Li nas redes sociais que certa vez um estudante perguntou à Margaret Mead, renomada antropóloga estadunidense, qual seria, na visão dela, os primeiros indícios de civilização em uma cultura primitiva. O jovem possivelmente esperava que ela desse uma resposta técnica que remetesse a ferramentas, utensílios, armas ou arte, entretanto, a professora o surpreendeu ao afirmar que este primeiro sinal de civilização para ela teria sido “um fêmur quebrado… e depois curado.”
Sou um destes que acompanham as redes sociais e tenho visto com frequência algumas postagens que trazem uma narrativa e ao final trazem também uma legenda “isso não é sobre tal assunto”, tipo algo que trate de algum aspecto que envolva cavalos, mas que o autor diz não se tratar de cavalos. O que podemos interpretar como uma alegoria direta sobre determinados comportamentos humanos.
Uno aqui as duas postagens para trazer uma reflexão: se o primeiro indício de civilização foi um osso fraturado e curado, e como ela mesma justificou que se houve a lesão, houve a impossibilidade de lutar pela sobrevivência, se impossibilitado, houve ajuda, se houve ajuda, podemos afirmar que se trata da epigênese da empatia, ou do amor, ou da fraternidade. Houve evolução. Mas então em que pé ficou esse processo há tantos anos iniciado? Se o que vemos, desde que o homem se diz civilizado numa concepção moderna de civilização, são guerras e destruição do homem pelo homem?
No século 21 em cena, a selvageria humana das mais variadas formas, seja pela guerra Ucrânia x Rússia, seja pelo massacre contra os Palestinos em Gaza orquestrado por Israel e financiado pelo Ocidente, ou ainda pela nossa guerra tupiniquim contra as populações pobres em todos os estados da União. No final das contas tudo por conta do Capitalismo, esse sistema cruel que supera a selvageria da natureza, aliás, vitimando a própria natureza, sistema que transforma qualquer forma de progresso em máquina de destruição. Bertran Russel enfatizou certa feita que a mudança era inevitável, mas o progresso era controverso, o mundo mudou nestes três milênios, mas a grandeza do progresso a que a humanidade chegou, tem destruído a humanidade, porque esse progresso es “está impregnado de egoísmo. E uma humanidade civilizada implica alteridade, empatia e amor ao próximo, porque segundo Meada verdadeira grandeza começa onde termina o egoísmo.”
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri