada casa, o velho era um escondido, mas ainda nutria esperança. Não podia andar livremente pelas ruas, tinha que abocanhar o riso e o choro, falar só baixinho. Passava a maior parte do dia se embrenhando em leituras, as que conseguiam chegar até a casa. Ler sobre a partilha do pão e da terra era um ato proibido.
Paciente, remexia a terra, olhos atentos, primeiro os botões, depois as rosas e depois outras rosas, porque elas morrem, ou melhor dizendo, se transformam e é preciso continuar plantando.
O velho plantou muitas rosas, morreu. Elas continuam nascendo em tempos de perigo.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri