Antes do galo cantar. Almofada entre as pernas. Os braços abraçando os lençóis. Sorrisos entre os olhos fechados. A cabeça andava na Chapada Diamantina, talvez o desejo de encontrar lugares e pessoas encantadas, brincar com os bichos. Os tamanduás andavam entre os vilarejos como os cachorros andam nos mercados.
Meu pai anota sonhos para tentar adivinhar os números da sorte.
Keila, que é de Minas Gerais, mas tem cara de Chapada Diamantina, não aparecia no sonho. Uma moça de cabelos curtos, que não era daquele lugar, andava comigo, cutucando conversas e abrindo sorrisos. Seguíamos, fazendo a deriva, tentando encontrar o ponto exato, a hora certa, o caminho mágico.
Pulei da rede. Hoje é segunda-feira, menos de dez milhões de coisas para fazer. A cabeça fervilhando. A moça que leva o nome de Paz no sobrenome já me havia encarregado de algumas tarefas, tudo organizado. Ovos cozidos na mesma água do café: é mais rápido.
Tomo café enquanto desenrolo as lembranças da noite anterior. Choveu, e as plantas ainda estão molhadas. Gatos devem ter beijos secos; bom mesmo são os molhados.
Enrolei alguns trabalhos coloridos, quero expor os desenhos das minhas caras na escola. Afinal, a escola é careta e precisa de rebeldia para pensar.
Os galos começam a cantar. Segunda-feira, ainda bem que a rotina voltou.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri